Europa propõe criar 'novo plano Marshall' para Ucrânia e trata país como membro da UE

Líderes europeus reforçam compromisso do bloco com a reconstrução do país após a guerra

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Berlim | Reuters

O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, disse nesta terça-feira (25) que a Europa planeja um plano bilionário para ajudar a reconstruir a Ucrânia após a guerra. Em uma conferência em Berlim, líderes da União Europeia trataram Kiev como membro do bloco, atiçando tensões com Vladimir Putin, que usa a expansão do grupo para perto de suas fronteiras como uma das justificativas para a invasão do vizinho.

"Essa não é uma conferência regular de doadores", disse Scholz, acrescentando que o projeto "é algo mais profundo, um novo Plano Marshall para o século 21". O alemão fazia referência ao programa de ajuda econômica dos EUA aos países da Europa Ocidental após a Segunda Guerra. A conferência desta terça reuniu líderes nacionais, chefes de empresas e especialistas em desenvolvimento.

Premiê da Alemanha, Olaf Scholz, fala em conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, em Berlim
Premiê da Alemanha, Olaf Scholz, fala em conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, em Berlim - Michele Tantussi -25.out.22/Reuters

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participou do encontro por videoconferência e disse que mísseis russos e drones iranianos destruíram mais de um terço da infraestrutura energética do país. Ele também voltou a pedir ajuda financeira do bloco europeu para a manutenção da rede.

Na semana passada, a União Europeia anunciou que dará a Kiev € 1,5 bilhão (R$ 7,9 bi) por mês em 2023, para ajudar o governo a se manter enquanto o Exército luta contra as tropas da Rússia. É incerto, porém, se esse auxílio conseguirá evitar a catástrofe anunciada com a iminente chegada do inverno no hemisfério Norte, ainda que o bloco também tenha anunciado ajuda para restabelecer o abastecimento de água, energia e eletricidade.

A Ucrânia estima que os danos físicos da guerra somam US$ 750 bilhões (R$ 3,9 trilhões), considerando a destruição de hospitais, escolas e fábricas; o Banco Mundial apontou em setembro que os estragos custariam US$ 349 bilhões (R$ 1,8 tri).

"É a Ucrânia que pode garantir que o revanchismo russo não destrua nosso lar europeu", disse Zelenski, acrescentando que investir em seu país "é investir na reconstrução de um futuro membro da União Europeia".

A adesão de Kiev ao bloco voltou a ser mencionada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que reforçou o status da Ucrânia como candidata ao grupo. Na prática, porém, o caminho para a adesão efetiva pode levar décadas, uma vez que o processo exige reformas profundas no país.

Uma eventual adesão também está condicionada aos rumos da guerra.

Ainda nesta terça, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, visitou Kiev de surpresa e prometeu mais apoio, principalmente na defesa aérea. "Continuaremos apoiando a Ucrânia econômica, política e militarmente", afirmou.

Na Alemanha, o cargo de presidente é em grande parte cerimonial, mas o apoio de Steinmeier reforça a postura da principal economia da UE à Ucrânia. O alemão foi um defensor da construção do gasoduto Nord Stream 2, projeto que dobraria o fluxo de gás da Rússia para a Alemanha e consolidaria a influência do Kremlin na rede energética europeia.

Do lado russo, Putin pediu nesta terça a simplificação da estratégia militar de seu país no conflito, reforçando a necessidade de eliminar extremismos de Kiev. A declaração se segue a uma série de notícias sobre a suposta desorganização das tropas russas no país vizinho, incluindo a falta de suprimentos.

Na prática, a declaração surgiu quase como um ultimato: "A reforma administrativa é impossível sem uma coordenação mais ampla entre todos os departamentos: o bloco econômico, o bloco de segurança e as regiões".

No front diplomático, Moscou intensificou nesta terça as acusações de que a Ucrânia pretende montar e usar uma chamada "bomba suja" no conflito —esses artefatos, também chamados de dispositivo de dispersão radiológica (RDD na sigla em inglês), são um míssil convencional aditivado com materiais radioativos; quando detonados, espalham produtos química ou biologicamente tóxicos.

Como anunciado previamente, o país levou o caso ao Conselho de Segurança da ONU. "Estamos satisfeitos porque chamamos a atenção para isso", disse Dmitri Polianski, diplomata do país nas Nações Unidas. "Não ligo se as pessoas dizem que a Rússia está fazendo drama a respeito, isso seria um desastre terrível."

Ele reforçou que Moscou repassou a países do Ocidente, com "o nível necessário de informações", os dados de inteligência que indicariam o suposto preparo da "bomba suja" por Kiev. França, Reino Unido e EUA, porém, rejeitaram as alegações da Rússia, reafirmando seu apoio à Ucrânia e dando a entender que a acusação poderia configurar um caso de "bandeira falsa".

"A Rússia cometeria um erro incrivelmente grande ao usar uma arma nuclear tática", disse o americano Joe Biden nesta terça. "Não estou dando a certeza de que isso seria uma operação de 'bandeira falsa', ainda não sabemos. Mas seria um erro grave."

Em aparente resposta às alegações de Moscou, a agência nuclear da ONU disse que estuda o envio de inspetores a dois locais na Ucrânia, a pedido de Kiev.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.