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Editor do Bild, maior jornal europeu, sai de licença após denúncias de assédio

Funcionárias acusam Julian Reichelt de abusar de sua posição de autoridade e criar um ambiente hostil

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The New York Times

O editor-chefe do Bild, o maior jornal da Europa e uma força influente na política e na sociedade alemãs, tirou licença do cargo enquanto um escritório de advocacia investiga acusações contra ele. A informação é da editora proprietária do jornal.

Julian Reichelt, o editor em questão, nega as acusações de conduta imprópria, segundo a Axel Springer, editora do Bild. A empresa disse não ter “evidências claras” de conduta imprópria, mas contratou o escritório Freshfields para apurar as acusações, sem especificar quais são.

As acusações foram noticiadas inicialmente pela revista Spiegel, que citou meia dúzia de funcionárias que haviam trabalhado para a Bild e denunciado Reichelt por coerção. A Spiegel não identificou as profissionais. A revista disse que elas acusaram Reichelt de abusar de sua posição de autoridade e criar um ambiente de trabalho hostil, mas não deu mais detalhes.

Julian Reichelt, editor do Bild, maior jornal europeu
Julian Reichelt, editor do Bild, maior jornal europeu - Niels Starnick - 20.out.202/Bild

“Para garantir que o processo de investigação possa ser levado a cabo sem perturbações e que a equipe editorial possa trabalhar sem obstáculos maiores”, disse a Springer, Reichelt “pediu ao conselho de direção da Axel Springer para licenciá-lo de suas funções até as acusações terem sido apuradas”.

Alexandra Würzbach, editora da edição dominical do Bild, vai assumir as funções de Reichelt interinamente, informou a empresa.

O movimento MeToo atingiu a Europa com muito menos força do que os Estados Unidos. São relativamente raros os casos de homens poderosos na Europa derrubados por denúncias de conduta imprópria em relação a mulheres.

A Alemanha e a maioria dos países europeus protegem as identidades de acusados em processos legais, dificultando a divulgação pela mídia de casos de assédio.

Em muitos processos dessa natureza os tribunais têm adotado posição contra as acusadoras. Em 2019, um tribunal francês mandou a líder do equivalente francês ao movimento MeToo pagar indenização por danos a um ex-executivo de televisão que ela acusara de assediá-la de modo humilhante e obsceno.

Com circulação de 1,2 milhão de exemplares impressos, o Bild é o maior jornal da Europa, mas, como a maioria das publicações, vem enfrentando uma queda grande em sua circulação impressa. Em 2011 o jornal em papel vendia em média 2,8 milhões de exemplares, segundo o site do Bild, sendo que em 1965 a circulação impressa diária era de 4 milhões.

Com suas artes coloridas e ênfase em escândalos, celebridades e esportes, o Bild (o nome significa “imagem”) é o jornal diário popular da Alemanha. Seus leitores são na maioria homens. Até 2012, o jornal trazia uma foto de uma mulher de topless em sua primeira página diária. Imagens de “Bild Girls” (meninas Bild) seminuas ainda fazem parte da versão online.

Diferentemente dos tabloides britânicos de direita, o Bild é relativamente apartidário, mas nem por isso deixa de ser opinativo, e segue um estilo tabloide agressivo, apesar de ser publicado em formato standard.

Devido a seu alcance, o Bild frequentemente é o veículo usado por políticos de destaque para se comunicar com os eleitores, por meio de entrevistas exclusivas ou furos.

Ex-correspondente de guerra que se tornou editor-chefe do Bild em 2017, Reichelt, 40, também escrevia frequentes artigos de opinião. Recentemente havia criticado o que caracterizou como a má gestão da crise da pandemia pelo governo alemão.

Neste mês ele criticou as autoridades por multarem pessoas que corriam sem usar máscaras, ao mesmo tempo em que autoridades federais e estaduais cometiam trapalhadas na distribuição de vacinas.

A Axel Springer, que publica a Bild, é uma das maiores empresas de mídia europeias. Ela também é dona do jornal diário alemão Welt, do site noticioso Business Insider e da Politico Europe.

A KKR, firma de capital privado, é dona de 36% das ações da Springer e ocupa três das nove cadeiras no conselho de supervisão da empresa. Friede Springer, viúva do fundador Axel Springer, ainda é uma das principais acionistas e membro do conselho.

A Springer disse em comunicado no sábado (13) que a investigação sobre Reichelt vai incluir “uma avaliação da credibilidade e integridade de todas as partes envolvidas”. “Prejulgamentos baseados em rumores são inaceitáveis para a cultura corporativa da Axel Springer”, acrescentou.

Tradução de Clara Allain

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