Gíria 'modo goblin' é eleita palavra do ano pelo dicionário Oxford

Expressão é usada para 'comportamento assumidamente autoindulgente, preguiçoso e desleixado'

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São Paulo

Depois de escolher "emergência climática", "lockdown" e "vax" como palavras do ano em 2019, 2020 e 2021, a editora do dicionário Oxford anunciou nesta segunda-feira (5) a expressão que, segundo o grupo britânico, resume o zeitgeist de 2022 —e ela é bem menos nobre que as antecessoras.

A nova palavra do ano de Oxford é "modo goblin", gíria definida pelo tradicional dicionário britânico como "um tipo de comportamento assumidamente autoindulgente, preguiçoso, desleixado ou ganancioso, tipicamente de uma maneira que rejeita as normas ou expectativas sociais".

Homem vestido de duende (goblin, em inglês) em um evento de cultura nerd em Londres
Homem vestido de duende (goblin, em inglês) em um evento de cultura nerd em Londres - Isabel Infantes - 28.out.22/AFP

Exemplos concretos captados nas redes sociais ou em reportagens da imprensa britânica ajudam a entender melhor do que se trata. Segundo o comunicado de Oxford, estar em "modo goblin" é "acordar às 2h e se arrastar para a cozinha vestindo nada além de uma camiseta comprida para fazer um lanche bizarro, como biscoito salgado com queijo derretido" ou, nas palavras do jornal The Guardian, "passar o dia na cama maratonando uma série enquanto navega sem parar nas redes sociais e devora um saco de batatas fritas, saindo de casa de pijama e meias só para pegar uma Coca-Cola no bar da esquina".

"Modo goblin" surgiu como palavra do ano na primeira vez em que a editora do dicionário fez uma votação aberta ao público. O envolvimento foi grande, com mais de 300 mil pessoas —93% do total— votando na expressão. O segundo e o terceiro colocados foram metaverso e #IStandWith, algo como #EuApoio.

A tradução literal de "modo goblin" seria "modo duende", mas a expressão é pouco conhecida no Brasil. Citada pela primeira vez no Twitter em 2009, ganhou as redes sociais de falantes de inglês em fevereiro de 2022, após uma notícia falsa atribuída à celebridade Julia Fox, musa de Kanye West, hoje batizado de Ye.

"Julia Fox se abre sobre seu relacionamento 'difícil' com Kanye West: 'Ele não gostava quando eu entrava no modo goblin'", dizia o título do texto, depois desmentido por Fox em sua conta no Instagram.

"Goblin mode" cresceu em popularidade nos meses seguintes, à medida que as restrições de bloqueio da Covid diminuíram em muitos países e as pessoas se aventuraram a sair de casa com mais regularidade.

"[A expressão] aparentemente capturou o humor predominante de indivíduos que rejeitaram a ideia de retornar à ‘vida normal’ ou se rebelaram contra os padrões estéticos cada vez mais inatingíveis e estilos de vida insustentáveis exibidos nas redes", diz o texto da Oxford Languages, responsável pelo dicionário.

"Dado o ano que acabamos de vivenciar, o 'modo goblin' ressoa como todos estamos nos sentindo um pouco sobrecarregados nesse momento. É um alívio reconhecer que nem sempre somos os ‘eus’ idealizados que nos encorajam a apresentar em nossos feeds do Instagram e do TikTok", afirmou Casper Grathwohl, presidente da editora, no comunicado.

Segundo ele, uma prova é a ascensão de plataformas como o BeReal, em que usuários compartilham imagens de si mesmos sem edição, capturando momentos autoindulgentes no "modo goblin".

Em março, em uma reportagem sobre a viralização da gíria, a repórter de tecnologia do Guardian Kari Paul escreveu que o "'modo goblin' abraça os confortos da depravação" e se tornou mais popular devido ao terceiro ano da pandemia "e ao temor do início da Terceira Guerra Mundial".

Outros dicionários conhecidos divulgaram suas "palavras do ano" recentemente. Para o americano Merriam-Webster, é gaslighting, a "manipulação psicológica de uma pessoa, geralmente por um longo período de tempo, o que faz com que a vítima questione a validade de seus próprios pensamentos".

Já o dicionário Collins elegeu "permacrise" a palavra de 2022 —o termo descreve a sensação de viver em um período prolongado de instabilidade e insegurança, explica a editora.

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