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Twitter suspende política de avisos sobre desinformação relacionada à Covid

Decisão controversa vem na esteira de gestão do bilionário Elon Musk à frente da plataforma

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São Paulo

O Twitter deixou de aplicar sua política de avisos sobre desinformação relacionada à Covid-19, em mais uma medida controversa adotada pela gestão do bilionário Elon Musk, que adquiriu a rede social em outubro.

A derrubada dos alertas contra fake news não foi formalmente anunciada pela plataforma, mas usuários observaram que, na página em que a medida é descrita, passou a constar o adendo: "A partir de 23 de novembro, o Twitter não aplicará a política de informações enganosas sobre a Covid".

Logo do Twitter na fachada da empresa em San Francisco, no estado americano da Califórnia - Amy Osborne - 26.abr.22/AFP

Ainda nos meses iniciais da pandemia de coronavírus, em 2020, a empresa adotou uma série de medidas para tentar diminuir a circulação de desinformação em torno do tema. Uma delas foi a inclusão de rótulos e mensagens de aviso em postagens com afirmações falsas sobre a crise sanitária. Geralmente, essas etiquetas levavam o usuário a uma publicação confiável sobre o tema.

A política também previa que, dependendo do grau de desinformação, alguns tuítes poderiam ser excluídos ou desabilitados. Neste caso, os usuários não conseguiam mais retuitar a publicação, afetando o alcance do post.

Segundo a agência Bloomberg, cerca de 11 mil contas foram suspensas e mais 97 mil publicações com informações falsas foram excluídas desde que a política foi introduzida até a semana passada.

Outras plataformas, como Facebook e YouTube, adotaram ações semelhantes. Agências de checagem mostram que, quando há uma nova onda de casos da doença —como a que ocorre agora no Brasil, com a circulação de novas cepas da variante ômicron—, a desinformação volta a proliferar nas redes sociais.

O Twitter já adotou medidas similares para outros eventos, como a disputa presidencial dos EUA em 2020, entre Donald Trump e Joe Biden, em que o democrata foi o eleito. À época, a plataforma rotulou e rebaixou o alcance de desinformações sobre o pleito, na batizada política de integridade cívica.

A empresa, porém, foi criticada no início deste ano, quando veio a público a informação de que havia suspendido essa política em março de 2021 sem comunicar os usuários. Nas midterms, as eleições de meio de mandato americanas, realizadas no início de novembro, as regras voltaram a ser adotadas.

O Twitter não especificou que medidas vai alterar agora e como se dará esse processo —a empresa não respondeu a pedidos de comentários das agências de notícias.

Musk assumiu o Twitter após um acordo de US$ 44 bilhões. Sua gestão realizou demissões em massa de funcionários, despertando o temor de que toda a política de moderação da plataforma pudesse acabar.

Os avisos sobre desinformação, por exemplo, eram monitorados por curadores instalados em vários países. No Brasil, a equipe era formada por sete jornalistas, que contavam com a ajuda de algoritmos e de empresas especializadas em checagem de fatos —todos foram demitidos no início do mês.

Segundo um ex-funcionário ouvido pela Folha, as demissões afetaram a curadoria em todos os países, incluindo EUA, México, Canadá, Reino Unido e Índia. Para o profissional, que não quis se identificar, é improvável que o Twitter consiga, ao longo do tempo, automatizar todo esse monitoramento, já que algoritmos não conseguem identificar, por exemplo, certas ironias.

O receio quanto ao fluxo de desinformação no Twitter escalou devido ao fato de Musk, crítico dessas políticas, descrever-se como um absolutista da liberdade de expressão e já ter afirmado que a aquisição da plataforma não tinha motivação econômica, mas a ideia de que tornar a rede social uma empresa privada é uma forma de garantir a livre circulação de ideias.

No último dia 19, por exemplo, ele chegou a anunciar a restituição do perfil de Trump na plataforma. A conta do republicano havia sido banida em janeiro do ano passado, dois dias após a invasão do Capitólio, a sede do Legislativo americano. À época, a empresa afirmou que uma análise das mensagens de Trump revelava risco de incitação à violência.

Após assumir a gestão, o bilionário estipulou que o futuro do ex-presidente americano na rede social deveria ser decidido pelos próprios usuários e criou uma enquete em seu perfil sobre o tema. Mais de 15 milhões de usuários participaram da votação, com 51,8% votando a favor do republicano –é impossível assegurar que perfis falsos não tenham participado do processo, já que o Twitter hospeda milhões desses usuários.

Na quinta (24), Musk anunciou que sua plataforma começaria em breve a restabelecer outras contas suspensas na plataforma. "A anistia começa na próxima semana", tuitou Musk após realizar mais uma consulta popular sobre o tema.

A utilização de enquetes para definir diretrizes na rede social contraria um compromisso manifestado por Musk logo após a aquisição da empresa, quando anunciou a formação de um "conselho de moderação [de conteúdo] com pontos de vista muito diversos". Mas o bilionário renegou a promessa depois de acusar ativistas e políticos de tentarem "matar o Twitter secando [as suas] receitas publicitárias", que representam 90% do volume de negócios da empresa.

Várias marcas importantes, incluindo Volkswagen, General Motors e General Mills, anunciaram que suspenderam os gastos com publicidade no Twitter desde que Musk oficializou a compra da plataforma.

Com Reuters

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