Descrição de chapéu Financial Times China Ásia

Arma hipersônica chinesa disparou míssil sobre mar do Sul da China

Pentágono tenta entender como Pequim dominou tecnologia que testa limites da física

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Demetri Sevastopulo
Washington | Financial Times

Um dos testes de armas hipersônicas que a China fez em julho incluiu um avanço tecnológico que permitiu que o país disparasse um míssil ao se aproximar do alvo viajando a pelo menos cinco vezes a velocidade do som —capacidade que nenhuma nação havia demonstrado até hoje.

Cientistas do Pentágono foram pegos de surpresa pela conquista chinesa, que permitiu que o veículo hipersônico deslizante, uma espaçonave manobrável capaz de transportar uma ogiva nuclear, disparasse outro míssil em pleno voo sobre o mar do Sul da China, segundo pessoas informadas sobre esses fatos.

Lançador de foguetes Longa Marcha decola do Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan, no deserto de Gobi, no noroeste da China - Liu Lei - 16.out.21/Xinhua

Especialistas do Darpa, a agência de pesquisas avançadas do Pentágono, continuam sem saber como a China superou as restrições da física ao disparar contramedidas —sistemas utilizados para evitar que armas com sensores ativos possam detectar e destruir um alvo— de um veículo que se movia em velocidade hipersônica, de acordo com pessoas informadas dos detalhes da demonstração.

Especialistas militares estão analisando os dados do teste para tentar entender como a China dominou essa tecnologia. Eles também discutem o objetivo do projétil, que foi disparado pelo veículo hipersônico sem um alvo claro e caiu na água.

Alguns especialistas do Pentágono dizem acreditar que o projétil era um míssil ar-ar —disparado de uma aeronave contra outra aeronave. Outros acham que foi uma contramedida para destruir sistemas de defesa de mísseis, para que estes não possam interceptar a arma hipersônica em tempos de guerra.

A Rússia e os Estados Unidos tentam fabricar armas hipersônicas há anos, mas especialistas dizem que o disparo de contramedidas é a última evidência de que os esforços da China estão significativamente mais avançados que os do Kremlin ou os do Pentágono. A Casa Branca não quis comentar a contramedida, mas disse que continua preocupada com o teste de 27 de julho, relatado primeiro pelo Financial Times.

"Esse desenvolvimento é preocupante para nós, assim como deveria ser para todos os que buscam a paz e a estabilidade na região e além dela", disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. "Isso também aumenta nossa preocupação quanto às capacidades militares que a China continua buscando."

O Conselho de Segurança Nacional acrescentou que os EUA "continuarão mantendo a capacidade de se defender e dissuadir uma série de ameaças" chinesas.

Autoridades do Pentágono têm sido cada vez mais claras sobre suas preocupações em relação ao teste chinês. O veículo deslizante hipersônico foi projetado no espaço em um foguete de "sistema de bombardeio orbital" capaz de voar sobre o polo Sul, colocando a arma fora do alcance dos sistemas de defesa de mísseis dos EUA, focados em ameaças de mísseis balísticos vindos sobre o polo Norte.

O sistema de bombardeio orbital dá à China mais maneiras de atingir alvos americanos. Moscou usou um sistema chamado "sistema de bombardeio orbital fracionário" durante a Guerra Fria, mas era menos avançado e não carregava um veículo deslizante hipersônico manobrável.

As autoridades americanas estão cientes de que a China está à frente do Pentágono em armas hipersônicas. Mas o teste de julho mostrou que a Força de Foguetes do Exército Popular de Libertação está fazendo progressos ainda mais rápidos do que muitos previam. Isso foi reforçado pela combinação bem-sucedida por Pequim de um sistema orbital com uma arma hipersônica capaz de disparar um míssil.

O teste hipersônico ocorre num momento em que a China expande rapidamente suas forças nucleares, o que sugere o abandono da posição de "dissuasão mínima" que manteve por décadas. Os EUA disseram recentemente que quadruplicariam suas ogivas nucleares em ao menos mil armas nesta década.

A embaixada chinesa disse que "não está ciente" do teste do míssil. "Não estamos nem um pouco interessados em ter uma corrida armamentista com outros países", disse Liu Pengyu, porta-voz da embaixada. "Os EUA nos últimos anos têm inventado desculpas como a 'ameaça chinesa' para justificar sua expansão armamentista e o desenvolvimento de armas hipersônicas."

Pequim negou a primeira revelação pelo Financial Times do teste de arma hipersônica, dizendo que foi na verdade um teste de um veículo espacial reutilizável. Mas um teste desse veículo espacial ocorreu 11 dias antes do teste da arma hipersônica, segundo pessoas informadas dos lançamentos. O Financial Times também relatou que a China conduziu outro teste de arma hipersônica em 13 de agosto.

O general David Thompson, vice-chefe de operações espaciais da Força Espacial dos EUA, disse que o país "não está tão avançado" quanto a China ou a Rússia em armas hipersônicas. "Temos que alcançá-los muito rapidamente. Os chineses têm um programa hipersônico incrivelmente agressivo há vários anos", disse Thompson ao Fórum de Segurança Internacional de Halifax no sábado (20).

O general Mark Milley, chefe do estado-maior conjunto dos EUA, recentemente chamou o teste de armas de um "momento Sputnik", referindo-se a quando a União Soviética foi o primeiro país a colocar um satélite no espaço, em 1957. Lloyd Austin, secretário da Defesa americano, disse nesta semana que não usaria os mesmos termos. Mas no início desta semana, enquanto se preparava para se aposentar como vice-presidente do estado-maior conjunto, o general John Hyten manifestou preocupação significativa.

"O Sputnik criou um sentido de urgência nos EUA", disse Hyten à CBS News. "O teste em 27 de julho não criou esse sentido de urgência. Acho que provavelmente deveria criar um sentido de urgência."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.