Descrição de chapéu oriente médio

Frente ampla que lidera Israel perde maioria no Parlamento e vive crise interna

Saída de deputada ultradireitista complica governabilidade da coalizão de oito partidos que uniu direita e esquerda

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A inédita coalizão de oito partidos que elegeu o ultradireitista Naftali Bennett premiê de Israel há pouco menos de um ano e vinha se mostrando exitosa enfrenta nesta quarta (6) aquela que se desenha como sua principal crise. A frente ampla perdeu a maioria que possuía no Knesset, o Parlamento do país.

A crise foi instaurada após a parlamentar Idit Silman, líder da coalizão, abandoná-la. Sem ela, a aliança fica com 60 cadeiras no Legislativo —uma a menos que o necessário para ter maioria no Parlamento de 120 assentos—, o que complica a governabilidade da frente que reúne siglas de direita e de esquerda.

O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, durante cerimônia de homenagem aos soldados da batalha de Tel Hai
O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, durante cerimônia de homenagem aos soldados da batalha de Tel Hai - Jalaa Marey - 14.mar.22/AFP

À mídia local parlamentares governistas alegaram terem sido pegos de surpresa pela decisão de Silman. A parlamentar de 41 anos é membro do Yamina, o partido de ultradireita ao qual também pertence Bennett. Mas o anúncio não chegou propriamente a surpreender analistas políticos.

Há semanas Silman vem apresentando divergências com membros da coalizão, em especial com os de esquerda. Na carta enviada ao premiê e vazada à imprensa, ela acusa o governo de minar o caráter judaico do Estado de Israel, referência a um atrito que teve com o ministro da Saúde, Nitzan Horowitz, do Meretz.

Ele havia instado hospitais do país a respeitarem uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça segundo a qual os estabelecimentos de saúde não podem impedir pacientes de levar produtos fermentados durante a celebração do Pessach, a Páscoa judaica —judeus praticantes se abstêm de ingerir alimentos do tipo na data.

A decisão da alta corte de Israel foi dada sob a justificativa de interromper uma política possivelmente discriminatória para os não praticantes ou que não são judeus. Mas Silman argumentou que, ao apoiá-la, o ministro estava "cruzando uma linha vermelha".

"O que me incomodou foi que o ministro, que deveria lidar com a saúde, agora está tratando de questões de religião e de Estado", disse ela, acrescentando que a prática corriqueira de hospitais não permitirem produtos fermentados nessa data tem em sua natureza "a tradição, não a religião".

O episódio pode ter sido a justificativa para a saída da coalizão, mas analistas têm dito que, na verdade, foi apenas uma desculpa para agradar a base do Yamina e a oposição. Esses dois campos se mostram insatisfeitos com as alianças feitas com a esquerda e com a demora para construir mais casas para colonos judeus na Cisjordânia.

O ex-premiê Binyamin Netanyahu, político que por mais tempo ficou no cargo no país —12 anos—, parabenizou Silman e a agradeceu "em nome de muitas pessoas que esperaram por esse momento". Relatos colhidos pelo jornal Times of Israel apontam que a deputada planeja se juntar ao Likud, partido de Netanyahu.

Ainda na carta de saída, a parlamentar disse que agora vai trabalhar para formar um novo governo de direita em Israel, indicando que buscará fazer com que mais colegas da coalizão também deixem a aliança. "Sei que não sou a única que se sente assim", completou.

Todas as opções postas na mesa tendem a dificultar a sustentabilidade da coalizão governista. A oposição agora poderia, por exemplo, bloquear a aprovação do Orçamento nacional, o que pode levar à queda do governo no próximo ano com a convocação de novas eleições legislativas.

Ou então poderia tentar aprovar a dissolução do Parlamento, o que exigiria que todas as siglas da oposição, muitas das quais não são tão próximas a Netanyahu, votassem a favor, já que para esse mecanismo são necessários ao menos 61 votos. O Likud tem somente 29 assentos no Legislativo.

Nesse cenário, o hoje chanceler Yair Lapid seria automaticamente nomeado premiê para o período de transição, enquanto novas eleições são organizadas. O acordo fechado à época em que a frente ampla foi posta de pé previa que, após dois anos de governo, Bennett deveria assumir a pasta do Interior e passar o cargo de premiê para Lapid —algo que, a depender do desenrolar da nova crise, pode não acontecer.

Após reunião com os dirigentes das legendas que formam a aliança, o premiê disse em comunicado que pretende manter a estabilidade do governo, apesar da deserção de Silman. "Falei com todos os líderes, e todos eles querem continuar; mais eleições apenas nos levariam de volta a dias de perigosa instabilidade."

A consolidação da aliança e a consequente eleição de Bennett encerraram um longo imbróglio na política israelense, imersa em uma estagnação desde dezembro de 2018. Até que o atual premiê fosse eleito, foram realizados quatro pleitos antecipados, mas todos os governos falharam por não conseguirem aprovar o Orçamento —algo que a gestão Bennett conseguiu fazer em novembro passado.

Com AFP

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