Descrição de chapéu União Europeia

Reino Unido de Elizabeth 2ª se tornou potência global, mas futuro político é incerto

Londres tenta alterar sua política externa atraindo aliados de fora da Europa

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Milão

Quando Elizabeth 2a assumiu o trono, em 6 de fevereiro de 1952, o Reino Unido se recuperava da Segunda Guerra Mundial e vivia os momentos finais do Império Britânico. Por três séculos o país havia se situado como uma potência militar, econômica e cultural, com territórios espalhados da América à Oceania. Mas os séculos 20 e 21 seriam de um lento processo de declínio.

Ainda que o país deixado pela rainha, morta nesta quinta (8) aos 96 anos, se mantenha entre os mais poderosos do mundo —é a sexta maior economia do planeta—, a resistência de seu protagonismo geopolítico é uma incógnita para as próximas décadas.

Cinco anos antes do começo do reinado de Elizabeth 2a, o Império Britânico havia perdido uma de suas possessões mais valiosas: a Índia; parte de um movimento de descolonização que se espalharia por África, Ásia e Caribe. No fim da década de 1990, Hong Kong, o último dos territórios significativos, foi devolvido para a China.

Bandeira britânica a meio mastro no Palácio de Buckingham, em Londres - Li Ying - 8.set.22/Xinhua

Simultaneamente, a chefe da monarquia se empenhava pessoalmente para fortalecer a Commonwealth, da qual foi chefe até 2018, quando passou a função para seu filho, o agora rei Charles 3º. A associação voluntária de nações tem 56 membros atualmente, mas quase nenhuma relevância geopolítica.

Essa condição única contribuiu para que o Reino Unido estivesse praticamente alheio ao que acontecia naquela época na sua vizinhança, do outro lado do Canal da Mancha. Menos de dez anos após a criação da Commonwealth moderna surgiu, em 1957, a Comunidade Econômica Europeia, base do bloco político e econômico que se tornaria o mais importante do mundo.

Foi só em 1973 que os britânicos aderiram ao grupo, mas nunca de forma integral. Na virada para o século 21, escolheram, por exemplo, não adotar o euro como moeda única, o que não foi obstáculo para o papel protagonista que dividiam com Alemanha, França e Itália. Uma relação considerada mais horizontal do que a com os Estados Unidos, em que por vezes ocupa o lugar de sócio minoritário.

Mas aí veio o brexit, aprovado em referendo em 2016, para mudar tanto o posicionamento do Reino Unido no jogo internacional quanto as certezas sobre a permanência de sua força global. A saída foi concretizada há mais de dois anos, mas a rainha morreu sem saber quais serão as reais consequências da despedida da UE.

Na tentativa de relançar sua política externa, o governo do Partido Conservador persegue, paralelamente ao brexit, a ambição de formar uma Grã-Bretanha Global, com alianças para além da Europa, notadamente na área dos oceanos Índico e Pacífico. A pandemia e a Guerra na Ucrânia colocaram areia no avanço do projeto, além de terem significados distintos para a imagem do país.

Enquanto a condução inicial da Covid-19 ficou distante daquela adotada pelos vizinhos europeus, a atuação contra a Rússia —com Boris Johnson sendo um dos mais vocais parceiros de Kiev, e a atual primeira-ministra Liz Truss servindo de sua secretária de Relações Exteriores— reaproximou o país da cúpula ocidental.

Para os analistas Jeremy Shapiro e Nick Witney, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, em um mundo de crescente competição geopolítica, avanços autoritários e coerção geoeconômica, Londres deveria combinar seus interesses com os de parceiros semelhantes.

"Com os EUA cada vez mais absortos e focados no Indo-Pacífico e na China, a UE é o parceiro geopolítico necessário do Reino Unido", escreveram em artigo publicado em dezembro. "A Grã-Bretanha Global é uma ilusão enraizada em um passado imperial mal evocado."

Após 70 anos de reinado, a rainha deixa um país que entre as maiores economias do mundo, membro do G7, com assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e ampla influência cultural. Resta saber o que Charles 3º, a primeira-ministra Liz Truss e companhia pretendem fazer com isso.


Países em que o monarca britânico é chefe de Estado

  • Austrália
  • Antígua e Barbuda
  • Bahamas
  • Belize
  • Canadá
  • Granada
  • Jamaica
  • Papua-Nova Guiné
  • Reino Unido
  • São Cristóvão e Névis
  • Santa Lúcia
  • São Vicente e Granadinas
  • Nova Zelândia
  • Ilhas Salomão
  • Tuvalu

Países que integram o Commonwealth

  • África do Sul
  • Antígua e Barbuda
  • Austrália
  • Bahamas
  • Bangladesh
  • Barbados
  • Belize
  • Botsuana
  • Brunei
  • Camarões
  • Canadá
  • Chipre
  • Dominica
  • Eswatini
  • Fiji
  • Gabão
  • Gâmbia
  • Gana
  • Granada
  • Guiana
  • Ilhas Salomão
  • Índia
  • Jamaica
  • Kiribati
  • Lesoto
  • Maláui
  • Malásia
  • Maldivas
  • Malta
  • Maurício
  • Moçambique
  • Namíbia
  • Nauru
  • Nigéria
  • Nova Zelândia
  • Papua-Nova Guiné
  • Paquistão
  • Quênia
  • Reino Unido
  • Ruanda
  • Samoa
  • Santa Lúcia
  • São Cristóvão e Névis
  • São Vicente e Granadinas
  • Serra Leoa
  • Seychelles
  • Singapura
  • Sri Lanka
  • Tanzânia
  • Tonga
  • Trinidad e Tobago
  • Tuvalu
  • Togo
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  • Vanuatu
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