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Silvio Berlusconi desiste de concorrer à Presidência da Itália

Ex-primeiro-ministro ensaiava volta à política no pleito que começa nesta segunda

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Roma | Reuters

O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, 85, desistiu de se lançar candidato à Presidência italiana. A decisão foi comunicada neste sábado (22), em uma nota na qual ele diz ser a favor da construção de um nome à direita que possa ser consensual na eleição.

As legendas desse campo realizaram um encontro para definir estratégias para o pleito que, a partir de segunda-feira (24), vai apontar o sucessor de Sergio Mattarella, 80. A escolha do presidente se dá de forma indireta, realizada pelo Parlamento e por representantes estaduais.

Não há candidatos formais —os 1.009 "grandes eleitores" podem escrever na cédula o nome de qualquer cidadão italiano com 50 anos completos e que goze dos direitos políticos e civis—, mas Berlusconi vinha se colocando como um possível nome a ser apontado para o cargo.

Italianos em Roma protestam contra possível candidatura de Silvio Berlusconi à Presidência, mostrando cartazes com os dizeres 'o Quirinal não é um bunga-bunga' - Tiziana Fabi - 4.jan.22/AFP

"Creio que Silvio Berlusconi pode ser útil para o país", disse, no final do ano passado, falando sobre si mesmo em terceira pessoa. "Não desistirei e farei o que o meu país precisa."

No início de dezembro de 2021, o político, que foi primeiro-ministro quatro vezes, enviou uma imagem de seu rosto aos deputados acompanhada de uma coleção de seus mais belos discursos. A ação foi interpretada como o lançamento de uma não necessariamente discreta campanha para a Presidência.

Nos últimos dias, ele chegou a ser publicamente apoiado por outros dois líderes da direita, Matteo Salvini (da Liga) e Giorgia Meloni (do partido Irmãos da Itália). A movimentação, porém, vinha sendo vista mais como uma espécie de homenagem aos últimos momentos da carreira política de Berlusconi, que é alvo de mais de 30 processos —incluindo um pelo crime de prostituição infantil (absolvido) e outro por fraude fiscal (condenado).

Neste sábado, ele oficializou a desistência. "Decidi dar outros passos no rumo da responsabilidade nacional, pedindo àqueles que propuseram meu nome à Presidência que renunciem a essa indicação", disse, em comunicado. "Vamos trabalhar com os líderes da centro-direita para encontrar um nome que possa reunir um amplo consenso no Parlamento."

Os partidos de Salvini e Giorgia Meloni acataram a decisão do ex-premiê. Também em nota, o líder da Liga ressaltou que o bloco continua unido.

Além de Berlusconi, as especulações para o nome do novo presidente incluem o atual ocupante do cargo, Mattarella, o primeiro-ministro Mario Draghi e ao menos mais nove pessoas, incluindo três mulheres, de acordo com o jornal La Reppublica.

O resultado, porém, é imprevisível. Os 1.009 deputados, senadores e delegados regionais se reúnem em Roma a partir de segunda-feira para a eleição. O voto é secreto, e cada um recebe uma cédula em branco, na qual pode escrever o que quiser —inclusive piadinhas. Todas as indicações são lidas depois em voz alta no plenário, pelo presidente da Câmara.

Sai vencedor o nome que obtiver dois terços dos votos (673). Se ninguém conseguir a marca até o terceiro escrutínio, a partir do quarto passa a valer a maioria absoluta (505). Não há limite para o número de votações; em 1971, por exemplo, foram necessárias 23 delas para a eleição de Giovanni Leone, o recorde até hoje. Em geral, acontece uma sessão por dia.

Cientistas políticos comparam o processo de escolha ao dos conclaves da Igreja Católica para a seleção do papa.

Além de a eleição ser indireta, a política italiana tem alto grau de fragmentação, e os especialistas apontam que hoje há dois lados quase equivalentes, esquerda e direita, nenhum com votos suficientes para eleger um candidato. Segundo projeções do jornal Corriere della Sera, o bloco de centro-direita somaria entre os "grandes eleitores" 450 votos, e o de centro-esquerda, 420.

Berlusconi, por óbvio, enfrentaria forte rejeição neste último grupo, o que tornaria sua indicação muito difícil. Muitas apostas agora recaem sobre Draghi, que conseguiu reunir uma ampla coalizão ao ser eleito primeiro-ministro após uma crise no mandato de Giuseppe Conte. Esse cenário, porém —para além do ineditismo de um chefe de governo ser alçado à chefia de Estado—, forçaria uma nova costura política para a indicação de outro premiê, voltando a embaralhar as cartas da política italiana.

Em seu comunicado deste sábado, Berlusconi manifestou o desejo de que Draghi permaneça no cargo até as eleições legislativas de 2023. "Considero necessário que o governo complete seu trabalho até o final da legislatura", afirmou.

O ocupante do Palácio do Quirinal, a residência do presidente, tem um papel institucional no regime político italiano, mas também faz a interlocução e controla os três Poderes, nomeia o premiê e seus ministros e tem o poder de eventualmente dissolver de forma antecipada o Parlamento. Ou seja, não pode ser considerado uma "rainha da Inglaterra", como ocorre em outras democracias parlamentaristas.

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