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Congresso do Chile fecha acordo para redação de nova Constituição

Pacto, negociado ao longo de 3 meses, prevê colegiado apoiado por 24 especialistas; Carta foi rejeitada em plebiscito

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Buenos Aires

Após três meses de debates, o Congresso do Chile chegou a acordo nesta segunda-feira (12) para iniciar o próximo processo constituinte, depois da derrota de uma proposta de nova Carta em plebiscito realizado em setembro.

A nova Carta será redigida por um órgão denominado Conselho Constitucional, que será formado por 50 pessoas escolhidas em uma votação popular e terá o apoio inicial de 24 especialistas indicados pelo Congresso. A paridade, que existia na composição da Assembleia anterior, estará mantida, bem como a reserva de vagas para povos originários.

O pleito para a indicação dos constituintes deve ser obrigatório e realizado em abril do ano que vem. Os trabalhos então serão iniciados em 21 de maio, com conclusão prevista para 21 de outubro. O plebiscito que acatará ou rejeitará a Carta está previsto para 26 de novembro, também com comparecimento obrigatório dos eleitores.

Um grande grupo de pessoas celebra, empunhando bandeiras do Chile
Chilenos vão às ruas em Santiago após referendo para nova constituinte, em setembro - Claudio Reyes - 4.set.22/AFP

Na noite desta segunda-feira, os presidentes do Senado, Álvaro Elizalde, e da Câmara, Vlado Mirosevic, deram explicações à imprensa sobre como foi costurado o pacto multipartidário —que, segundo o senador, "fará com que se materialize brevemente o novo texto constitucional". Só não participaram do acerto o ultradireitista Partido Republicano e o Partido da Gente, de centro-direita.

O líder dos deputados, por sua vez, explicou que ele será costurado com 12 bases constitucionais sobre as quais os partidos chilenos atingiram consensos. O texto, batizado de "Acordo pelo Chile", parte da premissa da "convicção de que é indispensável habilitar um processo constituinte e ter uma nova Constituição" para o país.

Os primeiros esboços de um acordo para a questão se desenharam ainda em meados de setembro, apontando, justamente, um novo colegiado eleito, tendo o auxílio de um comitê de especialistas, incluindo constitucionalistas e advogados. O modelo vinha sendo defendido por líderes como o ex-presidente Ricardo Lagos.

A ideia do grupo auxiliar de especialistas vinha sendo um pedido da direita, que foi atendido. Eles serão escolhidos pelo Congresso e terão, a partir de janeiro de 2023, a tarefa de montar um anteprojeto que, como ficou decidido pelo acordo anunciado nesta segunda, aproveitará a base do texto constitucional rejeitado na consulta popular de setembro.

Quando o colegiado de 50 eleitos se instalar, a comissão vai ajudá-lo e será consultada na redação dos artigos. A quantidade de pessoas envolvidas será bem menor do que a da Assembleia Constituinte anterior, formada por 154 nomes.

O acordo para a redação foi negociado a pedido do presidente Gabriel Boric. Quando tinha menos de seis meses no cargo, ele viu a rejeição à nova Constituição, com ampla margem, se tornar a primeira derrota significativa de seu governo.

Apesar de não ter apoiado abertamente a aprovação, a gestão se debilitou pelo fato de a Carta proposta ter sido um dos motores da coalizão política do esquerdista e parte essencial de sua campanha. O resultado ainda precipitou uma reforma ministerial, com seis trocas que marcaram uma guinada à centro-esquerda, com nomes mais técnicos e que elevaram a idade média do ministério.

Boric se pronunciou nesta terça-feira e descreveu o acordo como um passo necessário e decisivo para avançar um novo pacto social. "O Chile não pode seguir esperando", afirmou, fazendo um apelo para que cidadãos e parlamentares de todos os espectros políticos se unam em prol da redação do texto. "Mais uma vez, o Chile enfrenta dificuldades. Decidimos resolver os problemas que advêm da democracia com mais democracia, não com menos."

Em outubro de 2020, 80% dos chilenos decidiram num plebiscito aposentar a Constituição de 1981, promulgada na ditadura militar. Dois anos depois, porém, não houve consenso para aprovar o novo texto, redigido por uma Assembleia composta em sua maioria por legisladores independentes e de esquerda.

Boric e os principais partidos do país haviam acordado que o processo constitucional teria sequência mesmo com o cenário da rejeição, com o início da redação de uma nova Carta.

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