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Nicarágua tem direito de processar opositores, diz petista que dirige Foro de SP

Monica Valente afirma que é possível debater se prisões feitas por Ortega são melhor método

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São Paulo

Principal dirigente do Foro de São Paulo, a petista Monica Valente defendeu em entrevista veiculada nesta quinta (25) a decisão do governo nicaraguense de processar opositores políticos do ditador Daniel Ortega.

"No mérito, o governo nicaraguense tem toda a razão em processar essas pessoas, com base na sua própria lei, com base no direito internacional", disse ela, em live do site Opera Mundi.

O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, com sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo
O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, com sua mulher e vice-presidente, Rosario Murillo - Oswaldo Rivas - 5.set.18/Reuters

Secretária-executiva da entidade, que reúne partidos latino-americanos de esquerda, Valente justificou as atitudes de Ortega com base em uma lei nicaraguense que proíbe o financiamento estrangeiro a ONGs e organizações políticas. Esse tipo de vedação, disse, é comum em vários países, inclusive no Brasil.

"As pessoas que foram presas e estão sendo investigadas receberam comprovadamente muitos recursos, milhões de dólares de programas estadunidenses, de órgãos como o Usaid [agência dos EUA para desenvolvimento internacional]. Qualquer um pode entrar na página do Congresso Americano e verificar."

Ela afirmou, porém, que é possível discutir se a prisão de opositores de Ortega é a melhor opção nesse caso. "Eu tenho muitas dúvidas sobre essa estratégia. Mas quem sou eu para concordar ou discordar? Podemos compartilhar reflexões se essa é a melhor estratégia para combater os ataques imperialistas. Se é prender ou se é ter processo de negociação política, com mediação internacional", disse.

Ortega, que está no poder há 14 anos, foi reeleito no último dia 7 para um quarto mandato consecutivo. O pleito foi amplamente condenado pela comunidade internacional por ter sido de fachada. Antes da votação, sete candidatos presidenciais de oposição foram presos pelo governo nicaraguense.

A situação no país centro-americano respingou na pré-candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao jornal El País Lula relativizou a ditadura de Ortega, comparando seu tempo de permanência no poder ao da primeira-ministra alemã Angela Merkel, que está se despedindo do cargo após 16 anos.

Antes, o próprio PT havia saudado a eleição como uma grande manifestação democrática do povo nicaraguense. Após a repercussão negativa, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse que a nota publicada não havia sido aprovada pela direção partidária, mas não criticou o pleito.

Integrante da Executiva Nacional do PT, Valente declarou que não vê contradição no fato de o partido apoiar a democracia no Brasil e ao mesmo tempo defender governos de países como Nicarágua, Cuba e Venezuela, todos governados por ditaduras de esquerda.

"Não tem contradição defender a concepção democrática que o PT tem e ao mesmo tempo o direito internacional, a autodeterminação dos povos, a não ingerência e o multilateralismo."

Deu como exemplo negativo de interferência externa a presença dos EUA no Afeganistão, encerrada de forma caótica em agosto, com o retorno do Talibã ao poder. "Os EUA ocuparam o Afeganistão por 20 anos. Saíram de lá e, em duas, três semanas, tudo o que disseram que iam combater, como o machismo, voltou."

Ao fazer um balanço de 2021 para a esquerda latino-americana, Valente viu como ponto positivo a eleição regional na Venezuela, em que forças ligadas ao ditador Nicolás Maduro foram amplamente vitoriosas.

"O Estado profundo estadunidense, seja o governo, sejam os setores empresariais imperialistas, tinham uma expectativa de que nessa eleição o governo não se saísse tão bem. Mas o governo Maduro saiu muito fortalecido, e o império [EUA] terá que repensar suas estratégias", disse.

Ao falar sobre Cuba, afirmou que há uma desesperança na ilha, em razão do bloqueio econômico imposto pelos EUA, mas também elogiou a força da população, que continua defendendo o regime comunista.

"A força da Revolução Cubana é muito grande. Havia uma expectativa de que arrefecesse com o falecimento de Fidel [Castro, há cinco anos], mas isso não aconteceu. Há dificuldade, há descontentamento do povo. Como você vive 60 anos numa ilha de 11 milhões [de habitantes] sendo acossado, sem poder importar seringa, por causa do bloqueio? Lógico que isso causa descontentamento", afirmou.

A ilha foi palco de raras manifestações contrárias ao regime em 11 de julho, reprimidas pelas autoridades.

Ela também mencionou o segundo turno que será disputado no Chile em dezembro entre o esquerdista Gabriel Boric e o ultradireitista José Antonio Kast. "Você já imaginou que tristeza o Chile de Salvador Allende [presidente de esquerda derrubado num golpe em 1973] ser governado por um tipo como esse [Kast], que é um [Donald] Trump, [Jair] Bolsonaro e [Jean-Marie] Le Pen repaginado?"

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