Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia concentra forças no leste da Ucrânia e intensifica ataques em Mariupol e Kharkiv

Papa Francisco beija bandeira ucraniana e chama cenário de cadáveres em Butcha de massacre

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São Paulo

A Rússia voltou a atingir as cidades ucranianas de ​Mariupol e Kharkiv nesta quarta (6), enquanto o Ocidente impôs mais sanções a Moscou devido à morte de civis que Kiev e aliados consideram crimes de guerra.

De acordo com o último relatório da inteligência militar do Reino Unido, a situação humanitária em Mariupol, importante ponto estratégico para os interesses russos, está piorando. "A maioria dos 160 mil residentes restantes não tem luz, comunicação, remédios, aquecimento ou água. As forças russas impediram o acesso a ajuda humanitária, pressionando os defensores a se renderem", diz o documento.

Tanque de forças da Rússia patrulha rua de Mariupol, na Ucrânia
Tanque de forças da Rússia patrulha rua de Mariupol, na Ucrânia - Alexander Ermochenko - 5.abr.22/Reuters

A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereschuk, disse que as autoridades tentariam retirar mais civis das zonas de conflito por meio de 11 corredores humanitários nesta quarta —embora as pessoas que tentarem deixar Mariupol tenham que usar os próprios veículos. Horas depois, a Cruz Vermelha informou que liderou um comboio, formado por ônibus e carros particulares, que levou mais de 500 pessoas de Mariupol a Zaporíjia.

Desde a semana passada, autoridades ucranianas e analistas têm dito que a Rússia mudou seus objetivos militares na Ucrânia. Em vez de tentar tomar Kiev e as cidades ao redor da capital, as forças de Moscou recuaram e estariam se concentrando no leste do país e em cidades russas próximas à fronteira, como Belgorod.

Em Lugansk, por exemplo, autoridades pediram que os moradores saiam "enquanto é seguro". A região faz parte do Donbass, território onde a Ucrânia enfrenta separatistas pró-Moscou desde 2014 e onde duas repúblicas rebeldes foram reconhecidas como independentes pela Rússia dias antes do início da guerra.

As sanções ocidentais contra a Rússia ganharam novo impulso desde o fim de semana, quando centenas de corpos foram encontrados nas ruas e em valas comuns de Butcha, nos arredores de Kiev.

O cenário, descrito como massacre e genocídio e classificado de crime de guerra por aliados da Ucrânia, motivou uma nova onda de retaliações, incluindo a proibição das importações de carvão russo e do acesso de navios russos aos portos da União Europeia (UE). Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, há mais por vir. "Essas sanções não serão as últimas. Agora temos que analisar o petróleo e as receitas que a Rússia obtém dos combustíveis fósseis."

Os Estados Unidos também anunciaram novas medidas contra Moscou. O presidente Joe Biden discorreu sobre o tema no início da semana, quando voltou a chamar Vladimir Putin de criminoso de guerra, e nesta quarta, em uma publicação no Twitter, classificou as novas sanções de "devastadoras" e disse que elas eram o "preço imediato" que a Rússia teria que pagar pelas "atrocidades em Butcha".

Segundo a Casa Branca, as novas medidas serão coordenadas entre Washington, G7 e UE, imporão restrições adicionais a instituições financeiras e empresas estatais na Rússia e atingirão autoridades do governo russo e suas famílias. De acordo com funcionários do governo americano, duas filhas de Putin estão entre os alvos, além da esposa e da filha do chanceler Serguei Lavrov.

Em discurso ao Conselho de Segurança da ONU na terça (5), o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse que as sanções "devem ser proporcionais à gravidade dos crimes de guerra dos ocupantes" e que os líderes ocidentais vivem agora um "momento crucial".

Ele elogiou o novo pacote de punições, mas ressaltou que ainda não o considera suficiente —e que Moscou pode ver isso como "uma permissão para um novo banho de sangue no Donbass". O presidente acusou os russos de "mudarem de tática", dizendo que agora estão tentando remover corpos de ucranianos mortos das ruas e prédios em territórios ocupados.

No Vaticano, o papa Francisco condenou nesta quarta o que chamou de "massacre em Butcha" e beijou uma bandeira da Ucrânia enviada da cidade, à qual se referiu como "martirizada". "As notícias recentes da guerra na Ucrânia, em vez de trazer alívio e esperança, trouxeram novas atrocidades, como o massacre de Butcha", disse o pontífice no final de sua audiência semanal no Vaticano.

"Parem com esta guerra! Que as armas fiquem em silêncio! Parem de semear morte e destruição."

O papa Francisco segura bandeira da Ucrânia durante cerimônia no Vaticano - Vatican Media - 6.abr.22/Reuters

Quando beijou a bandeira, o líder católico foi aplaudido pelos milhares de pessoas que acompanhavam a cerimônia. Na sequência, convidou um grupo de crianças refugiadas da Ucrânia para se juntar a ele.

"Essas crianças tiveram que fugir para chegar a uma terra segura. Isso é fruto da guerra. Não vamos esquecê-las e não vamos esquecer o povo da Ucrânia", disse o papa. De acordo com o Acnur, agência da ONU para refugiados, mais de 4,2 milhões de pessoas deixaram a Ucrânia desde o início da guerra.

O pedido de paz feito pelo papa, no entanto, terá que esperar mais. Em entrevista coletiva nesta quarta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o diálogo com Kiev, que poderia encerrar o conflito, não está fluindo tão rapidamente como Moscou afirma querer.

"A única coisa que posso dizer é que o trabalho continua", disse Peskov ."Ainda há um longo caminho pela frente. O processo está em andamento, mas está se arrastando muito mais do que gostaríamos."

Tentando se posicionar como um possível intermediador entre Putin, seu aliado, e Zelenski, a quem chamou de adversário, o premiê da Hungria, Viktor Orbán, disse que ofereceu Budapeste como sede para um encontro entre as delegações russa e ucraniana com o objetivo de chegar a um cessar-fogo imediato.

O húngaro afirmou que a resposta de Putin foi "positiva", mas que o presidente russo também disse que um acordo do tipo viria acompanhado de algumas condições. O encontro proposto por Orbán contaria ainda com o francês Emmanuel Macron e o alemão Olaf Scholz, reeditando o chamado formato de Normandia, que já mediou outros conflitos recentes entre Kiev e Moscou.

Orbán, reeleito para o quinto mandato no último domingo, voltou a criticar a invasão russa da Ucrânia. "Trata-se de uma guerra que os russos começaram, e isso é uma agressão", disse. "Essa é a posição conjunta da União Europeia, e a Hungria compartilha dela."

Ainda assim, o premiê segue se opondo a sanções contra o petróleo e o gás russos —áreas nas quais a Hungria é dependente da Rússia— e a permitir que carregamentos de armas ocidentais passem pelo território do país para chegar à Ucrânia. Batendo de frente com a UE, ele chegou a dizer que o país pode aceitar a exigência de Moscou de pagar em rublos por esses produtos.

Com Reuters

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