Descrição de chapéu América Latina

Rebelião no Equador deixa ao menos 62 mortos em presídio

Governo revê recontagem de vítimas; penitenciária havia sido palco de massacre carcerário em setembro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Quito e Guayaquil | Reuters e AFP

Menos de dois meses após um dos piores massacres carcerários do Equador, a penitenciária de Guayaquil, no sudoeste do país, foi palco de uma nova rebelião que deixou ao menos 62 presos mortos e mais de 20 feridos neste sábado (13), segundo a comandante da polícia local, a general Tannya Varela.

O governo do Equador havia anunciado anteriormente que haviam 68 vítimas, mas reviu a contagem nesta terça-feira (16). "Recebemos 62 corpos, dos quais 46 já foram identificados e 34 entregues [às famílias]", explicou o diretor de Investigação Científica da Polícia Nacional, Marco Ortiz. "Há corpos que foram desmembrados, então os 18 membros encontrados devem corresponder a essas vítimas."

Familiares de detentos esperam por notícias depois que ao menos 58 presos morreram em penitenciária de Guayaquil
Familiares de detentos esperam por notícias depois que ao menos 58 presos morreram em penitenciária de Guayaquil - Fernando Mendez/AFP

Assim como em setembro, o episódio deste sábado foi resultado de disputas pelo controle do presídio entre grupos de narcotraficantes rivais, segundo o governo equatoriano. O distúrbio aconteceu após a libertação do líder de uma quadrilha, o que desencadeou confrontos entre outros grupos para ocupar seu lugar, afirmou o governador da província de Guayas, Pablo Arosemena, em uma entrevista coletiva.

Vídeos nas redes sociais supostamente publicados por detentos durante a noite mostram pessoas pedindo ajuda para conter a violência com tiros e explosões ouvidas ao fundo.

Nesta terça, o governo equatoriano afirmou que há áreas do presídio que ainda não estão sob controle.

As rebeliões carcerárias no Equador provocaram mais de 250 mortes de prisioneiros desde o início do ano. Em fevereiro, 79 presidiários morreram em uma onda de violência em distúrbios simultâneos em quatro centros penitenciários. Meses depois, em julho, outras rebeliões deixaram mais 22 mortos.

Já em setembro, uma sangrenta rebelião estourou, com confrontos entre membros de diferentes cartéis na disputa pelo controle do presídio, segundo o Ministério Público local. Os detentos também reagiram à iniciativa do governo de transferir os chefes das organizações criminosas para outras penitenciárias na região central do país, informou o órgão.

​Pelo menos seis dos mortos foram decapitados, em cenas que lembram as registradas nas rebeliões em presídios do Norte e do Nordeste do Brasil em janeiro de 2017. Na ocasião, disputas de facções criminosas pelo controle das rotas de tráfico no país deixaram centenas de mortos em penitenciárias.

O motim colocou presos ligados à quadrilha dos Choneros, apoiada pelo cartel mexicano de Sinaloa, em confronto com grupos de outras gangues como os Tiguerones, os Lobos e os Lagartos, apoiados pelo CJNGC (Cartel de Jalisco Nueva Generación), também do México.

Esses grupos internacionais têm se associado a facções locais em busca de rotas privilegiadas de exportação de drogas a outros países. Vizinho do maior produtor de cocaína do mundo, a Colômbia, o Equador se tornou um porto estratégico para escoamento da droga.

Organizações criminosas lutam pelo controle de presídios porque obtêm dos presos quantias pagas, por exemplo, por segurança. Além das disputas de facções, as prisões equatorianas, com capacidade para 30 mil pessoas, enfrentam superlotação de 30% ao serem ocupadas por 39 mil detentos.

No dia seguinte ao massacre de setembro, o governo do presidente Guillermo Lasso decretou estado de exceção apenas para o sistema penitenciário, o que permitiu mobilizar 3.600 militares e policiais para os 65 presídios do país.

Desde então, mais 11 presidiários foram encontrados mortos no presídio de Guayaquil. Sete deles foram descobertos suspensos no mesmo pavilhão do motim, segundo divulgou a agência responsável pelas prisões no país (SNAI) no fim de outubro. Já os outros quatro corpos foram encontrados cerca de uma semana depois, e a SNAI trata esses casos como supostos suicídios.

O Equador enfrenta ainda uma escalada da criminalidade devido ao tráfico de drogas, com quase 1.900 mortes este ano, sendo Guayaquil a cidade mais afetada pela violência. Essa situação levou Lasso a decretar estado de exceção em todo o país por 60 dias em meados de outubro, ordenando que os militares fossem às ruas patrulhar e fazer buscas.

Já o presidente passa por uma crise política e tem sofrido sucessivas derrotas no Legislativo. Lasso é investigado por suposta fraude fiscal após virem à tona informações da investigação Pandora Papers, que mostram que ele controlou 14 sociedades offshore –empresas abertas em outros países–, a maioria com sede no Panamá.

Além da Procuradoria-Geral, a Assembleia Nacional também investiga o caso. Lasso chegou a ser convocado pela Casa duas vezes para esclarecimentos, mas não compareceu às sessões, afirmando que os documentos fornecidos por sua assessoria já são suficientes para embasar a defesa.

O equatoriano também chegou a ameaçar a adoção do mecanismo conhecido como "morte cruzada", por meio do qual a Assembleia Nacional seria dissolvida, e Lasso governaria por meio de decreto até a convocação de novas eleições gerais —incluindo para a Presidência.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.