Israel mata comandante da Jihad Islâmica em Gaza, e conflito entra na 2ª semana

Número de palestinos mortos subiu para 212; Biden pediu cessar-fogo

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Gaza e Tel Aviv | Reuters

Israel matou nesta segunda-feira (17) um alto comandante do grupo radical Jihad Islâmica na Faixa de Gaza, em bombardeios aéreos que também tinham como alvo, segundo seu Exército, túneis usados pelo Hamas. Enquanto isso, grupos islâmicos voltaram a lançar foguetes contra cidades israelenses.

A pior onda de violência na região em anos entrou na segunda semana sem nenhum sinal de que vá arrefecer. Nesta segunda, o presidente dos EUA, Joe Biden, reafirmou que Israel tem direito a se defender, mas pediu um cessar-fogo na região.

Fumaça após bombardeio em porto da cidade de Gaza
Fumaça após bombardeio em porto da cidade de Gaza - Mahmud Hams/AFP

Autoridades de saúde de Gaza afirmam que o número de mortos subiu para 212, incluindo 61 crianças e 36 mulheres. Dez pessoas foram mortas em Israel, incluindo duas crianças, diz o governo do país.

A morte de Hussam Abu Harbeed, comandante militar da Jihad Islâmica para o norte de Gaza, provavelmente vai gerar uma resposta dura por parte desses militantes que lutam ao lado do Hamas, o grupo que comanda a região.

O Exército israelense afirmou, em um comunicado, que Harbeed esteve "por trás de vários ataques terroristas com mísseis anti-tanques contra civis israelenses”.

Logo após a morte dele, a Jihad Islâmica afirmou que disparou foguetes contra a cidade israelense de Ashdod, e a polícia de Israel disse que três pessoas ficaram levemente feridas.

Também nesta segunda, ao menos três palestinos foram mortos em um ataque aéreo contra um carro na cidade de Gaza, afirmam médicos, após uma noite de fortes bombardeios israelenses. Outro palestino foi morto em um ataque aéreo contra a cidade de Jabalya, informaram médicos. E mais sete morreram em outro bombardeio, no começo da noite de segunda.

Segundo o Exército de Israel, militantes de Gaza dispararam cerca de 60 foguetes contra cidades do país ao longo da madrugada, menos que os 120 e 200 das duas noites anteriores.

Israel atacou o que seus militares dizem ser 15 quilômetros de túneis subterrâneos usados pelo Hamas, após foguetes terem sido disparados de Gaza contra as cidades israelenses de Beersheba e Ashkelon. Nove residências pertencentes a comandantes do Hamas em Gaza também foram atingidas.

O Exército israelense disse que ao menos 130 combatentes palestinos foram mortos e que cerca de 3.150 foguetes foram disparados contra seu território a partir de Gaza desde a escalada do conflito —a maioria foi interceptada.

O Hamas afirma que seus ataques são uma retaliação contra “a agressão persistente de Israel contra civis”. O grupo iniciou os atuais confrontos no dia 10, após semanas de tensão em torno de um processo judicial para despejar quatro famílias palestinas em Jerusalém Oriental e em retaliação aos confrontos entre a polícia israelense e palestinos na mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do islã.

Israel reivindica toda Jerusalém como sua capital, um status geralmente não reconhecido por grande parte da comunidade internacional, enquanto os palestinos querem Jerusalém Oriental —capturada pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias, em 1967— como a capital de um futuro Estado.

​Dentro do território israelense, o conflito foi acompanhado de violência entre as comunidades mistas de judeus e árabes do país, com sinagogas atacadas e lojas de propriedade de árabes e judeus, vandalizadas. Também houve um aumento de confrontos na Cisjordânia ocupada. Ali, ao menos 15 palestinos foram mortos por tropas israelenses desde sexta-feira, a maioria dos quais durante confrontos.

Reação internacional

Nesta segunda, Biden telefonou pela terceira vez para Netanyahu e defendeu um cessar-fogo. O presidente americano reiterou seu apoio ao direito de Israel a se defender, mas pediu que o país faça de tudo para evitar atingir civis.

Biden está sendo pressionado por congressistas de seu próprio partido a agir de forma mais incisiva para conter a crise no Oriente Médio. No domingo, um grupo de 28 senadores fez um pedido pelo fim dos ataques dos dois lados, para conter a perda de vidas civis.

