Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Otan e Rússia simulam ataques nucleares em meio à Guerra da Ucrânia

Para especialista, aliança deveria adiar manobra; China pede saída de seus cidadãos de solo ucraniano

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São Paulo

A Otan, aliança militar liderada pelos Estados Unidos, iniciou nesta segunda-feira (17) seu exercício anual de simulação de ataques nucleares na Europa. A Rússia deverá começar sua versão da manobra antes do fim da ação ocidental.

Isso já ocorreu antes, mas nunca com um conflito ativo no continente, iniciado pela Rússia quando invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.

Um bombardeiro estratégico B-52 é escoltado por dois caças Typhoon da Força Área Real
Um bombardeiro estratégico B-52 é escoltado por dois caças Typhoon da Força Área Real - Alex Scott - 10.fev.2022/Ministério da Defesa do Reino Unido/Reuters

"Ao se negar a adiar ou cancelar o Steadfast Noon [meio-dia com firmeza, código do exercício], a Otan pode criar de forma não intencional a impressão de que ambos os lados estão sacudindo suas espadas nucleares em meio a uma grande guerra", afirmou em artigo Hans Kristensen, um dos maiores especialistas em armas nucleares do planeta.

"Isso pode minar a habilidade de estigmatizar o comportamento nuclear irresponsável da Rússia", disse ele, que dirige o projeto de informações nucleares da prestigiosa Federação dos Cientistas Americanos.

Desde as vésperas da guerra, o presidente Vladimir Putin vem usando a carta nuclear: fez um exercício de armas estratégicas poucos dias antes da invasão e, quando disparou o conflito, ameaçou quaisquer países que interferissem na sua ação sugerindo o uso da bomba.

De tempos em tempos, autoridades de seu governo lembravam o mundo dos riscos de uma Terceira Guerra Mundial devido ao apoio do Ocidente a Kiev. Em 30 de setembro, quando assinou a anexação de quatro regiões ucranianas, Putin sugeriu que iria defendê-las "com todos os meios possíveis". Seu aliado Dmitri Medvedev, presidente de 2008 a 2012, citou os meios atômicos explicitamente.

No começo da guerra, os EUA chegaram a cancelar o teste de um míssil intercontinental para evitar provocar o Kremlin, mas depois lançaram quatro de uma só vez. Agora, a Otan manteve o Steadfast Noon mesmo sabendo que ele deverá coincidir com a edição de 2022 do Grom (trovão, em russo).

São exercícios de natureza diferente. No Steadfast Noon, 60 aviões de 14 países participarão da simulação de ataques nucleares que se pretendem táticos, ou seja, com bombas de menor potência visando deter forças adversárias, mas não obliterar cidades.

Isso, ao menos, é o que se intui, já que os dados precisos são secretos. Um grupo de bombardeiros estratégicos B-52 foi enviado para a base belga de Kleine Brogel, uma das seis em que os EUA guardam bombas táticas B61 na Europa —as outras ficam na Alemanha, na Holanda, na Itália e na Turquia.

Os exercícios irão ocorrer lá, no Reino Unido e sobre o mar do Norte. Participam também aviões de apoio de países que não têm armas nucleares suas ou dos EUA em solo, além de caças com capacidade de lançar tais bombas. Nenhuma ogiva real é transportada.

Já o Grom, retomado a partir de 2019, tem um caráter mais amplo por simular o emprego de armas estratégicas, aquelas que visam ganhar as guerras destruindo cidades e áreas industriais. A Otan afirmou esperar que neste ano haja novamente o lançamento de pelo menos um míssil intercontinental, além do envolvimento de submarinos e bombardeiros.

Que tudo isso aconteça enquanto a Rússia está em ação contra forças equipadas pelo Ocidente na Ucrânia envolve riscos. Em 1983, o mundo quase foi à guerra porque a União Soviética estava convencida de que uma série de exercícios da Otan na Europa era o prelúdio de um ataque real. Washington e Moscou controlam 90% dos arsenais atômicos do mundo.

O Steadfast Noon vai até o dia 30, e o Grom não teve data oficialmente anunciada —a Otan acredita que ele comece até o início da semana que vem. A situação causou incômodo na China, principal aliada de Putin. O jornal China Daily, o maior em língua inglesa publicado pelo Partido Comunista, criticou em editorial o exercício ocidental, chamado de "altamente irresponsável".

O Ministério das Relações Exteriores chinês pediu que todos os seus cidadãos deixem a Ucrânia devido ao acirramento das tensões, o que levou a especulações em redes sociais acerca do eventual conhecimento de Pequim de algum plano de Putin de empregar armas nucleares.

O russo invadiu a Ucrânia 20 dias depois de um encontro histórico com o líder Xi Jinping, no qual forjaram publicamente uma parceria estratégica que já vinha se desenhando na prática.

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