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Repressão no Irã contra atos que desafiam regime avança sobre mulheres jornalistas

Ao menos 18 foram presas desde morte de Mahsa Amini, que desencadeou onda de protestos na nação do Oriente Médio

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A repressão do regime teocrático do Irã em meio a protestos que já duram um mês tem mirado também profissionais da imprensa. Ao menos 18 mulheres jornalistas foram presas pelas autoridades, segundo monitoramento de uma ONG especializada no tema.

A cifra agrava a dianteira do Irã como país que mais encarcera jornalistas mulheres, de acordo com a Coalizão para Mulheres no Jornalismo, de Nova York. Ao todo, 38 estão detidas no país, seguido por três autocracias: China (16), Belarus (10) e Mianmar (9).

Mulheres realizam ato em apoio a iranianas na capital francesa, Paris, e seguram cartazes com fotos de Mahsa Amini - Christian Hartmann - 1º.out.22/Reuters

Outros monitoramentos paralelos corroboram o cenário de assédio judicial e a tentativa de asfixiar a liberdade de imprensa no país do Oriente Médio. Até a última segunda (10), o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês) havia relatado 40 prisões de profissionais da imprensa em meio aos recentes protestos.

A onda de mobilização, uma das maiores desde a Revolução de 1979, teve início após a morte da jovem curda Mahsa Amini, 22, quando estava sob custódia da polícia moral do país. Detida em Teerã por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da maneira correta, ela foi levada para uma delegacia e, dali, foi para o hospital.

O regime alega que Amini morreu em decorrência de um problema cardíaco, versão que a família e ativistas contestam —ela teria sido vítima de agressões dos agentes. O pai da jovem afirma que foi impedido de ver o relatório da autópsia do corpo da filha.

Desde a morte de Amini, em 16 de setembro, centenas de protestos, majoritariamente liderados por mulheres, vêm sendo conduzidos em diferentes partes do país. Os atos ganharam volume e força à medida que estudantes e universitárias se somaram à mobilização.

O regime tem minimizado os atos e manifestantes. O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, disse nesta sexta (14) que nenhum cidadão deve pensar que poderá abalar a cúpula no poder. Ele comparou o regime a uma árvore inabalável: "Aquela muda é uma árvore poderosa, e ninguém deve ousar pensar que pode arrancá-la".

Uma das jornalistas presas desde o início da mobilização é Niloofar Hamedi, especializada em direitos das mulheres e repórter do jornal Al Sharq. Ela foi uma das primeiras profissionais da imprensa a detalhar o caso da morte de Amini para o público.

Mohammad Ali Kamfirouzi, seu advogado, informou que agentes da inteligência iraniana invadiram a casa de Hamedi, confiscaram pertences e a prenderam. Ela ainda não foi formalmente acusada, mas está sendo mantida em uma solitária na prisão de Evin.

O estopim teria sido a publicação de uma foto dos pais de Amini chorando no hospital onde a filha havia sido internada. A conta no Twitter da jornalista, pouco depois, apareceu como suspensa.

O Irã está entre os dez piores países do mundo em termos de liberdade de imprensa, de acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras. Em uma classificação de 180 países, está na 178º posição.

Ainda que a Constituição do país garanta a liberdade de imprensa, uma lei da década de 1980 permite que autoridades punam jornalistas que, segundo avaliação de Teerã, tenham colocado o país em risco, ofendido o clero e o líder supremo ou divulgado o que for considerado como informações falsas.

Segundo a ONG Direitos Humanos no Irã, mais de 200 civis morreram devido à repressão. Multiplicam-se também as denúncias sobre mortes de menores de idade. A organização estima que entre as vítimas estejam ao menos 23 pessoas com menos de 18 anos, cifra corroborada pela Anistia Internacional.

Comunicado da ONG publicado na quinta (13) afirma que 20 dos mortos seriam meninos com idades de 11 a 17 anos, e 3, meninas, sendo duas de 16 e uma de 17. A maioria morreu após disparo de tiros, alguns à queima-roupa, e por espancamentos.

"As forças de segurança do Irã mataram quase duas dúzias de crianças em uma tentativa de esmagar o espírito de resistência entre os jovens corajosos do país", disse Heba Morayef, da Anistia. "Se a comunidade internacional fosse uma pessoa, como olharia os pais dessas crianças nos olhos? Abaixaria a cabeça envergonhada por sua inação contra a impunidade generalizada das autoridades iranianas?"

O ministro da Educação iraniano, Yusef Nuri, admitiu que estudantes foram apreendidos nas ruas e em escolas. "Não há muitos; não posso dar um número exato", disse ele ao jornal local Shargh na quarta. Também afirmou que os adolescentes estão em centros psicológicos, nos quais devem ser "reeducados".

A pressão internacional tem crescido. Nesta sexta, Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia (UE), disse ter pedido ao chanceler iraniano que o país interrompa a repressão. "Manifestantes devem ser libertados, e o acesso à internet é necessário."

Mensagem semelhante havia sido dada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, que expressou admiração pelas iranianas que protestam nas ruas. O regime acusou Paris de promover ingerência em assuntos internos e de motivar "atos violentos e que infringem a lei".

Com AFP e Reuters

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