Descrição de chapéu China

Entenda as entrelinhas do encontro entre Xi e Putin

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Igor Patrick

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As reportagens dando conta da primeira viagem internacional de Xi Jinping em dois anos estavam corretas. Nesta semana, o líder da China deixou o país rumo a uma turnê pela Ásia Central.

Na primeira parada, ainda na quarta (14) à noite (horário local), Xi chegou ao Cazaquistão. Por lá, foi recebido pelo presidente Kassim-Jomart Tokaiev no palácio presidencial e recebeu a Ordem da Águia Dourada, uma das maiores honrarias cazaques. Ele estava acompanhado por assessores, pelo chanceler Wang Yi, e o chefe da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, He Lifeng, considerado homem-forte do planejamento econômico chinês.

Xi Jinping acena ao entrar em avião após visita ao Cazaquistão - Press service of the President of Kazakhstan - 14.set.22/via Reuters

A parada seguinte, porém, foi a que mais chamou a atenção. O líder chinês partiu de Astana para Samarcanda, no sudeste do Uzbequistão. Oficialmente, a visita foi motivada pela 22ª reunião do Conselho de Chefes de Estado da Organização de Cooperação de Xangai, mas o evento de maior destaque até o momento é o encontro dele com o presidente russo, Vladimir Putin.

Desde as Olimpíadas de Inverno, quando Putin viajou a Pequim para a abertura, foi a primeira reunião presencial dos dois. Após o encontro, o lado chinês divulgou um documento citando Xi ao prometer "forte apoio mútuo em questões relativas a seus respectivos interesses centrais".

  • A agência de notícias estatal Xinhua também divulgou que Xi "disse que a China e a Rússia devem expandir a cooperação pragmática, salvaguardar a segurança e os interesses da região e preservar os interesses comuns dos países em desenvolvimento e países de mercados emergentes."
  • Ainda segundo a agência, a China está interessada em aprofundar a cooperação pragmática com a Rússia em comércio, agricultura e conectividade;
  • Mesmo com fotos cuidadosamente calculadas de Xi e Putin sorridentes e apertando as mãos, nem tudo parece ter sido flores. Putin elogiou a "posição equilibrada" da China na guerra da Ucrânia e considerou legítimas as "questões e preocupações" chinesas sobre o conflito.
  • É possivelmente um sinal de que Pequim não está contente com os rumos da invasão e, a despeito da promessa de colaboração irrestrita feita por Xi ao russo no início do ano, não deve ajudar Moscou, ao menos por ora.
O líder chinês, Xi Jinping, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante encontro no Uzbequistão - Alexandr Demianchuk/Sputnik - 15.set.22/AFP

Por que importa: É significativo que Xi tenha escolhido a Ásia Central para sua primeira visita internacional desde o início da crise da Covid. A região é estratégica para a Iniciativa Cinturão e Rota, que vinha sendo esquecida pela mídia e academia na China, mais preocupadas com o combate à pandemia.

O encontro com Putin, porém, trouxe mensagens inesperadas nas entrelinhas. Após a visita de Nancy Pelosi a Taiwan, muitos analistas conjecturavam sobre a possibilidade de apoio chinês à Rússia na Guerra da Ucrânia como forma de retaliar a interferência na ilha. A cúpula entre os dois líderes seria essencial para selar o acordo, o que definitivamente não aconteceu desta vez.

O que também importa

Oficiais do governo chinês estão conversando com a farmacêutica americana Moderna para acertar o possível fornecimento de vacinas de mRNA contra a Covid-19. A informação foi repassada pela CEO da empresa, Stephane Bancel, à agência de notícias Reuters.

A executiva não comentou se a vacina já foi enviada à China para aprovação, mas disse estar "aberta" e "ter capacidade" para suprir a demanda chinesa na eventualidade de uma possível encomenda do governo em Pequim.

