Descrição de chapéu União Europeia

Giorgia Meloni nega simpatia pelo fascismo em 1º discurso ao Parlamento

Líder de partido com origem fascista, primeira-ministra tenta moderar discurso ao obter voto de confiança

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São Paulo

A nova primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, fez de seu primeiro discurso ao Parlamento nesta terça (25) um espaço para negar vínculos com o fascismo —a despeito da origem histórica de seu partido e das posições por vezes extremas dos líderes da coalizão de ultradireita que a levou a chefiar o governo.

"Nunca senti qualquer simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos. Por nenhum regime, incluindo o fascismo", disse Meloni, acrescentando que considera as leis antissemitas implementadas pelo ditador Benito Mussolini no fim dos anos 1930 "o ponto mais baixo da história italiana, uma vergonha que manchará nosso povo para sempre".

Ainda aos 15 anos, a política ingressou na seção juvenil do Movimento Social Italiano (MSI), partido fundado em 1946 por membros da parte final do regime de Mussolini. O logo de sua atual legenda, o Irmãos da Itália, tem uma chama com as três cores da bandeira —também herança fascista— e integrantes que até hoje comemoram datas ligadas ao movimento.

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o vice-premiê Matteo Salvini, ambos de ultradireita, durante sessão parlamentar em Roma - Andreas Solaro - 25.out.22/AFP

Como esperado, Meloni abordou vários temas das políticas interna e externa da Itália –seu discurso tinha 16 páginas e durou mais de uma hora, segundo o jornal Corriere della Sera. A primeira mulher a assumir o governo do país voltou a prometer que manterá a linha dura da União Europeia contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, defenderá sanções contra Moscou e seguirá apoiando a Ucrânia na guerra.

"Ceder à chantagem de Putin sobre a energia não resolveria o problema, mas o exacerbaria ao abrir caminho para mais demandas e chantagens", disse Meloni, em referência à crise energética que assombra a Europa às vésperas do inverno e aos cortes de fornecimento de gás russo ao continente.

Na semana passada, a líder italiana já havia marcado posição ao afirmar que seu governo seria pró-Otan, aliança militar ocidental, e pró-Europa, em um sinal de discordância com seu colega de coalizão e ex-premiê Silvio Berlusconi –amigo de Putin.

O que parece diferir as políticas de Meloni das de outros governos europeus talvez seja a maneira de lidar com o aumento nos preços do gás. Enquanto parte da Europa defende a aceleração do desenvolvimento de energias renováveis, ela defende que pauta ambiental precisa ter como foco o cidadão —um eufemismo para o impacto econômico de uma eventual transição energética.

"O que nos distingue do ambientalismo ideológico é que queremos defender a natureza com o homem dentro", afirmou, deixando no ar a possibilidade de ser uma pedra no sapato da União Europeia em relação ao tema, ainda que tenha defendido investimentos em energias renováveis.

Meloni também frisou seu apoio a políticas de auxílio para famílias e empresas endividadas devido à alta da inflação —outros líderes europeus anunciaram medidas semelhantes nos últimos dias. "O contexto em que o governo terá que agir é muito complicado, talvez o mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial", disse, acrescentando que a Itália pode entrar em recessão em 2023.

O anúncio da primeira-ministra pode intensificar disputas internas na coligação de ultradireita. Isso porque Meloni já cogita o adiamento de algumas de suas principais bandeiras de campanha, incluindo medidas apoiadas por Matteo Salvini. O líder da Liga, segunda maior força da aliança, é vice-premiê e ministro da Infraestrutura.

Meloni disse ainda que sua administração tentará impedir o contrabando de pessoas no mar Mediterrâneo e trabalhará com os governos da África para ajudar a deter os fluxos de migrantes do continente. A despeito de sua notória bandeira anti-imigração, a nova líder se mostrou contrária ao bloqueio naval imposto por Salvini em 2019, que proibia a chegada de navios com imigrantes na costa italiana.

Em uma clara tentativa de moderar seu discurso e, consequentemente, a visão sobre seu governo, Meloni ainda elogiou seu antecessor, Mario Draghi, por, segundo ela, ter facilitado uma "transição rápida e pacífica". Durante vários momentos, parlamentares aplaudiram de pé a primeira-ministra –incluindo membros da oposição, no momento em que se mencionaram políticas para o combate à pobreza.

Ao final, a Câmara votou uma moção de confiança ao novo governo, aprovada por 235 a 154, com cinco abstenções. Uma votação semelhante é esperada no Senado, onde a aliança tem maioria, nesta quarta —ambas são formalidades para a oficialização do cargo.

Com AFP e Reuters

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