Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia diz que prendeu responsáveis por explosão de ponte na Crimeia

Dano a megaestrutura de Putin foi gatilho para retaliação em forma de mísseis contra a Ucrânia

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Moscou | Reuters

O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) afirmou nesta quarta-feira (12) que deteve oito pessoas por uma explosão na ponte que liga a Rússia à península da Crimeia no sábado. Segundo a agência, principal herdeira da KGB soviética, cinco cidadãos russos e três da Ucrânia e da Armênia foram presos.

Trem que transportava combustível pega fogo na ponte Kertch, que liga o território russo à Crimeia - 8.out.22/AFP

De acordo com o FSB, a explosão foi planejada pela inteligência militar ucraniana e por seu diretor, Kirilo Budanov. A bomba teria sido transportada da Ucrânia para a Rússia através da Bulgária, da Geórgia e da Armênia. O órgão afirmou ainda que preveniu outros ataques em Moscou e na cidade de Briansk, no oeste do país.

As descobertas foram minimizadas pela Ucrânia. Em entrevista à emissora pública Suspilne, o porta-voz do Ministério do Interior, Andrii Iusov, qualificou as alegações de absurdas e disse que tanto o FSB quanto a comissão criada para apurar as causas da explosão são "estruturas falsas que servem ao regime de [Vladimir] Putin".

O país invadido não reivindicou a autoria da ação, mas diversas autoridades desfilaram satisfação ao postar a imagem da ponte em chamas nas redes sociais. O chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa, Oleksii Danilov, publicou um vídeo do incidente ao lado de outro de Marilyn Monroe cantando "feliz aniversário, senhor presidente" —Putin havia completado 70 anos na véspera.

A explosão destruiu uma parte da rodovia, interrompendo o trânsito temporariamente. Também provocou um incêndio em sete tanques de um trem que transportava combustível. Ao menos três pessoas, que estariam em um carro ao lado do veículo, morreram.

A estrutura sobre o estreito de Kertch é considerada uma rota crucial de abastecimento para as tropas de Putin no país invadido. A ponte havia sido inaugurada em 2018, quatro anos depois da anexação da Crimeia pela Rússia, e representava um símbolo da união entre os dois territórios. Putin esteve presente na pomposa inauguração e definiu a conexão sobre a faixa d'água, que separa os mares Negro e de Azov, como um milagre.

As forças russas contra-atacaram dias depois da explosão, no mais amplo bombardeio a cidades da Ucrânia desde o início da guerra. Na segunda, ao menos 84 mísseis atingiram alvos em 12 regiões e nos 11 principais centros urbanos do país, como Kiev, Kharkiv e Lviv, de acordo com o Exército ucraniano. A capital registrou ao menos quatro explosões, e 19 pessoas morreram. Na terça, bombardeios em Zaporíjia, região ocupada pelos russos no sul, mataram outras sete pessoas e danificaram mais infraestrutura civil.

Procuradores da Justiça Móvel Internacional —iniciativa que auxilia o governo ucraniano a apurar infrações de direitos humanos e outros—, investigam se os ataques configuram crimes de guerra, e visitaram a capital para avaliar os danos. A Rússia nega reiteradamente ter civis como alvos.

O papa Francisco condenou o que descreveu como "bombardeios incansáveis" que promovem um "furacão de violência", em seu discurso semanal na praça São Pedro, no Vaticano. Os aliados de Volodimir Zelenski no Ocidente também denunciaram amplamente o episódio, comprometendo-se em reuniões do G7 e da Otan a enviar mais assistência à nação invadida.

O Kremlin voltou a criticar as duas organizações nesta quarta, acusando o Ocidente de aumentar as tensões ao apoiar as forças ucranianas. Para Moscou, o G7 deve responsabilizar Kiev pelos crimes que cometeu —um eco da guerra de versões que caracteriza o conflito— e não restam dúvidas de que a Otan luta ao lado de Zelenski depois de uma declaração do secretário-geral da aliança, o norueguês Jens Stoltenberg, de que uma vitória russa seria "uma perda para todos nós".

O clube ocidental liderado pelos EUA é um personagem central na Guerra da Ucrânia —ainda hoje, mais de sete meses após o início dos embates, chamada pelos russos de "operação militar especial". Um dos argumentos listados por Moscou para justificar a invasão era a tentativa da Ucrânia de entrar na organização, o que representaria um avanço da entidade na vizinhança estratégica russa.

A retaliação em forma de mísseis dos últimos dias representa não só uma reação à humilhação na ponte, mas também à série de derrotas em campo nas últimas semanas: Putin perdeu territórios ocupados em Kharkiv e viu tropas ucranianas romperem suas defesas em Kherson (sul) e Donetsk (leste). As duas regiões, assim como Lugansk (leste) e Zaporíjia (sul), foram anexadas por Moscou, apesar de suas forças não as controlarem totalmente. O Ocidente considera as incorporações ilegais.

Kiev anunciou ter recuperado cinco localidades ocupadas em Kherson nesta quarta: Novovasilivka, Novogrigorivka, Nova Kamianka, Trifonivka e Tchervone. A mídia russa também reportou cinco disparos na capital da província pela manhã, perto do mercado central da cidade. O prefeito exilado de Melitopol, na região de Zaporíjia, afirmou via Telegram que houve ainda uma grande explosão na cidade na mesma data.

A guerra voltou a se intensificar desde um pronunciamento de Putin de duas semanas atrás. Nele, o presidente russo decretou as anexações, voltou a fazer ameaças sobre armas nucleares e ordenou a mobilização de até 300 mil reservistas.

Autoridades regionais relataram que o governo estabeleceu novas metas de recrutamento esta semana, alimentando o temor de uma nova onda mobilizatória —massas de russos em idade para lutar têm saído do país às pressas por medo de uma convocação. O Kremlin desmentiu as alegações.

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