Novo chanceler opta por 'transição suave' e mantém auxiliares de Ernesto

Carlos França deve trocar secretário-geral e chefe de gabinete, mas preservar demais secretários

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Brasília

​O novo ministro das Relações Exteriores, Carlos França, decidiu realizar mudanças pontuais no segundo escalão do Itamaraty e preservar a maioria dos secretários da gestão de Ernesto Araújo.

Na sua chegada à chefia da pasta, França optou por nomear um novo secretário-geral —o segundo posto mais importante no ministério— e trocar a chefia de gabinete.

O novo chanceler, Carlos Alberto França, na cerimônia de posse, em Brasília
O novo chanceler, Carlos Alberto França, na cerimônia de posse, em Brasília - Marcos Corrêa - 6.abr.20/Presidência da República

O chanceler escolheu o embaixador Fernando Simas, representante permanente do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos), para ser o secretário-geral do Itamaraty. Ele também convidou o embaixador Achilles Zaluar para ser seu chefe de gabinete.

Mas descartou realizar uma ampla mudança nos demais cargos que auxiliam o ministro, ao contrário do que o próprio Ernesto realizou quando tomou posse. A decisão de preservar a maioria da equipe atual​, ao menos no período inicial, foi comunicada por França aos auxiliares em reunião nesta terça-feira (6).

Entre outras estruturas, o ministério das Relações Exteriores atualmente é dividido em sete secretarias.

Três abarcam regiões geográficas: negociações nas Américas; no Oriente Médio, Europa e África; e na Ásia, Pacífico e Rússia. Há ainda as secretarias de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos; Soberania Nacional e Cidadania; Gestão Administrativa; e Comunicação e Cultura.

De acordo com interlocutores, França decidiu manter todos os secretários, com exceção da Gestão Administrativa. O novo titular da secretaria deve ser o embaixador Pedro Wollny, que foi chefe de gabinete de Ernesto e é fortemente ligado à gestão anterior. A atual chefe do setor administrativo, embaixadora Cláudia Buzzi, deve ser deslocada para a assessoria de relações com o Congresso Nacional.

Como novo secretário de Gestão Administrativa, Wollny permanecerá próximo do ex-chanceler.

Após sua demissão, Ernesto foi lotado num posto vinculado à secretaria administrativa. Pessoas que acompanham o processo de transição dizem que o ex-ministro deve permanecer despachando na sede do Itamaraty até que o presidente Jair Bolsonaro decida para onde enviá-lo.

Como Ernesto deixou a chancelaria em guerra aberta com o Senado, sua indicação para uma embaixada hoje é considerada impossível. Por isso, o governo avalia designá-lo para um cargo no exterior que não dependa de aval do Legislativo, como representante do Brasil junto à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

A indefinição do futuro do ex-ministro gera apreensão entre diplomatas, que temem que ele continue tentando influenciar decisões importantes da instituição.

Ernesto também tem sido apontado por interlocutores como uma das razões pelas quais França não quis promover maiores mudanças na estrutura do Itamaraty. Havia a expectativa de que ele mudasse o organograma do ministério, eliminando por exemplo a secretaria de Soberania Nacional e Cidadania, responsável por impulsionar a pauta conservadora dos tempos de Ernesto. O departamento foi criado pelo ex-chanceler em 2019, como parte de uma ampla reformulação implementada por ele no ministério.

Interlocutores destacam que Ernesto foi forçado a pedir demissão por pressões externas, principalmente de senadores. Mas o ex-ministro continua bem cotado com Bolsonaro e com os principais expoentes da ala ideológica do governo, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e o assessor para assuntos internacionais Filipe Martins.

Uma ampla reorganização do ministério, dizem diplomatas que seguem a transição, seria interpretada como um rompimento brusco com a linha adotada por Ernesto, o que geraria oposição de Eduardo e Martins. Além do mais, o segundo escalão do Itamaraty é formado por diplomatas de carreira, com histórico de serviços em administrações de diferentes governos. Dessa forma, dizem interlocutores, a manutenção da equipe não significa um compromisso com as ideias do ex-chanceler.

De acordo com pessoas próximas, França pode realizar mudanças num momento posterior, ainda não definido. Uma das possíveis alterações é a substituição do secretário de Soberania Nacional e Cidadania, Fabio Marzano, que chegou a ser rejeitado pelo Senado para chefiar a missão do Brasil junto à ONU (Organização das Nações Unidas) em Genebra.

Outra substituição que pode ocorrer é a saída da embaixadora Márcia Donner da secretaria de Ásia, Pacífico e Rússia. As duas secretarias são estratégicas nas prioridades elencadas pelo próprio França em seu discurso de posse. Marzano cuida, entre outros temas, do departamento de Meio Ambiente do Itamaraty, tema-chave nas relações do Brasil com os Estados Unidos.

A secretaria agora comandada por Donner, por sua vez, abrange os principais fornecedores de vacinas e insumos contra a Covid-19, como China, Índia e Rússia.

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