Ernesto Araújo e Ricardo Salles discutem desmatamento com enviado de Biden para o clima

Videoconferência com americano toca em ponto de divergência entre governos dos dois países

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São Paulo

Os ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se reuniram por videoconferência nesta quarta (17) com o enviado especial para o clima dos EUA, John Kerry.

Segundo nota divulgada pelo governo federal brasileiro, os três abordaram possibilidades de cooperação e diálogo entre os dois países nas áreas de mudança climática e combate ao desmatamento.

O enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, durante entrevista coletiva na Casa Branca
O enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry, durante entrevista coletiva na Casa Branca - Mandel Ngan - 27.jan.21/AFP

“Acordou-se aprofundar o diálogo bilateral nas áreas mencionadas, com processo estruturado em encontros frequentes, em busca de soluções sustentáveis e duradouras aos desafios climáticos comuns”, diz a nota.

Em publicação no Twitter após o encontro, o chanceler brasileiro afirmou que “o diálogo e cooperação sobre meio ambiente e clima serão mais um elemento agregador na parceria Brasil-EUA que continuamos construindo”.

O tema ambiental é um ponto de divergência entre o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e o americano, Joe Biden.

O democrata é crítico da destruição da Amazônia e levou o assunto para sua campanha. Então candidato, afirmou que “a floresta tropical no Brasil está sendo destruída” e disse que se juntaria a outros países, se eleito, para oferecer US$ 20 bilhões (cerca de R$ 108 bi) à preservação do bioma. “Parem de destruir a floresta. Se não fizer isso, você terá consequências econômicas significativas”, afirmou. Bolsonaro criticou a postura, que chamou de “lamentável”.

No fim de janeiro, Biden também anunciou um pacote de medidas para o clima, estimado em US$ 2 trilhões (cerca de R$ 11 trilhões), em que cita a proteção da floresta amazônica, mas não há planos iniciais de sanções ao Brasil.

A ordem na Casa Branca é apostar em um plano colaborativo para a proteção da floresta, antes de aplicar qualquer punição ao Brasil. Até segunda ordem, o Planalto seguirá tratado como aliado dos americanos.

Em um telefonema entre Ernesto e o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na quinta-feira (11), o presidente brasileiro foi convidado a participar da cúpula sobre mudanças climáticas que Biden deve organizar em 22 de abril, segundo interlocutores. Ernesto disse ao americano que o líder brasileiro pretende fazer parte do evento.

A vitória de Biden foi um revés para Bolsonaro, que apoiou abertamente a reeleição de Donald Trump na corrida pela Casa Branca.

O líder brasileiro foi um dos últimos a cumprimentar Biden pela vitória e, poucos dias antes da posse, deu declarações mal vistas por aliados do americano.

Bolsonaro repetiu acusações de Trump —sem provas— de que houve fraude no pleito dos EUA. Em outra frente, Ernesto se referiu aos manifestantes pró-Trump que invadiram o Congresso americano como "cidadãos de bem".

Após a posse de Biden, no entanto, o tom do governo brasileiro mudou, e Bolsonaro passou a enviar sinais de conciliação e moderação.

No dia da posse nos EUA, o presidente do Brasil enviou uma carta a Biden na qual defendeu parcerias entre os dois países "em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente".

"Estamos prontos, ademais, a continuar nossa parceria em prol do desenvolvimento sustentável e da proteção do meio ambiente, em especial a Amazônia, com base em nosso Diálogo Ambiental, recém-inaugurado. Noto, a propósito, que o Brasil demonstrou seu compromisso com o Acordo de Paris com a apresentação de suas novas metas nacionais", escreveu Bolsonaro.

A pressão nos EUA, porém, é forte. No início de fevereiro, um documento elaborado por professores de universidades e diretores de ONGs internacionais foi entregue a membros da administração americana. O informe defende o congelamento de acordos, negociações e alianças políticas com o Brasil enquanto Bolsonaro estiver na Presidência.

No Itamaraty, o dossiê tem sido tratado como uma proposta elaborada fora do governo americano, mas ele reforçou a necessidade de fazer chegar a Washington os argumentos do governo Bolsonaro.

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