ONG britânica suspende atividades após diretora acusar caso de racismo na realeza

Presidente de entidade cita ameaças à segurança por ter denunciado falas de assessora do Palácio de Buckhingham

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Londres | Reuters e AFP

A Sistah Space, uma associação britânica de apoio a mulheres negras vítimas de violência de gênero, anunciou nesta sexta-feira (9) a suspensão temporária de suas atividades por questões de segurança, após se ver no meio de uma polêmica sobre acusações de racismo envolvendo uma assessora da família real.

A presidente da associação, Ngozi Fulani, denunciou em novembro comentários racistas que uma pessoa ligada à monarquia teria feito em uma recepção no Palácio de Buckingham. A imprensa do Reino Unido a identificou como Lady Susan Hussey, 83, madrinha do príncipe William e amiga da rainha Elizabeth 2ª, morta em setembro.

A rainha consorte Camilla (à dir., de branco) conversa com convidados perto de Ngozi Fulani (atrás, à esq.), da ONG Sistah Space, em evento no Palácio de Buckingham - Kin Cheung - 29.nov.22/AFP

"Infelizmente, os acontecimentos recentes nos obrigam a suspender temporariamente muitas das nossas atividades para garantir a segurança de quem utiliza nossos serviços e equipamentos", escreveu a Sistah Space no Instagram nesta sexta.

Fulani já tinha vindo a público nesta semana falar sobre "os horríveis abusos nas redes sociais" dos quais ela, seus familiares e sua equipe vinham sendo vítimas desde a denúncia do caso em Buckingham.

Segundo ela tuitou no mês passado, durante uma recepção organizada pela rainha consorte Camilla, uma pessoa identificada nas postagens apenas como "Lady SH" mexeu em seu cabelo e perguntou repetidamente de onde ela realmente era. "De onde você é na África?" e "de onde vêm pessoas como você?", teriam sido as questões dirigidas à ativista.

O evento tinha como tema principal a violência contra mulheres e meninas. Entre as convidadas estavam a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, e as rainhas Mathilde, da Bélgica, e Rania, da Jordânia.

Depois que o caso veio à tona, o Palácio de Buckingham chamou os comentários de inaceitáveis e anunciou a renúncia de Susan Hussey, que além de ser madrinha do príncipe herdeiro foi dama de companhia de Elizabeth por mais de 60 anos.

Um porta-voz de William disse na ocasião que o príncipe ficou desapontado ao saber do incidente. "Obviamente eu não estava lá, mas o racismo não tem lugar em nossa sociedade", disse ele, em nota.

O episódio ocorreu após recentes acusações contra a família real envolvendo racismo. Em março de 2021, o príncipe Harry e sua esposa, Meghan Markle, em entrevista a Oprah Winfrey, disseram que um membro da família os perguntou, antes de seu filho Archie nascer, o quão escura sua pele poderia ser.

Também no ano passado, reportagem do jornal britânico The Guardian mostrou que o Palácio de Buckingham evitou a contratação de "imigrantes negros ou estrangeiros" em funções administrativas até ao menos o final dos anos 1960. Nos papéis, descobertos nos Arquivos Nacionais, o gerente financeiro da rainha informou em 1968 que "não era, de fato, prática nomear imigrantes negros ou estrangeiros" para funções administrativas, embora eles tivessem permissão para trabalhar como empregados domésticos.

Na época da revelação, o palácio não respondeu a questionamentos sobre a proibição nem sobre quando ela foi revogada. Disse apenas que pessoas de minorias étnicas eram empregadas pela família real na década de 1990 e que, antes disso, não havia registros sobre as origens raciais dos funcionários.

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