Pela primeira vez desde 2012, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, cancelou sua tradicional entrevista coletiva de fim de ano. O evento reúne jornalistas russos e estrangeiros.
O porta-voz Dmitri Peskov disse nesta segunda (12) que Putin pode "encontrar outra oportunidade para falar com jornalistas", como em viagens ao exterior. Ele não justificou o cancelamento, mas o jornal russo RBK, em novembro, já havia alertado que a Guerra da Ucrânia poderia atrapalhar a realização do evento.
No ano passado, a entrevista coletiva, num centro de exposições perto do Kremlin, durou quatro horas. À época, ao ser questionado sobre uma eventual invasão da Ucrânia, disse que seu país gostaria de evitar o conflito, mas que precisaria de uma resposta imediata dos EUA às demandas por garantias de segurança.
Segundo o jornal The Moscow Times, devido às restrições impostas pela Covid, os meios de comunicação não puderam se credenciar em 2021 para a entrevista. Em vez disso, o Kremlin escolheu cerca de 500 jornalistas internacionais e nacionais para participar do evento. Vários veículos críticos independentes, como o Novaia Gazeta —cujo editor-chefe recebeu o Nobel da Paz– disseram não ter recebido convite.
Tradicionalmente, a entrevista coletiva de fim de ano é um mecanismo para que Putin tente impulsionar sua popularidade no país. Neste ano, porém, o resultado poderia ser o inverso, já que o líder russo fatalmente seria alvo de duras perguntas sobre a invasão da Ucrânia.
De acordo com o instituto de pesquisas Levada, um dos poucos independentes no país, o presidente é aprovado por 79% da população, taxa pouco menor do que a registrada em agosto (83%), mas consideravelmente maior do que a de um mês antes do início da guerra (69%).
O conflito também teria influenciado a tradicional recepção de Ano-Novo no Kremlin. De acordo com o jornal britânico The Guardian, a celebração foi cancelada para evitar festas oficiais enquanto milhares de soldados russos lutam no país vizinho.
Ainda nesta segunda, Peskov indicou que o discurso do presidente russo ao Conselho da Federação, a Câmara Alta do Parlamento, está sob revisão. Segundo a Radio Free Europe, a Constituição russa obriga o presidente a discursar anualmente à Casa sobre a situação do país.
Paralelamente, ainda é incerta a data em que Putin participará de um tradicional evento de perguntas e respostas com russos de várias idades, que acontece desde 2001.
Após o anúncio do Kremlin, a analista política Tatiana Stanovaia escreveu em seu canal no Telegram que o cancelamento da entrevista coletiva é um sinal de que Putin encara o evento como uma perda de tempo.
"Não acho que Putin não tenha nada a dizer, especialmente porque ele tem falado muito ultimamente. Em vez disso, é mais uma relutância psicológica em prestar contas à população, em responder a perguntas chatas e rotineiras, em perder tempo com a preparação, em bancar o 'bom pai' e assim por diante", disse.
Do lado ucraniano, o presidente Volodimir Zelenski pediu nesta segunda aos países do G7 o envio de mais armas e gás, ante a preocupação com a chegada do inverno e a infraestrutura de energia atingida por ataques de Moscou. "O terror contra nossas centrais elétricas nos fez usar mais gás que o previsto. Precisamos de uma ajuda adicional, um volume extra de 2 bilhões de metros cúbicos de gás", disse.
No front, novas ações de Moscou se concentraram nas regiões de Kherson, recém-retomada pela Ucrânia, onde duas pessoas teriam morrido, e Bakhmut.
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