Se acontecer, o negócio representará uma grande mudança na forma como a China vem lidando com a Covid-19. O país usa exclusivamente vacinas de fabricação própria baseadas na tecnologia de vírus inativado, considerada menos eficaz na proteção de infecção (especialmente contra a variante ômicron).

A China vem resistindo na adoção de imunizantes estrangeiros, temendo que a estratégia prejudique a credibilidade da Coronavac e do composto desenvolvido pela Sinopharm.

Profissionais colhem amostra para teste de Covid-19 em posto de Chengdu, na China - 1.set.22/AFP

A imprensa oficial chinesa negou que a política de Covid zero no país se tornará uma orientação governamental permanente. O comentário foi uma reação a uma postagem da ONU no perfil oficial da instituição no mensageiro WeChat.

O post relatava uma reunião durante a Assembleia Nacional marcada para a semana que vem que discutirá o fim do estado de pandemia de Covid-19. O diretor da OMS, Tedros Adhanom, é citado no post dizendo que "nunca estivemos em melhor posição para acabar com a pandemia."

Internautas chineses reagiram à notícia, muitos cobrando um plano de saída para a política de Covid zero no país. Os posts reclamam da quantidade de testes aos quais toda a população é submetida e citam a dificuldade para viagens internacionais. Alguns também debocharam da declaração de Tedros, anteriormente hostilizado pela imprensa local por criticar a abordagem chinesa de combate ao vírus.

Começou, então, a circular um vídeo atribuído a um funcionário da Comissão Nacional de Saúde, Chang Jile, dizendo que a China insistiria em testes em massa mesmo sem a ocorrência de surtos. O veículo estatal China News Service tratou de desmentir o boato, chamando-o de "grosseiramente impreciso" e dizendo que essa não será uma orientação perpétua do governo, sem maiores detalhes.

Fique de olho

O ex-secretário de Estado americano Mike Pompeo iniciou uma série de vídeos curtos no YouTube direcionados "ao povo da China".

Falando em inglês, mas com legendas em chinês, Pompeo inaugurou a empreitada alegando que o "Partido Comunista não representa o povo" e foi fundado por "um grupo de extremistas radicais e brutos, algo que não mudou muito até hoje."

Pompeo acusa ainda o partido de "odiar os Estados Unidos por temer que o povo chinês se inspire no exemplo de liberdade americana, a democracia mais antiga e influente do mundo."

Por que importa: Com os anos de experiência acumulados durante a gestão de Donald Trump, Mike Pompeo sabe bem que o vídeo dificilmente conseguirá contornar a censura chinesa e chegar ao povo de lá. Este também não parece ser o objetivo, já que ele nem sequer foi postado em redes acessíveis ao chinês comum, como o WeChat.

Assim, tudo aponta para a construção de uma persona aprazível aos republicanos, já se preparando para a corrida presidencial de 2024. Pompeo está de olho na cadeira ocupada por Joe Biden e, para isso, vale radicalizar o discurso contra a China, na esperança de agradar um eleitorado americano cada vez mais hostil às estratégias e aos interesses chineses.

Para ir a fundo

  • A Coordenadoria de Estudos da Ásia (Ceasia) da UFPE abriu inscrições para o minicurso "O Ocaso dos Qing: último século de Império na China". As aulas acontecem pelo Google Meet e quem tiver pelo menos 75% de frequência poderá requisitar certificado. (gratuito, em português)
  • A Ceasia também realiza nesta sexta (16) uma série de palestras sobre intercâmbios humanos e culturais entre o Brasil e a China. O evento acontece às 9h e às 19h e terá duração média de duas horas. Inscrições aqui. (gratuito, em português)
  • A UFSC abriu chamada para submissão de trabalhos para o 16º Colóquio Internacional em Economia Política, que acontecerá em dezembro. Até 6 de novembro, interessados podem enviar artigos sobre a conjuntura econômica mundial e as trocas entre Oriente e Ocidente. (gratuito, em português)
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