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Parlamento Europeu destitui vice-presidente acusada de corrupção

Remoção de Eva Kaili foi apoiada por 625 votos a 1; eurodeputada grega teria recebido propinas do Qatar

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Atenas | Reuters e AFP

O Parlamento Europeu destituiu, nesta terça-feira (13), a eurodeputada grega Eva Kaili do cargo de vice-presidente. Ela é acusada de integrar esquemas de corrupção envolvendo o Qatar, país-sede da Copa do Mundo.

O resultado da votação foi emblemático: 625 parlamentares votaram a favor da destituição, apenas 1 foi contra e 2 se abstiveram. Mais cedo, os líderes de bancadas da Casa haviam aprovado por unanimidade a decisão de colocar o assunto em pauta.

Kaili era uma dos 14 vice-presidentes do Parlamento e seu nome foi vazado à imprensa como sendo um dos quatro presos e acusados na Bélgica de receber propinas e presentes em troca de garantir ao país do Oriente Médio influência no bloco —nenhum dos suspeitos foi publicamente identificado.

Eva Kaili , vice-presidente do Parlamento Europeu, discursa em cerimônia de premiação do European Book Prize em Bruxelas
Eva Kaili , vice-presidente do Parlamento Europeu, discursa em cerimônia de premiação do European Book Prize em Bruxelas - Eric Vidal - 7.dez.22/União Europeia via AFP

A deputada de 44 anos foi presa depois que investigadores belgas encontraram sacolas cheias de dinheiro em sua residência. Na última sexta (9), promotores revistaram 16 casas e apreenderam ao menos € 600 mil (R$ 3,3 milhões) em Bruxelas como parte da investigação.

Paralelamente, a Grécia congelou ativos financeiros de Kaili. Um dos focos da operação é uma empresa imobiliária recém-criada junto a um italiano pela eurodeputada no bairro de Kolonaki, uma área luxuosa em Atenas —seu companheiro também é investigado.

No fim de semana, o Parlamento Europeu já havia suspendido Kaili de suas funções na Casa, e seu partido, o Pasok (Partido Socialista Pan-Helênico), disse que a expulsaria de suas fileiras.

A defesa da eurodeputada se pronunciou pela primeira vez nesta terça e descartou que ela tenha recebido propinas do Qatar. "Ela não tem nada a ver com o financiamento do Qatar, explícita e inequivocamente", disse seu advogado, Michalis Dimitrakopoulos, a uma emissora grega de televisão. Mais tarde, ele afirmou à Reuters que a cliente se sentia traída pelos colegas, "que fazem parecer que ela tinha uma agenda pessoal com o Qatar com base em suposições de que ela aceitou propinas".

Segundo ele, a viagem da parlamentar ao Oriente Médio não foi pessoal, mas do Parlamento Europeu. "O Qatar não tinha necessidade de apoio dela, não precisava suborná-la, ela não tinha nada a oferecer." Doha também nega irregularidades.

Seja como for, o escândalo provocou indignação em Bruxelas e levantou preocupações entre legisladores e líderes políticos da UE de que o episódio possa prejudicar a imagem do bloco.

Até por isso, a presidente do Parlamento, a maltesa Roberta Metsola, anunciou na segunda (12) que o órgão deve abrir em breve uma investigação interna para apurar o suposto esquema. "Vamos iniciar um processo de reforma para ver quem tem acesso às nossas instalações e como essas ONGs e indivíduos são financiados e que vínculos eles têm com países terceiros", disse. A reforma também foi defendida pela presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen.

Diante do escândalo, a pauta do plenário parlamentar desta terça, em Estrasburgo, foi modificada para se dedicar apenas a debater o caso. Além disso, na quinta (15), será votado um texto que pede mais transparência nas instituições europeias.

O gabinete de Eva Kaili no Parlamento Europeu com as portas bloqueadas, na sede do órgão, em Estrasburgo - Frederick Florin - 13.dez.22/AFP

O escândalo, em alguma medida, pode também afetar a relação entre o bloco e o Qatar —que, com a Guerra da Ucrânia, tornou-se opção para o fornecimento de gás; no mês passado, Doha fechou um acordo com a Alemanha por ao menos 15 anos.

Uma das atribuições de Kaili como vice-presidente era representar a presidente do Parlamento. Em novembro, ao visitar o país-sede da Copa, ela parabenizou o ministro do Trabalho por reformas e disse que o Qatar é um líder no setor. As legislações trabalhistas do país, porém, são alvo de críticas e denúncias de violações por parte de organizações de direitos humanos.

Estariam ainda entre os detidos o ex-parlamentar italiano Pier-Antonio Panzeri e o secretário-geral da Confederação Sindical Internacional, Luca Visentin. Em entrevista na semana passada Visentin também apontou progressos nas leis trabalhistas catarianas.

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