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Chefe das Forças Armadas e responsável por presídios renunciam no Equador

País passa por crise carcerária que já deixou mais de 320 presos mortos neste ano

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Quito | AFP e Reuters

Em meio à crise carcerária que já deixou mais de 320 presos mortos neste ano no Equador, o chefe do comando conjunto das Forças Armadas, o vice-almirante Jorge Cabrera, e o diretor do órgão encarregado pelas penitenciárias do país (SNAI), Bolívar Garzón, renunciaram nesta segunda-feira (15).

Eles deixaram seus cargos devido ao caos no sistema prisional e ao crescimento das gangues de narcotráfico que disputam o poder dentro e fora das prisões. No fim de semana, 62 detentos foram mortos em uma rebelião, que teve confrontos com armas, explosivos e facões, em uma prisão de Guayaquil.

O governo do Equador havia anunciado anteriormente que haviam 68 vítimas, mas reviu a contagem nesta terça-feira (16). O presídio já havia sido palco de um motim que deixou 119 mortos em setembro deste ano.

Polícia Nacional e Exército realizam operação em presídio de Guayaquil palco de rebeliões
Polícia Nacional e Exército realizam operação em presídio de Guayaquil palco de rebeliões - Presidência do Equador/AFP

O presidente do país, Guillermo Lasso, aceitou a renúncia das duas autoridades e nomeou como novo chefe das Forças Armadas o general Orlando Fuel e como diretor do SNAI Marlo Brito, até então titular do Centro de Inteligência Estratégica.

Nesta segunda, ele se reuniu em Guayaquil com os comandantes das Forças Armadas e da Polícia, além de ministros da segurança e chefes do Congresso, do Tribunal Nacional de Justiça e do Tribunal Constitucional.

Mais tarde, Lasso descreveu a onda de violência como uma das maiores crises que o país já enfrentou nas últimas décadas e anunciou um plano para pacificar as prisões, envolvendo os militares, como parte das etapas para lidar com o contexto de instabilidade no país.

Segundo o presidente, serão feitos esforços de mediação com as gangues, mas sem que sejam feitas concessões aos líderes para garantir a paz nos presídios. Militares irão participar da segurança dentro e fora das penitenciárias, e aliados como EUA e Colômbia irão ajudar na batalha contra o narcotráfico.

O Equador enfrenta "uma séria ameaça externa com o ataque de máfias do tráfico de drogas, as mesmas que tentam assumir o controle de centros de detenção e tirar nossa paz de espírito", afirmou Lasso em uma entrevista coletiva em Guayaquil.

Mais cedo, o porta-voz presidencial Carlos Jijón já havia destacado o "ataque de uma máfia internacional de cartéis de drogas" ao canal Teleamazonas. Ele também compartilhou a tese de um complô político para desestabilizar o governo Lasso, investigado após virem à tona informações da investigação Pandora Papers.

"O verdadeiro objetivo [do massacre] era cometer um ato de terrorismo que chocasse a nação", afirmou Jijón, acrescentando que a crise não se reduz a "um confronto entre gangues ou gangues prisionais", mas sim a "uma gravíssima situação que tem ramificações políticas".

Lasso é investigado por suposta fraude fiscal. Segundo a apuração, ele controlou 14 sociedades offshore –empresas abertas em outros países–, a maioria com sede no Panamá.

Além da Procuradoria-Geral, a Assembleia Nacional também investiga o caso. Lasso chegou a ser convocado pela Casa duas vezes para esclarecimentos, mas não compareceu às sessões, afirmando que os documentos fornecidos por sua assessoria já são suficientes para embasar a defesa.

O equatoriano também chegou a ameaçar a adoção do mecanismo conhecido como "morte cruzada", por meio do qual a Assembleia Nacional seria dissolvida, e Lasso governaria por meio de decreto até a convocação de novas eleições gerais —incluindo para a Presidência.

Na crise carcerária, as rebeliões já provocaram mais de 320 mortes de prisioneiros desde o início do ano. Em fevereiro, 79 presidiários morreram em uma onda de violência em distúrbios simultâneos em quatro centros penitenciários. Meses depois, em julho, outras rebeliões deixaram mais 22 mortos.

Já em setembro, uma sangrenta rebelião estourou, com confrontos entre membros de diferentes cartéis na disputa pelo controle do presídio, segundo o Ministério Público local. Os detentos também reagiram à iniciativa do governo de transferir os chefes das organizações criminosas para outras penitenciárias na região central do país, informou o órgão.

O motim colocou presos ligados à quadrilha dos Choneros, apoiada pelo cartel mexicano de Sinaloa, em confronto com grupos de outras gangues como os Tiguerones, os Lobos e os Lagartos, apoiados pelo CJNGC (Cartel de Jalisco Nueva Generación), também do México.

Esses grupos internacionais têm se associado a facções locais em busca de rotas privilegiadas de exportação de drogas a outros países. Vizinho do maior produtor de cocaína do mundo, a Colômbia, o Equador se tornou um porto estratégico para escoamento da droga.

Organizações criminosas lutam pelo controle de presídios porque obtêm dos presos quantias pagas, por exemplo, por segurança. Além das disputas de facções, as prisões equatorianas, com capacidade para 30 mil pessoas, enfrentam superlotação de 30% ao serem ocupadas por 39 mil detentos.

No dia seguinte ao massacre de setembro, o governo Lasso decretou estado de exceção apenas para o sistema penitenciário, o que permitiu mobilizar 3.600 militares e policiais para os 65 presídios do país.

Desde então, mais 11 presidiários foram encontrados mortos no presídio de Guayaquil. Sete deles foram descobertos suspensos no mesmo pavilhão do motim, segundo divulgou a SNAI no fim de outubro. Já os outros quatro corpos foram encontrados cerca de uma semana depois, e a agência trata esses casos como supostos suicídios.

O Equador enfrenta ainda uma escalada da criminalidade devido ao tráfico de drogas, com quase 1.900 mortes este ano, sendo Guayaquil a cidade mais afetada pela violência. Essa situação levou Lasso a decretar estado de exceção em todo o país por 60 dias em meados de outubro, ordenando que os militares fossem às ruas patrulhar e fazer buscas.

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