"Nosso cálculo, neste ponto, é que ter conversas nos bastidores é a abordagem mais construtiva que podemos ter", disse Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca.

Os EUA também buscam conversar com o Egito, que faz fronteira com Gaza, para encontrar saídas para a crise. Segundo a agência Reuters, há planos do governo americano para ajudar na reconstrução de Gaza.

A destruição do prédio que abrigava a imprensa internacional em Gaza, no sábado (15), foi considerada como um erro estratégico pelo governo Biden, segundo uma fonte ouvida pela agência Reuters.

Nesta segunda-feira, os Estados Unidos solicitaram a Israel que dê detalhes" sobre a justificativa para o ataque. O Hamas negou ter escritórios no edifício derrubado. "Essas alegações são falsas. É uma tentativa de justificar o crime de mirar uma torre civil", disse Fawzi Barhoum, porta-voz do grupo.

Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, não quis se pronunciar sobre a legitimidade do ataque, dizendo não ter visto informações compartilhadas pelas autoridades israelenses. Ele pediu a Israel e aos palestinos que "protejam os civis e especialmente as crianças", acrescentando que Israel, "como uma democracia," tem um "dever especial" nesse sentido. "Continuaremos fazendo uma diplomacia ativa para pôr fim a este ciclo de violência" e "estamos prontos para dar nosso apoio, se as partes quiserem alcançar um cessar-fogo", declarou.

Blinken reiterou o apoio dos Estados Unidos ao direito de Israel de "se defender", estimando que "não há qualquer equivalência possível entre um grupo terrorista que dispara foguetes às cegas contra civis e um país que se defende destes ataques". "Pedimos ao Hamas e aos outros grupos em Gaza que ponham fim, de maneira imediata, aos ataques com foguetes", disse.

Hady Amr, enviado dos EUA, chegou a Israel na sexta-feira para negociações, e o presidente americano, Joe Biden, telefonou na noite de sábado tanto para o presidente israelense, Binyamin Netanyahu, quanto para o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas.

Qualquer mediação, no entanto, é complexa devido ao fato de os EUA e a maioria das potências ocidentais se recusarem a dialogar com o Hamas, que consideram uma organização terrorista. Abbas, que pertence ao Fatah, rival do grupo radical islâmico, tem sua base na Cisjordânia ocupada, exercendo pouca ou nenhuma influência em Gaza.

Na Jordânia, o rei Abdullah disse que seu reino está envolvido em intensa diplomacia para parar o derramamento de sangue, mas não deu detalhes.

Também nesta segunda-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, manifestou "solidariedade" a Israel durante uma conversa telefônica com Netanyahu e pediu o fim dos atuais enfrentamentos "o mais rápido possível".

"A chanceler condenou de novo com firmeza o contínuo lançamento de foguetes de Gaza contra Israel e assegurou ao primeiro-ministro a solidariedade do governo alemão. Ela reafirmou o direito de Israel de se defender desses ataques", tuitou seu porta-voz, Steffen Seibert.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, fez críticas duras a Biden, por vender armas aos israelenses. "Você está escrevendo a história com suas mãos ensanguentadas", disse Erdogan na TV. "Os territórios palestinos estão cheios de perseguição, sofrimento e sangue. E você está apoiando isso."

O presidente turco conquistou apoio no Oriente Médio ao defender a causa palestina durante seus 18 anos no poder. Na semana passada, ele acusou Israel de praticar terrorismo.

Em um comunicado divulgado no sábado, António Guterres, o secretário-geral da ONU, lembrou a todos os lados que "qualquer ataque indiscriminado a civis e estruturas da imprensa viola a lei internacional e deve ser evitado a todo custo". As declarações de Guterres, assim como as ações de diplomacia dos EUA e do Egito, têm sido um esforço estéril para conter a violência.

Na noite desta segunda, seis mísseis foram disparados do Líbano em direção a Israel, mas caíram antes de cruzar a fronteira entre os dois países, segundo o Exército israelense. Israel disse ter revidado e disparado contra os locais de onde os ataques partiram. Não há relatos de vítimas ou danos. Inicialmente, não há sinais de que o caso possa gerar a uma escalada nas tensões entre Israel e Líbano.

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