Príncipe da Arábia Saudita parabeniza Lula por vitória nas eleições

Cumprimento de MbS tem gosto amargo para Bolsonaro, que costuma se gabar da boa relação com países árabes

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São Paulo

O príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, parabenizou o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela vitória nas urnas no último domingo (30).

De acordo com comunicado publicado pelo perfil oficial do Ministério das Relações Exteriores saudita, MbS –como o príncipe é conhecido– "expressou sinceras felicitações ao presidente eleito, desejando a ele todo sucesso, e ao governo e amigável povo do Brasil, firme progresso e prosperidade".

O príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, durante evento em Jedá
O príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, durante evento em Jidá - Divulgação Palácio Real Saudita - 16.out.22/AFP

O saudita se junta a uma série de líderes globais que reconheceram a vitória de Lula, a despeito da demora do presidente Jair Bolsonaro (PL) em falar sobre o resultado —na tarde desta terça, 45 horas após a divulgação do resultado e sem mencionar o petista, ele fez um pronunciamento em que falou em indignação e injustiça com a eleição.

O cumprimento de MbS acrescenta ainda um toque amargo à derrota de Bolsonaro, visto que o atual mandatário apresenta sua boa relação com países árabes como um dos trunfos de sua política externa.

O contato com o príncipe, com quem o brasileiro disse ter "certa afinidade" durante viagem ao Oriente Médio em 2019, é alvo de críticas devido a denúncias de violações de direitos humanos contra MbS, suspeito de ter ordenado o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, crítico ao regime saudita.

Khashoggi foi morto e desmembrado em 2018 dentro do consulado do país em Istambul, na Turquia. MbS nega envolvimento no caso. Encontros com o príncipe também geraram críticas recentes aos presidentes dos EUA, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron.

Como mostrou a Folha em julho, a diplomacia saudita chegou a pedir formalmente que o Itamaraty garantisse imunidade de chefe de Estado ao príncipe herdeiro para uma possível viagem dele ao Brasil.

A praxe diplomática prevê esse recurso para que líderes não sejam processados ou atingidos por qualquer ação policial ou judicial nos países que os recebem. O caso do príncipe saudita, porém, esbarrava no fato de que ele não é chefe de Estado —à época, seu cargo oficial era de ministro da Defesa; em setembro, ele foi nomeado premiê, o que seus advogados veem como garantia de imunidade em viagens ao exterior.

A vinda de MbS ao Brasil estava agendada para 14 de março. Novos preparativos foram feitos para maio, mas a viagem também acabou frustrada. Nos dois casos, segundo diplomatas ouvidos pela Folha, o cancelamento se deu a pedido da equipe do príncipe, que alegou incompatibilidade de agenda.

Depois, a expectativa do governo era receber o controverso representante saudita e outros líderes árabes até o fim do ano, mas a agenda eleitoral, a posterior derrota de Bolsonaro nas urnas e, agora, o reconhecimento diplomático da vitória de Lula, na prática, sepultaram os planos nesse sentido.

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