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Temor de dano econômico na China pressiona política de 'Covid zero'

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Igor Patrick
Pequim

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Depois de mais de dois anos de sucesso, a política de "Covid zero" na China começou a dar sinais de exaustão. Com a chegada da variante ômicron, o país passou a registrar números de infecções diárias na casa dos milhares pela primeira vez desde 2020 e manteve nesta semana quase 40 milhões de pessoas em lockdown em várias cidades.

  • Em Xangai, onde vazamentos de um hospital de quarentena teriam sido responsáveis por fazer o vírus voltar a circular, centenas de condomínios foram trancados após a cidade registrar mais de 700 casos desde o início do mês. A intenção inicial era ganhar tempo para testagens em massa, mas a tarefa que deveria terminar em dois dias deve se estender por ao menos cinco.
Pessoas são testadas no distrito de Huangpu em Xangai. O bairro está em lockdown devido à detecção de novos casos de Covid-19. - (Hector Retamal/AFP)

Escolas voltaram para o regime EAD e trabalhadores não essenciais estão sendo incentivados a ficar em casa. Nas redes sociais multiplicam-se as fotos de voluntários da força-tarefa contra a epidemia dormindo absolutamente exaustos em sofás. A administração da cidade disse estar em "modo de guerra" contra o vírus, "no pior momento desde 2020".

  • Shenzhen, no sul da China, que desde domingo confinava 17,5 milhões de pessoas, desistiu da medida nesta sexta (18) depois que o líder Xi Jinping destacou a necessidade de "minimizar o impacto" das medidas para a economia chinesa;
  • A situação da cidade é preocupante para empresas de tecnologia, já que as fábricas responsáveis pela montagem de eletrônicos para marcas como Apple e Samsung estão na cidade.

Changchun, perto da fronteira com a Coreia do Norte, concentra o surto mais grave, com milhares de casos registrados diariamente:

  • A cidade concluiu a construção de um enorme hospital de campanha, preparado para receber mais de 1.500 pacientes com Covid, além de 700 leitos para isolamento. Instalações do tipo não eram vistas desde o surto em Wuhan;
  • Todos os 9 milhões de habitantes foram colocados em lockdown;
  • A Toyota, que tem uma planta na cidade, suspendeu a produção.

Ainda não há planos de um fechamento nacional, dado o impacto da medida para a economia. O governo, porém, não parece disposto a abrir mão da política de "Covid zero" e cobrou de autoridades provinciais um trabalho mais eficiente na contenção da doença.

O contexto: Quando as taxas de transmissibilidade da ômicron fizeram o número de contágios saltar em todo o mundo, a China deu sinais de que entendia a impossibilidade de continuar com as infecções por Covid zeradas. O país aprovou a pílula da Pfizer para tratamento caseiro da doença, liberou os autotestes e começou a preparar a população para uma abertura gradual das fronteiras através de declarações oficiais.

Perder o controle da Covid ainda em 2022, contudo, nunca foi uma opção.

Em novembro, oficiais do Partido Comunista se reunirão para sacramentar o provável terceiro mandato de Xi Jinping (fruto de uma polêmica lei que retirou o limite de reeleições da Constituição). Instabilidade em um ano tão crucial para o futuro do PCCh e do próprio país é tudo que Pequim não quer.

o que também importa

A agência estatal de notícias Xinhua publicou uma reportagem em que acusa a mídia ocidental de "recrutar um grupo de profissionais chineses [para atuar] como peões e propagar uma retórica de ataque à China".

O texto diz que jornalistas chineses são pagos para deturpar a imagem do país no exterior e "estimular o viés ideológico em nome da chamada 'liberdade de imprensa', valendo-se de uma pilha de reportagens falsas".

O veículo critica algumas das coberturas que considera controversas, como a política de tolerância zero a infecções pelo coronavírus, o acobertamento dos primeiros casos de Covid em Wuhan no fim de 2019 e os relatos de trabalhos forçados pela minoria muçulmana uigur na província de Xinjiang.

"Não compreendendo o caminho de desenvolvimento da China, esses chamados ‘especialistas da China’ tornaram-se cúmplices das campanhas de desinformação da mídia ocidental e explicam parcialmente o declínio da confiança do público na imprensa", conclui a agência

A missão diplomática chinesa na União Europeia reagiu a comentários do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que disse "monitorar de perto" os sinais de apoio de Pequim a Moscou.

Stoltenberg cobrava dos chineses uma posição mais firme sobre o conflito e demandava "obrigação, enquanto membro do Conselho de Segurança da ONU, em realmente apoiar e defender o direito internacional".

A fala pegou mal. Em declaração à imprensa, os diplomatas disseram não precisar de "palestras sobre o direito internacional" e lembraram que "o povo chinês nunca esqueceu quem bombardeou nossa embaixada na Iugoslávia".

O comentário faz menção a um episódio em 1999. Liderada por forças americanas, a Otan lançou cinco bombas contra as instalações chinesas em Belgrado, matando três jornalistas da China. O então presidente americano Bill Clinton se desculpou e disse ter se tratado de um erro operacional, mas Pequim jamais esqueceu o episódio.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. - (Johanna Geron/Reuters)

fique de olho

Mais de 50 mil pessoas deixaram Hong Kong apenas na primeira quinzena de março, em um êxodo motivado pelo descontrole nos casos de Covid na cidade e nas subsequentes restrições de distanciamento social anunciadas pelo poder executivo. De acordo com o South China Morning Post, o maior número de saídas até agora foi registrado em 6 de março, quando 5.082 pessoas deixaram a cidade.

A maior parte destas pessoas sai de Hong Kong com destino a cidades na província vizinha de Guangdong, na China continental. Na população, há o sentimento de viver no pior de dois mundos: fronteiras fechadas e o pior surto de Covid mundialmente (em números proporcionais, levando em conta a população).

Em Hong Kong, hospitais e necrotérios da cidade estão sobrecarregados com o aumento dramático de casos. Funcionários transportam vítimas da Covid-19 em um necrotério local. - (Dale de La Rey/AFP)

para ir a fundo

  • Estão abertas até o dia 30 as inscrições para o HICOOL, uma das maiores competições de startups da China. O concurso premia iniciativas já instaladas em Pequim ou aquelas dispostas a se mudar para a capital chinesa. Vencedores levam para casa cheques que vão de 200 mil a 2 milhões de yuans (R$158 mil a R$1,58 milhão). (gratuito, em inglês)
  • A Observa China realiza neste sábado (19) às 13h, uma conversa com Rui Ma sobre as tendências tecnológicas no país em 2022. Rui é fundadora do portal Tech Buzz China e tem quase duas décadas de experiência em tecnologia e finanças. Inscrições neste link. (gratuito, em inglês)
  • A política de "Covid zero" chinesa vai sobreviver à ômicron? Para responder à pergunta, o canal e-FeitoNaChina da brasileira Thaís Moretz entrevista Josef Mahoney, diretor executivo do Centro Internacional de Estudos Políticos Avançados na East China Normal University. (gratuito, em inglês com legendas em português)
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