Descrição de chapéu China Ásia

Austrália, Reino Unido e Canadá se juntam aos EUA em boicote a Olimpíadas de Inverno na China

Pequim reage, diz que 'ninguém se importa' e que 'manobras políticas' não afetarão o sucesso dos Jogos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sydney, Pequim e Ottawa | Reuters

Austrália, Reino Unido e Canadá decidiram se juntar aos EUA em um boicote diplomático aos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, que acontecerão em fevereiro de 2022.

Nesta terça (7), o premiê australiano, Scott Morrison, anunciou a decisão, que deve piorar ainda mais as relações com a China. Já o líder britânico, Boris Johnson, confirmou os rumores de boicote nesta quarta (8) e disse que nenhum ministro ou membro do governo deve ir a Pequim durante a competição.

O premiê canadense, Justin Trudeau, por sua vez, informou a decisão pouco após Boris e argumentou que Pequim está ciente das antigas preocupações do Ocidente com relação aos direitos humanos. "Não deveria ser uma surpresa a nossa decisão de não enviar uma representação diplomática."

Australianos protestam pedindo boicote do governo aos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim - Saeed Khan/AFP

Na segunda (6), a Casa Branca anunciou que o governo de Joe Biden não enviará nenhuma autoridade americana à capital chinesa em protesto contra violações de direitos humanos cometidas pelo regime de Xi Jinping. A decisão não envolve os atletas, que poderão disputar os Jogos normalmente —Austrália, Reino Unido e Canadá também mantiveram o boicote restrito aos aspectos diplomáticos.

A China reagiu e chegou a afirmar que os EUA vão "pagar o preço" pela decisão. Mesmo com a ameaça, a Austrália decidiu se juntar ao protesto e também recebeu alfinetadas da diplomacia chinesa.

"Ninguém se importa se eles vêm", disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, acrescentando que Pequim não tinha intenção de convidar as autoridades australianas.

Para Wang, "manobras políticas e pequenos truques não vão mudar em nada o sucesso dos Jogos Olímpicos". Além disso, a decisão de Morrison, segundo o porta-voz, "mostra aos olhos de todos que o governo australiano acompanha cegamente a linha de um país", em referência pouco velada aos EUA.

​A decisão foi tomada, segundo o premiê australiano, devido às dificuldades em reabrir canais diplomáticos com a China para discutir denúncias de abusos de direitos humanos na região de minoria muçulmana de Xinjiang e às medidas de Pequim para desacelerar e bloquear as importações de produtos australianos. Funcionários do governo não conseguem falar com contrapartes chinesas há meses.

O boicote formal ameaça prejudicar ainda mais as relações da Austrália com a China, seu maior parceiro comercial, que azedaram depois que Camberra proibiu a Huawei de participar da rede 5G australiana, em 2018. Em setembro deste ano, a situação se agravou ainda mais depois que o país fechou um pacto com EUA e Reino Unido para se armar com submarinos de propulsão nuclear.

Pequim respondeu ao aumento da crise nos últimos anos impondo tarifas sobre várias commodities australianas, como carvão, carne, cevada e vinho. Nesta terça, Morrison disse que quaisquer novas interrupções comerciais seriam "completa e totalmente inaceitáveis".

Depois da Austrália, o Reino Unido também entrou na fila do boicote aos Jogos de Pequim. A imprensa britânica apurou que o governo estudava a possibilidade e, nesta quarta, Boris confirmou a decisão.

"Haverá um boicote diplomático às Olimpíadas de Inverno em Pequim; nenhum ministro deve comparecer nem nenhuma autoridade", disse. Questionado sobre a participação dos atletas britânicos, acrescentou: "Não acho que os boicotes esportivos sejam sensatos, e essa continua sendo a política do governo."

O jornal Sankei Shimbun publicou nesta terça (quarta, no horário local) que o Japão também está considerando não mandar autoridades à capital chinesa.

A última medida de boicotes do tipo foi tomada por Estados Unidos e União Soviética nos anos 1980. Washington boicotou as Olimpíadas de Moscou em 1980 em retaliação à invasão do Afeganistão.

Naquela ocasião, a decisão também teve resultado esportivo, com a proibição de que os atletas competissem. A então URSS retaliou quatro anos depois, boicotando os Jogos de Los Angeles, em 1984.

Zhao Lijian, outro porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, descreveu a decisão dos EUA como "uma mancha no espírito da Carta Olímpica" e uma "ação sensacionalista e manipuladora" dos americanos.​ "Os EUA deveriam parar de politizar os esportes e fazer o 'boicote diplomático' para não afetar o diálogo e a cooperação China-EUA em áreas importantes", disse.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) disse respeitar o boicote diplomático americano e estar satisfeito que não tenha impactado a participação dos atletas americanos. "A presença de representantes governamentais e diplomáticos é uma decisão puramente política de cada governo, que o COI, em sua neutralidade política, respeita plenamente", afirmou a entidade por meio de porta-voz.

A Nova Zelândia também anunciou nesta terça que não enviará representantes diplomáticos, mas atribuiu a ausência à Covid, segundo o vice-premiê Grant Robertson. Ele acrescentou que Pequim foi informada da decisão em outubro.

O governo chinês disse ter recebido mais de 1.500 inscrições pelo Comitê Olímpico dos EUA para participação nos Jogos. Até agora, o presidente russo Vladimir Putin é o único líder de um país populoso e importante economicamente a aceitar o convite da China para comparecer aos Jogos.

A China vem sofrendo pressão mundial no meio esportivo após o caso da tenista Peng Shuai, ex-número 1 no ranking mundial de duplas, que acusou no mês passado Zhang Gaoli, ex-vice-premiê do país, de assédio sexual. A denúncia foi feita numa rede social chinesa, e a publicação foi excluída na sequência.

A tenista saiu dos holofotes durante quase três semanas, o que gerou especulações sobre o seu paradeiro, com a Associação do Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês), a ONU e diversos atletas cobrando respostas de Pequim. No último dia 21, uma conversa de 30 minutos entre Peng e o presidente do COI, Thomas Bach, colocou fim às dúvidas, mas o caso continuou repercutindo.

A WTA, por exemplo, suspendeu torneios na China. Em comunicado, o presidente da associação afirmou não ver como poderia pedir às "atletas para competir lá, quando Peng Shuai não tem permissão para se comunicar livremente e aparentemente foi pressionada a contradizer sua alegação de agressão sexual".

Já a Federação Internacional de Tênis (ITF, na sigla em inglês) e a entidade reguladora do tênis masculino disseram que não irão aderir ao boicote. Neste domingo, o presidente da ITF defendeu o posicionamento da organização, dizendo não querer "castigar bilhões de pessoas".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.