O Peru vai pedir que o Chile amplie o processo de extradição do ex-presidente Alberto Fujimori (1999-2000) para que ele possa ser levado a juízo em um processo penal sobre os milhares de esterilizações forçadas de mulheres, efetuadas entre 1996 e 2000, informou o Poder Judiciário peruano.
Neste sábado (11), o juiz Rafael Martínez decidiu levar a juízo Fujimori e vários ex-ministros por esse caso. O Poder Judiciário peruano informou mais tarde que, a pedido da defesa do ex-presidente, suspendeu o processo por não se encontrar dentro do convênio de extradição entre Santiago e Lima, segundo o qual Fujimori voltou ao Peru em 2007.
A promotora do caso, Carmen Rosa Crisóstomo, informou que o Ministério Público "oportunamente apresentará a ampliação do pedido de extradição" ao Chile.
Martínez tinha dito na semana passada que o julgamento no caso das esterilizações em massa só pode seguir adiante caso com a permissão da Suprema Corte chilena, que foi quem autorizou a extradição há 14 anos.
Fujimori, 83, está cumprindo uma sentença de 25 anos de prisão após ser condenado por corrupção e violação dos direitos humanos.
Na mesma audiência, realizada virtualmente, o magistrado decidiu abrir também um processo penal contra os ex-ministros Eduardo Yong, Marino Costa, Alejandro Aguinaga e Ulises Jorge Aguilar
"Serão processados por serem os supostos autores do crime contra a vida, o corpo e a saúde —lesões graves, seguidas de morte no contexto de grave violação dos direitos humanos", informou o juiz.
O processo penal das esterilizações forçadas conta com 1.317 demandantes e foi aberto em 2002, tendo sido arquivado e reaberto várias vezes.
Entre os acusados está Alejandro Aguinaga, médico do próprio Fujimori, ex-ministro da Saúde e hoje congressista pela Força Popular, partido político liderado por Keiko Fujimori, filha e herdeira política do ex-presidente.
Estima-se que cerca de 270 mil peruanas pobres, muitas delas indígenas que não falavam espanhol, tenham sido submetidas a cirurgias de laqueadura de trompas como parte do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva e Planejamento Familiar, que Fujimori implantou em seus últimos quatro anos no poder.
A maioria das vítimas era de indígenas do interior. Uma delas disse que, em 1997, quando tinha 19 anos, foi levar seu bebê para ser vacinado em um consultório e teve as trompas ligadas.
O questionado programa visava a reduzir a taxa de natalidade para impulsionar o desenvolvimento econômico. Nestas cirurgias, segundo dados oficiais, 18 mulheres morreram.
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