Em meio a 'escândalo das máscaras', partido de Merkel perde votos em 2 estados

Eleições regionais eram vistas como teste para a CDU em ano de pleito nacional, que vai escolher sucessor da premiê alemã

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Bruxelas

Abalado por escândalos envolvendo a compra de máscaras faciais durante a pandemia de Covid-19, o partido da premiê alemã, Angela Merkel, sofreu recuos em dois importantes estados, mostram projeções feitas ao final das eleições deste domingo (14).

A CDU (União Democrata-Cristã), partido conservador de centro-direita do qual faz parte a premiê, perdeu três pontos na região de Baden-Würtemberg, ficando em segundo lugar, com 24% dos votos. Na Renânia-Palatinado, a CDU viu sua votação despencar seis pontos, para 26%, segundo a emissora pública ARD.

Se confirmadas as previsões, o partido de Merkel terá tido seu pior resultado nas duas regiões. Os pleitos foram acompanhados com atenção, porque este é ano de eleição parlamentar na Alemanha, na qual será escolhido o sucessor de Merkel, que deixa o cargo após 16 anos de governo.

Em Baden-Württemberg, estado industrial berço de grandes companhias como Daimler, Bosch e Porsche, o Partido Verde venceu mais uma vez, com 32% dos votos, segundo as previsões.
Os verdes governavam em coalizão com a CDU, mas o resultado deste ano, o melhor da sigla até agora, pode empurrá-lo para uma união com os democratas livres (liberais) do FDP e com o Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, numa coligação chamada na Alemanha de “semáforo” —devido às cores dos três partidos, verde, amarelo e vermelho, respectivamente.

Na Renânia-Palatinado, o SPD manteve a liderança, com cerca de 34,5% dos votos. O estado também era governado por uma coligação “semáforo”, que deve ser renovada, segundo analistas.

Nos dois estados, o partido de Merkel concorreu com candidatos sem o mesmo peso de seus principais oponentes —Winfried Kretschmann, que, à frente dos verdes, governa Baden-Württemberg há dez anos, e Malu Dreyer, atual governadora da Renânia-Palatinado pelo SPD.

A CDU mergulhou numa crise depois que parlamentares foram acusados de receber propinas por recomendar fabricantes de máscaras ao governo federal ou por intermediar negócios entre empresas para aumentar as encomendas dos equipamentos de segurança.

Nikolas Löbel, da CDU, renunciou após a divulgação de que sua empresa ganhou comissão de 250 mil euros (R$ 1,65 milhão) na aquisição dos equipamentos de segurança. Outro parlamentar do bloco governista, Georg Nüsslein, da CSU, está sendo investigado por corrupção também por lucros com a compra de máscaras de proteção. Ele saiu do partido, mas não renunciou a seu mandato.

Como consequência do escândalo, a CDU exigiu que os 240 membros da bancada assinassem uma declaração garantindo não ter lucrado com o combate à pandemia de Covid-19.

A lentidão da campanha de vacinação também embaçou o brilho da liderança de Merkel durante a pandemia de Covid-19. Após sair da primeira onda de contágio como um dos países mais bem-sucedidos na contenção da doença, a Alemanha sofreu um novo repique de casos e mortes, precisou reimplantar restrições impopulares e, apesar de ser fabricante de vacinas, não tem conseguido acelerar a administração de doses.

Até este domingo, a maior economia da Europa havia dado 10,6 doses por 100 habitantes, contra quase 40/100 do Reino Unido, 30/100 dos Estados Unidos, 14/100 da Dinamarca e mais de 11/100 na Espanha e em Portugal.

O tropeço nas eleições deste domingo não afeta, em princípio, a liderança nacional da CDU no pleito para o Parlamento nacional, em setembro. O partido de Merkel tem uma vantagem de 15 pontos, na média, nas pesquisas de intenção de voto e deve manter a chefia do próximo governo.

Mas o encolhimento eleitoral reduz as chances do novo presidente do partido, Armin Laschet, obter a indicação para concorrer a chanceler nas eleições de setembro. Escolhido como novo líder da CDU em janeiro, Laschet não é um político de grande popularidade e já enfrentava a sombra do atual chefe da CSU, Markus Söder, primeiro-ministro da Baviera.

Com a popularidade em alta entre os eleitores, Söder também tem aparecido na frente de outros políticos da CDU na preferência dos membros do partido para se tornar premiê. Até hoje, porém, a CSU, “sócia minoritária” da CDU, nunca venceu uma indicação para concorrer à chefia do governo.

Além da dúvida sobre quem será o candidato do partido de Merkel à sua sucessão, não há certeza sobre a composição de forças que sairá das urnas em setembro. Até então, a CDU vinha se coligando em nível nacional com os sociais-democratas, mas o crescimento expressivo do Partido Verde desequilibrou a balança política.

Segundo analistas, uma recuperação de votos do SPD poderia elevar as chances de que os Verdes procurassem uma coligação à esquerda, com os social-democratas e o Die Linke (sucessor do Partido Comunista da Alemanha Oriental).


ENTENDA AS ELEIÇÕES

Qual a importância das eleições estaduais?

Os pleitos são vistos como um primeiro teste para as eleições nacionais, que ocorrem em setembro e devem definir o sucessor de Angela Merkel no cargo de premiê da Alemanha

Quais os principais partidos nas disputas deste domingo?

A CDU (União Democrata-Cristã), partido conservador de centro-direita da chanceler Angela Merkel, o Partido Verde e o Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda. São também os maiores partidos em nível nacional

O que aconteceu com o partido de Merkel?

A CDU perdeu fatia eleitoral nos dois estados, e especula-se que possa deixar de participar da coligação governista em Baden-Würtemberg

Por que a CDU perdeu votos nesses estados?

Além de concorrer com candidatos fortes na política regional, o partido de Merkel enfrenta um escândalo de corrupção em nível nacional. Parlamentares do bloco governista são acusados de receber propinas em contratos para a compra de máscaras para combater a pandemia de Covid-19 durante a primeira onda da doença, quando elas estavam em falta.

Insatisfação com a lentidão da campanha de vacinação também pode ter desgastado o governo

O recuo da CDU nos dois estados indica uma queda também nas eleições nacionais?

Não necessariamente, e a CDU tem uma vantagem larga nas pesquisas de intenção de voto mais recentes para as eleições de setembro. Os democratas-cristãos têm em média 33% do eleitorado, seguidos pelos verdes (18%) e pelos sociais-democratas (16%).

O enfraquecimento do partido de Merkel e um fortalecimento dos outros dois, porém, poderia mudar o cenário das coligações. O governo atual é uma coalizão entre CDU e PSD, mas há quem defenda uma coligação com o Partido Verde. Além disso, democratas livres liberais, com 9%, e Die Linke (ex-Partido Comunista), com 8%, também podem ser fiéis da balança em diferentes composições.

Dos partidos com votos suficientes para obter cadeiras no Parlamento, o único que não deve participar de coligações é a AfD, de direita radical (10%)

Qual o impacto das eleições regionais na escolha do candidato da CDU ao cargo de premiê nas eleições de setembro?

Normalmente, o presidente da CDU costuma ser indicado como candidato a premiê do bloco formado pelo partido de Merkel e por sua sócia minoritária, a CSU, da Baviera. Mas o atual líder da CDU, Armin Laschet, eleito presidente da sigla em janeiro, já enfrentava a concorrência do chefe da CSU, Markus Söder, na preferência de seus correligionários.

Um abalo de força política da CDU pode comprometer ainda mais suas pretensões de ser candidato a chefe do governo

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