Papa Francisco fala em diminuir ritmo e diz que renúncia 'não seria catástrofe'

Em avião, pontífice cita genocídio cultural de indígenas no Canadá após omitir termo em pedido de perdão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Avião Papal | AFP

Ao final de uma viagem de seis dias ao Canadá, o papa Francisco disse que deve diminuir o ritmo de deslocamentos do tipo e, respondendo a questionamentos de jornalistas que o acompanhavam no voo a Roma, voltou a tratar da possibilidade de renunciar ao cargo.

"Não acredito que possa manter o mesmo ritmo de viagens de antes. Acredito que, na minha idade e com esses limites, devo me poupar para poder servir à Igreja —ou, pelo contrário, pensar na possibilidade de me colocar de lado", disse o pontífice.

Francisco, 85, tem sido acometido por fortes dores no joelho, que recentemente passaram a obrigá-lo a se locomover em cadeira de rodas. Perguntado pelos repórteres sobre uma eventual renúncia, a exemplo do que fez seu antecessor, Bento 16, ele repetiu neste sábado que a porta foi aberta pelo hoje papa emérito. "Mas até hoje eu não empurrei essa porta. Como dizem, não senti isso, pensar nessa possibilidade. Mas isso não significa que depois de amanhã eu não vá começar a pensar."

O papa Francisco no avião que o levou de volta do Canadá para o Vaticano - Guglielmo Mangiapane/AFP

Em meio a especulações sobre o assunto, no início de julho o líder religioso negou rumores de que poderia desistir do cargo devido a seus problemas de saúde. Francisco já teve parte de um pulmão removido na juventude, sofre de dor ciática crônica e passou por uma operação no cólon em julho de 2021.

Na visita ao Canadá, a 37ª viagem internacional desde que se tornou papa, em 2013, ele se locomoveu principalmente em cadeira de rodas e em alguns momentos pareceu debilitado —ainda que não tenha se furtado a cumprimentar multidões a bordo do papamóvel e se levantado várias vezes em cerimônias.

"A viagem foi uma espécie de teste. É verdade que não podemos viajar nesse estado, talvez tenhamos que mudar um pouco o estilo, mas eu tentaria continuar a fazer isso, estar perto das pessoas, porque é uma forma de servir", disse. "Com toda a sinceridade, mudar de papa não é uma catástrofe. Mas acho que tenho que me limitar um pouco."

Citando que dependerá "do que as pernas disserem", ele indicou que pretende manter deslocamentos já estudados —especulações incluem idas a Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Líbano e Cazaquistão— antes de fazer novos planos.

Pontífice cita genocídio de indígenas após omitir termo

Na conversa com os jornalistas no avião papal, Francisco usou a palavra genocídio para qualificar o que aconteceu nos internatos católicos para crianças indígenas no Canadá ao longo de décadas. Sua viagem ao país da América do Norte se deu justamente para fazer um pedido histórico de desculpas pelo papel da Igreja nesses episódios —na ocasião, porém, ele não citou o termo.

Questionado sobre os motivos da omissão por um repórter indígena canadense que estava no avião, o pontífice respondeu: "É verdade que não usei a palavra, porque não me veio à mente, mas descrevi um genocídio. Pedi desculpas, pedi perdão por esse processo, que foi um genocídio".

Na sequência, ele reiterou a definição. "Condenei tudo isso: sequestro, mudança de cultura, mudança de mentalidade, de tradições, digamos, de toda uma cultura. Sim, genocídio é uma palavra técnica. Não usei porque não pensei nisso. Eu descrevi, é verdade, é genocídio."

Entre 1881 e 1996, mais de 150 mil crianças indígenas foram separadas de suas famílias e levadas para internatos no Canadá, parte dos quais administrados pela Igreja Católica. Muitas delas passaram fome, foram espancadas e abusadas sexualmente, em um sistema que a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá chamou de "genocídio cultural".

Ao longo de sua visita, o papa pediu em várias ocasiões perdão pelo papel desempenhado por "muitos cristãos" nesse sistema. Na segunda-feira (25), em visita a Maskwacis, local de dois antigos internatos, ele se desculpou oficialmente e chamou a assimilação forçada de "um mal e um erro desastroso".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.