Descrição de chapéu terrorismo

Familiares de vítimas do 11/9 voltam a pedir apuração sobre suposto envolvimento de sauditas

Grupo diz que FBI pode ter mentido sobre relação entre Arábia Saudita e terroristas

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Washington | Reuters

O governo americano voltou a receber nesta quinta (2) pedidos de familiares de vítimas do 11 de Setembro para que investigue um suposto papel da Arábia Saudita nos ataques. Quinze dos 19 sequestradores dos aviões envolvidos no atentado eram sauditas, assim como Osama bin Laden, morto em 2011.

Uma comissão do governo, encerrada em 2004, não encontrou evidências de que a Arábia Saudita tenha financiado diretamente a Al Qaeda, grupo responsável pelos ataques, mas deixou em aberto a possibilidade de autoridades sauditas terem participado do planejamento, isoladamente. O país do Oriente Médio —um aliado dos EUA na região— sempre declarou não ter nenhum papel nos ataques.

O pedido desta quinta, enviado ao inspetor-geral do Departamento de Justiça, Michael Horowitz, é assinado por 3.500 pessoas, todas parentes de vítimas, socorristas ou sobreviventes dos atentados. Na ocasião, quase 3.000 pessoas foram mortas, sendo 2.600 no ataque ao World Trade Center, 125 no Pentágono e 265 passageiros dos aviões sequestrados.

Os autores do pedido suspeitam que, à época, o FBI, a polícia federal americana, tenha mentido ou destruído evidências que ligavam a Arábia Saudita aos sequestradores. “As circunstâncias tornam provável que um ou mais funcionários do FBI tenham cometido má conduta com a intenção de destruir ou esconder evidências para evitar sua divulgação", escrevem.

A carta pede a Horowitz que investigue declarações do FBI, dada em resposta a uma intimação das famílias, de que a agência "perdeu ou simplesmente não é mais capaz de encontrar evidências importantes sobre os indivíduos que forneceram apoio substancial dentro dos EUA aos sequestradores".

Entre as provas solicitadas pelos autores da carta estão registros telefônicos e um vídeo de uma festa na Califórnia com a presença de dois dos sequestradores, gravado mais de um ano antes dos ataques.

"Dada a importância das evidências ausentes em questão para a investigação, bem como o manuseio incorreto pelo FBI dessas evidências, uma explicação inocente não é crível”, enfatizaram. "Nosso governo está mentindo sobre as evidências que possui ou está, ativamente, as destruindo, e não sei o que é pior", disse Brett Eagleson, filho de uma das vítimas dos atentados.

O FBI se recusou a comentar a carta. Desde 2001, familiares de vítimas exigem acesso aos documentos do governo relacionados às investigações dos atentados, incluindo relatórios secretos sobre o fato de a Arábia Saudita ter ajudado ou financiado qualquer um dos 19 terroristas associados à Al Qaeda.

Na época, os Estados Unidos acusaram o Talibã, então ocupantes do poder no Afeganistão, de abrigar o grupo terrorista Al Qaeda, o que culminou na invasão no país asiático —encerrada nesta semana.

Um paquistanês lê um jornal com a primeira página exibindo a notícia da morte de Osama bin Laden em uma banca, em Lahore, no Paquistão
Banca no Paquistão expõe jornais anunciando a morte do terrorista Osama Bin Laden - Arif ALI / AFP

Mesmo sem provas de que a Arábia Saudita tenha dado suporte aos terroristas, familiares de cerca de 2.600 mortos e mais de 20 mil feridos processaram o país do Oriente Médio, pedindo indenizações de bilhões de dólares. Ações semelhantes foram movidas por empresas e seguradoras.

A exigência por transparência nas investigações vem ganhando força nos últimos meses. Em agosto, mais de 1.600 pessoas diretamente afetadas pelos atentados pediram a Biden que não organizasse eventos memoriais de 20 anos dos atentados e que divulgasse os documentos secretos que possam evidenciar o suposto apoio de líderes sauditas aos terroristas.

Três dias depois, o Departamento de Justiça informou, no âmbito de uma ação judicial, que havia decidido revisar as alegações dadas anteriormente para não conceder os documentos aos familiares das vítimas.

"Minha administração está comprometida em garantir o máximo grau de transparência sob a lei", disse Biden em 9 de agosto, em declaração saudando o compromisso do departamento com uma nova revisão.

A Arábia Saudita é um dos principais aliados dos EUA no Oriente Médio, e a relação entre os dois países se tornou ainda mais forte no governo do ex-presidente Donald Trump. Durante a campanha eleitoral, Biden prometeu linha dura com os sauditas, acusados de ignorar os direitos humanos e perseguir críticos.

Em fevereiro, a CIA divulgou um relatório que responsabiliza o príncipe Mohammed bin Salman por ter ordenado o assassinato e esquartejamento do jornalista saudita Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2018.

Cena de 'O Dissidente', de Bryan Fogel, filme sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi (de branco, na foto)
Cena de 'O Dissidente', de Bryan Fogel, filme sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi (de branco, na foto) - Divulgação

No mesmo dia, o secretário de Estado, Antony Blinken, anunciou restrições de vistos de 76 pessoas da Arábia Saudita que "teriam se envolvido diretamente em atividades contra dissidentes extraterritoriais".

Apesar das constatações, Bin Salman não sofreu punições dos americanos.

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