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Gabriel Boric faz reforma e nomeia equipe mais experiente após plebiscito no Chile

Em cerimônia confusa, saída de Izkia Siches tem abraço emocionado; centro-esquerda ganha peso em gabinete

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Santiago

Em uma cerimônia confusa e marcada pelo atraso atribuído a uma nomeação controversa por fim não confirmada, o presidente do Chile, Gabriel Boric, promoveu a primeira reforma ministerial de seu mandato, às vésperas de completar seis meses no cargo. Ao todo, foram seis trocas, que marcam uma guinada à centro-esquerda, com nomes mais técnicos e que elevam a idade média do ministério.

Colega de militância e companheiro político do presidente, Giorgio Jackson, 35, saiu do cargo estratégico de secretário-geral da Presidência e assumiu um posto de segunda linha, no ministério de Desenvolvimento Social. Outra mudança importante foi a saída de Izkia Siches, 36, do Interior —ela inicialmente não terá outro cargo na gestão.

A agora ex-ministra foi peça fundamental na campanha eleitoral de Boric, no ano passado, e ganhou uma deferência na cerimônia desta terça. Depois de lido o decreto de sua saída, o presidente saiu de seu púlpito e foi abraçá-la; ela então voltou a seu lugar aos prantos.

O presidente Gabriel Boric abraça Izkia Siches, observado pela nova ministra do Interior, Carolina Toha, em cerimônia do Palácio de La Moneda, em Santiago - Martín Bernetti - 6.set.22/AFP

Siches será substituída por Carolina Tohá, 57. Filiada ao partido de centro-esquerda PPD e ex-prefeita de Santiago, a política é filha de José Tohá, ex-ministro de Interior e vice-presidente do governo de Salvador Allende (1970-1973). O cargo é considerado o mais importante do gabinete porque, no Chile, é o primeiro na linha de sucessão do presidente.

A cerimônia atrasou nesta segunda porque, num primeiro momento, era esperada a indicação de Nicolás Cataldo, do Partido Comunista, para o cargo de subsecretário de Interior, cargo a quem respondem os "carabineros" —forças policiais chilenas. A oposição reagiu rapidamente, fazendo circular tuítes antigos de Cataldo contra a instituição.

Uma hora depois, já em meio à demora nos anúncios, a nomeação foi cancelada, e o socialista Manuel Monsalve continuará no cargo.

Além do atraso, houve protestos de estudantes em frente ao Palácio de La Moneda. As manifestações, que pediam principalmente mais recursos para a educação e a convocação de uma nova Assembleia Constituinte, foram dispersadas pela polícia com gás lacrimogêneo e jatos de água.

Enquanto os nomes dos novos ministros eram anunciados, era possível sentir o cheiro de gás na parte de dentro da sede do governo.

No lugar de Jackson na Secretaria-Geral entrou a socialista Ana Lya Uriarte, 60, que foi chefe de gabinete da ex-presidente Michelle Bachelet (2014-2018). Para o ministério de Energia, Boric escolheu Diego Pardow, do mesmo partido dele, o Convergência Social; na Ciência, vai entrar Silvia Díaz, também do centro-esquerdista PPD.

A troca na Saúde, por fim, privilegiou um nome mais técnico, o da médica com especialização em epidemiologia Ximena Aguilera, que carrega a experiência de ter sido consultora da Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Mudanças de gabinete sempre são duras. Esta foi dramática, mas necessária, neste que é um dos momentos políticos mais difíceis de se enfrentar", afirmou Boric em declaração oficial no pátio do palácio, antes de realizar uma foto diante do novo ministério.

A referência óbvia é ao resultado do plebiscito do último domingo (4), no qual os eleitores chilenos rejeitaram a proposta de nova Constituição por 62% a 38%. Ainda que Boric não tenha feito campanha aberta pela aprovação do texto, as cifras foram vistas como uma derrota da gestão, já que a mudança na Carta foi um dos motores da coalizão política governista e parte essencial de sua campanha à Presidência.

"Os processos históricos que geram grandes mudanças são de longo prazo, não acontecem da noite para a manhã. Não podemos esquecer essa lição da história", afirmou o presidente nesta terça, ao comentar a consulta. "Os retrocessos sempre ocorrem em processos longos. Vamos escutar a voz do povo e caminhar junto ao povo."

Mesmo com as mudanças, Boric mantém sua promessa de contar com um gabinete com mais diversidade de gênero: ao todo, são 15 mulheres e 9 homens na equipe.

A derrota do governo, que resultou nessas trocas, também intensificou as negociações sobre quais os passos seguintes com a vitória do Rejeito. Nesta segunda (5) deveria ter ocorrido uma reunião de Boric com os partidos de oposição, para buscar um acordo que encaminhe uma nova proposta de processo constitucional ao Congresso. A reunião, porém, acabou suspensa e terá uma nova data ainda a ser anunciada.

Apesar de as legendas ligadas à direita terem dito, ainda na noite do plebiscito, que estavam comprometidas com a redação de uma nova Constituição, elas pediram mais tempo para apresentar sua proposta ao presidente.

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