Papa Francisco adia fim de consulta democrática sobre reformas da Igreja

Reuniões que buscam atrair propostas acerca de temas variados durarão até outubro de 2024

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São Paulo

O papa Francisco anunciou neste domingo (16) que o Vaticano adiará em um ano o fim do sínodo que procura reunir todos os fiéis, padres e sacerdotes para discutir reformas da Igreja Católica. Antes previsto para encerrar em outubro do ano que vem, o movimento agora durará ao menos até o mesmo mês de 2024.

Criado no ano passado, o sínodo da sinodalidade (maneira de ser e de agir da Igreja) é o maior movimento de consulta democrática da história da Igreja, marcada por séculos de hierarquia rígida, conservadorismo e pouca transparência.

Papa Francisco abençoa fiéis na praça de São Pedro, no Vaticano
Papa Francisco abençoa fiéis na praça de São Pedro, no Vaticano - Filippo Monteforte -15.out.22 /AFP

O desejo de Francisco era de que os 1,3 bilhão de católicos fossem ouvidos sobre o futuro da Igreja, mas é incerto o número de fiéis que chegaram a participar diretamente dos encontros.

Na primeira fase do sínodo, iniciada ainda em 2021, as sugestões foram colhidas em reuniões nas próprias igrejas locais. Já a segunda fase está prevista para acontecer em março do ano que vem, quando membros de paróquias de vários países do mesmo continente se reunirão para debater as propostas recebidas.

A terceira fase do movimento consiste na discussão dessas ideias no Sínodo dos Bispos –assembleia periódica que auxilia o pontífice a tomar as decisões sobre as atividades da Igreja no mundo. A mudança anunciada neste domingo está justamente nesta fase, agora programada para ocorrer em duas sessões, programadas para 2023 e 2024.

"São muitos os frutos do processo sinodal, mas para que amadureçam plenamente é preciso não ter pressa", disse Francisco a milhares de pessoas na praça de São Pedro. "Estou confiante de que esta decisão [adiamento] pode favorecer a compreensão da sinodalidade como dimensão constitutiva da Igreja e ajudar a todos a vivê-la num caminho de irmãos e irmãs que testemunham a alegria do Evangelho", acrescentou.

Mais tarde, o Vaticano defendeu em comunicado que "o Sínodo não é um evento, mas um processo, no qual todo o Povo de Deus é chamado a caminhar junto para o que o Espírito Santo o ajude a discernir a vontade do Senhor para sua Igreja".

Espera-se que o movimento ajude o Vaticano a acelerar a maior participação feminina na tomada de decisões e a intensificar o acolhimento a grupos ainda marginalizados pelo catolicismo tradicional —de homossexuais a divorciados em segunda união.

Ao final das discussões, porém, as decisões seguem como sempre: respeitando a hierarquia tradicional —apesar do caráter democrático da consulta pública, caberá ao papa a palavra final sobre os temas propostos.

Desde que assumiu o Vaticano, Francisco já organizou quatro sínodos. Os dois primeiros debateram a família, o terceiro abordou a questão dos jovens, e o último, ocorrido em 2019, tratou da religiosidade na Amazônia, palco de desmatamento acelerado nos últimos anos.

Segundo reportagem da BBC publicada no ano passado, "ao contrário de papas anteriores, Francisco já vinha aprofundando essa participação popular, incentivando que os sínodos não fossem apenas encontros de bispos de várias partes do mundo, com suas visões e experiências distintas, mas sim que esses religiosos trouxessem para o Vaticano resultados de consultas feitas em suas comunidades".

A reforma da Igreja Católica sob Francisco, aliás, é pauta constante no dia a dia do Vaticano. Em junho, por exemplo, entrou em vigor a reforma da cúria romana, corpo administrativo que auxilia o Papa a exercer o seu poder. Desde então, católicos comuns, inclusive mulheres, podem presidir um dicastério [departamentos do governo da Igreja Católica]. Durante séculos, os cargos de chefia foram ocupados por clérigos do sexo masculino, geralmente cardeais ou bispos.

Na mesma linha, no ano passado Francisco pela primeira vez nomeou uma mulher para a posição número dois no governo da Cidade do Vaticano, tornando a irmã Raffaella Petrini a mulher de mais alto escalão no menor estado do mundo. Ele também nomeou a freira italiana Irmã Alessandra Smerilli para o cargo interino de secretária do escritório de desenvolvimento do Vaticano, que lida com questões de justiça e paz.

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