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Japão endurece discurso contra incursões chinesas em Taiwan

Novo governo do país diz que estuda 'diversos cenários' e que pode reagir a ações na ilha

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São Paulo

Diante de uma onda recorde de incursões militares da China contra as defesas aéreas de Taiwan, o novo governo do Japão endureceu o discurso e disse que está se preparando para "vários cenários" envolvendo a ilha que Pequim considera sua.

Questionado sobre as ações chinesas, o ministro das Relações Exteriores, Toshimitsu Motegi, deu um passo além da retórica usual de seu país.

Soldado japonês durante treinamento conjunto com americanos e franceses em Kirishima
Soldado japonês durante treinamento conjunto com americanos e franceses em Kirishima - Charly Triballeau - 15.mai.21/AFP

"Em vez de simplesmente monitorar a situação, nós esperamos pesar os diversos cenários possíveis para considerar quais opções nós temos, assim como as preparações que devemos fazer", afirmou.

Motegi também reafirmou o comprometimento com os laços entre o país e os Estados Unidos, o rival estratégico da China na Guerra Fria 2.0.

A fala ocorreu nesta terça (5), um dia depois de o novo premiê japonês, Fumio Kishida, anunciar o seu gabinete e a realização de eleições gerais no dia 31 —algo inusual nesta velocidade na política do país, que visa legitimar seu governo.

Motegi era egresso do governo anterior, de Yoshihide Suga, assim como o ministro da Defesa, Kishi Nobuo, o que sinaliza continuidade nas políticas mais duras em relação à China, ainda que 13 dos 20 titulares de pastas tenham sido trocados.

Kishida era chamado pela mídia estatal chinesa de melhor candidato possível a substituir Suga, por seu passado moderado dentro do Partido Liberal Democrático, majoritário no Japão. Mas tudo indica que as falas mais assertivas durante a campanha não eram só para o público interno.

"A manutenção de Nobuo, conhecido por seus laços com Taiwan, pressagia uma linha dura japonesa em suas preocupações de segurança com a China", escreveu Robert Ward, analista-chefe de Japão no Instituto Internacional de Assuntos Estratégicos (Londres).

A campanha chinesa chamou a atenção mundial. De sexta (1º) até segunda (4), foram 149 aviões ao todo enviados para a Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan, o que obriga a decolagem de caças para interceptação e alta tensão nas baterias de mísseis.

O número é 27% maior do que a totalidade do mês de setembro e sinaliza uma pressão múltipla de Pequim sobre o território. Primeiro, uma questão simbólica: sexta foi o Dia Nacional chinês, e o mesmo ocorrerá no dia 10 em Taiwan, então a ditadura quer enviar um recado contra arroubos independentistas.

Segundo, a crescente movimentação americana no Indo-Pacífico. Nas últimas semanas, Washington anunciou um pacto militar que fornecerá submarinos nucleares à Austrália e reuniu pela primeira vez os chefes de Estado do grupo anti-China Quad (EUA, Japão, Austrália e Índia).

No fim de semana, dois porta-aviões americanos se uniram ao novo navio do tipo britânico num exercício com fragatas japonesas entre Taiwan e Okinawa, o que também pode ter sido um gatilho para a demonstração de força chinesa e aumenta o risco de conflitos acidentais.

Na semana que vem, os signatários do novo pacto militar (EUA, Reino Unido e Austrália) farão uma rodada de manobras no contestado mar do Sul da China, que Pequim considera 85% seu.

Só na segunda, foram 52 caças e bombardeiros enviados para o sudoeste taiwanês, a maior leva da história —à noite, mais quatro aviões ainda rondaram a ilha.

Analistas ponderam se Pequim teria alguma vantagem em usar a força para retomar Taiwan, governada por opositores derrotados pelos comunistas em 1949. Uma invasão poderia falhar, ser muito custosa ou, pior, atrair EUA e aliados como o Japão para uma guerra.

Por outro lado, do ponto de vista de sinalização, a escalada militar é óbvia desde o ano passado. Os chineses treinam constantemente para a tomada de ilhas menores pertencentes a Taiwan e opções de bloqueio ao território principal. Invasão, contudo, é uma proposição bastante difícil nesse momento.

Assim, a confirmação de que a militarização da política externa japonesa, algo que ocorreu nos governos de Shinzo Abe e Taro Aso, é algo que veio para ficar parece clara. Há impactos domésticos importantes, em um país com forte história de pacifismo no pós-Guerra.

Os EUA já haviam reforçado seu apoio a Taiwan no domingo e na segunda, e o governo da ilha afirmou estar em "alerta máximo" contra novas incursões. Nesta terça (5) não houve nenhuma.

A fala de Motegi vai ao encontro da política de Joe Biden, que redobrou a aposta contra os chineses iniciada em 2017 pelo seu antecessor, Donald Trump. Mesmo a criticada retirada americana do Afeganistão passa por isso: liberou recursos para investir na contenção do entorno estratégico chinês.

O presidente americano já havia acenado a Kishida, dizendo que continuava comprometido na manutenção das ilhas Senkaku como japonesas —elas são reivindicadas pelos chineses.

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