EUA têm mais um movimento que tenta impulsionar 'terceira via' para eleições

'No Labels' quer emplacar candidatos como alternativa a polarização entre democratas e republicanos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Tentando evitar uma eleição polarizada como a de 2020 —ou como o pleito brasileiro em andamento— um grupo de eleitores nos Estados Unidos está formatando uma nova terceira via, chamada "No Labels" (sem rótulos).

Não é um novo partido para disputar com o Republicano e o Democrata, mas algo que poderia unir os dois extremos do "nós contra eles", um centro calculado em 64,5 milhões de eleitores —um terço dos que votaram em Donald Trump na última votação e 20% dos que elegeram Joe Biden.

Diferentemente de um novo partido a ser lançado, o Forward (para a frente), que reúne ex-filiados às duas grandes legendas, o No Labels só pretende entrar na cena eleitoral se republicanos e democratas se enfrentarem a partir de posições radicais. Se houver um candidato aceitável para o eleitorado de centro, o movimento não intervirá e deve permanecer quieto, como nos meses em que começou a ser criado.

Seria uma iniciativa desconhecida, não fosse o colunista do New York Times David Brooks descobri-lo e apresentá-lo.

Joe Biden e Donald Trump durante debate eleitoral no Tennessee às vésperas do pleito presidencial de 2020 - Jim Bourg -22.out.20/Reuters

O novo projeto de terceira via arrecadou US$ 46 milhões dos US$ 70 milhões que precisa para operar. Está agora abrindo um espaço para mais um candidato nas cédulas da eleição de 2024. A missão foi entregue a um grupo de advogados, estrategistas políticos e empresas de coleta de assinaturas para petições. Só em Ohio já foram reunidos 100 mil apoiadores; no Arizona, 47 mil.

"O momento exige que líderes e cidadãos americanos declarem sua liberdade da raiva e divisão que estão arruinando nossa política e, mais importante, o nosso país", explica o No Labels em seu site oficial. "Acreditamos numa ética de responsabilidade mútua, na qual tanto o governo como os cidadãos devem algo um ao outro."

Uma pesquisa do YouGov mostrou que 60% dos democratas consideram o Partido Republicano uma "séria ameaça para os EUA". O levantamento apontou chumbo trocado com os republicanos —70% pensam o mesmo sobre a sigla de Biden. Outra sondagem, do Pew Research Center, antes da eleição de 2020, indicou que que sete entre dez democratas afirmaram que não namorariam eleitores de Donald Trump. Nem a pandemia da Covid-19 uniu o país, como aconteceu também no Brasil.

O No Labels ainda não decidiu como deverá nomear o candidato para concorrer como alternativa à polarização. Mas, como antecipado ao NYT, o processo terá uso farto de tecnologia e precisará ser transparente, talvez até com a realização de uma convenção no Texas. Os possíveis candidatos não terão que deixar seus partidos, porque não se trata de criar uma terceira sigla, mas uma terceira opção.

David Brooks simulou uma campanha polarizada em que o No Labels proponha o almirante aposentado William McRaven, ou a CEO da PepsiCo, Indra Nooyi, como terceira via. A conclusão foi de que o perigo maior seria desidratar os democratas, se a candidata fosse Hillary Clinton, como em 2016, e então dar a Trump um novo mandato.

O No Labels já marcou posição em questões políticas que levam, em geral, à radicalização: menores de 21 anos sem acesso a armas, aborto legal só até 15 semanas de gravidez, reforma das leis de imigração com uma porta para a cidadania e autossuficiência em energia.

"Acreditamos que a união dos americanos em casa nos torna mais fortes no estrangeiro. O Partido Comunista Chinês, a Rússia e outros regimes totalitários que ameaçam os interesses americanos se beneficiam das divisões internas dos EUA, e as exploram", diz o grupo, citando os dois principais antagonistas de Washington no cenário geopolítico global.

Os articuladores do No Labels defendem ainda o retorno ao ideal de que "a política deve parar à beira da água". É uma referência ao objetivo de, a despeito de divisões domésticas, apresentar o país em unidade à comunidade internacional —em outras palavras, lavar a roupa suja em casa.

"Essas crenças têm estado na base da democracia americana desde a sua fundação. Se parecem novas para alguns, é apenas porque muitos na nossa vida pública as esqueceram ou as ignoraram", afirmam os aspirantes.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.