Austrália reverte status de Jerusalém e volta a reconhecer Tel Aviv como capital de Israel

Primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, criticou decisão e acusou país da Oceania de ser influenciado pela mídia

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Camberra | Reuters

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, reverteu nesta terça-feira (18) uma decisão do governo anterior de reconhecer Jerusalém Ocidental como a capital de Israel, retornando a designação a Tel Aviv. O atual premiê australiano é do Partido Trabalhista, de centro-esquerda.

Segundo a ministra das Relações Exteriores do país, Penny Wong, o status de Jerusalém deve ser resolvido por meio de negociações de paz entre Israel e Palestina. Em comunicado, ela disse que a Austrália "sempre será uma amiga inabalável de Israel" e está comprometida com uma solução de dois Estados que preveja coexistência pacífica dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas.

Primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, durante discurso em Sydney
Primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, durante discurso em Sydney - David Grey -12.out.22/AFP

A decisão australiana de reconhecer Jerusalém como capital israelense foi liderada pelo então premiê Scott Morrison em dezembro de 2018, na esteira da transferência da embaixada americana para a cidade —à época, os EUA eram presididos por Donald Trump.

Camberra, porém, não repetiu o movimento imediatamente e frisou que isso só aconteceria após um acordo de paz entre israelenses e palestinos. Ainda assim, estabeleceu um escritório encarregado de defesa e comércio na parte oeste da cidade.

O movimento de Morrison também tinha como pano de fundo a política interna, buscando garantir o eleitorado judeu e cristão conservador, crucial para a sustentação de sua então estreita maioria no Parlamento. A estratégia deu certo e, na eleição do ano seguinte, seu partido conseguiu ampliar a base no Legislativo.

Nesta terça, Wong disse a repórteres que a decisão de Morrison em 2018 "colocou a Austrália fora de sintonia com a maior parte da comunidade internacional" e foi recebida com preocupação pela Indonésia, vizinha de maioria muçulmana. À época, Jacarta congelou as negociações com Camberra para um acordo de comércio bilateral.

"Lamento que a decisão de Morrison de fazer política tenha resultado na mudança de posição da Austrália e na angústia de muitos australianos que se preocupam profundamente com essa questão", disse ela.

Após o anúncio, o jornal britânico The Guardian confirmou que o Departamento de Relações Exteriores e Comércio da Austrália já havia removido a linguagem que descreve Jerusalém Ocidental como capital israelense.

O primeiro-ministro de Israel, Yair Lapid, criticou a mudança e acusou o governo da Austrália de ser influenciado pela mídia. "À luz da maneira como a decisão foi tomada, como uma resposta precipitada a notícias incorretas na mídia, só podemos esperar que o governo australiano administre outros assuntos com mais seriedade e profissionalismo", disse em comunicado.

Paralelamente, o Ministério das Relações Exteriores israelense expressou "profunda decepção" com o anúncio.

O governo palestino, por sua vez, chamou a medida de "correção de um erro cometido pelo governo anterior" e pressionou Camberra a reconhecer o Estado da Palestina.

Na prática, apenas quatro países têm hoje embaixadas em Jerusalém: EUA, Guatemala, Honduras e Kosovo. Em 2018, ainda quando estava em campanha à Presidência, o brasileiro Jair Bolsonaro (PL) anunciou planos de transferir a representação diplomática do país de Tel Aviv. Depois de eleito, porém, disse que a decisão ainda não estava tomada.

No mesmo ano, seu filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que a mudança estava decidida. "A questão não é perguntar se vai, a questão é perguntar quando será." Desde então, porém, Bolsonaro não avançou com o tema, tremendo principalmente retaliações econômicas de países árabes.

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