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Ucrânia não deve depor armas, diz ativista ao receber Nobel da Paz

Cerimônia em Oslo entrega honraria a ONGs de direitos humanos e mulher de belarusso preso

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Oslo | AFP e Reuters

Uma das diretoras da ONG ucraniana que está entre as agraciadas com o Prêmio Nobel da Paz de 2022 afirmou neste sábado (10), ao receber a láurea em Oslo, que a paz no seu país não será obtida "depondo as armas" contra a Rússia de Vladimir Putin.

"O povo da Ucrânia quer a paz mais do que qualquer um no mundo", disse Oleksandra Matvitchuk, diretora do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia (CCL), durante a cerimônia na capital norueguesa. "Mas a paz para um país atacado não se consegue depondo as armas. Isso não seria paz, mas ocupação."

A partir da esq., Natalia Pintchuk (à esq.), que recebe o prêmio em nome de seu marido preso, Ales Bialiatski; Ian Ratchinski, da ONG Memorial; e Oleksandra Matvitchuk, da ONG CCL, na cerimônia do Nobel da Paz em Oslo - Rodrigo Freitas/NTB/Reuters

Criado em 2007, o CCL registra eventuais crimes de guerra cometidos por tropas russas e pró-russas na Ucrânia. Durante os nove meses do conflito, segundo Matvitchuk, a organização contabilizou mais de 27 mil episódios que seriam considerados delitos pela lei internacional. "A guerra transforma pessoas em números. Temos que dar um nome a todas as vítimas."

Antes de receber o prêmio, a ativista disse a jornalistas que precisou escrever seu discurso à luz de velas. Nas últimas semanas, a Ucrânia vive uma série de apagões em consequência de ataques de Moscou a instalações de energia do país.

A entidade dividiu o Nobel da Paz deste ano, anunciado em outubro, com o ativista Ales Bialiatski, da Belarus, e o Memorial, grupo de direitos humanos da Rússia.

Em seu discurso em Oslo, o presidente da ONG russa, Ian Ratchinski, chamou a ação de Putin de "guerra sem sentido e criminosa". Segundo ele, o presidente russo tem aspirações imperiais e distorce o significado da luta antifascista em benefício dos próprios interesses políticos. Putin adotou com uma das justificativas para a invasão a necessidade de desmantelar organizações neonazistas no país vizinho, discurso sem eco na realidade —ao menos na proporção alardeada.

O Memorial foi fundado em 1989 e, inicialmente, dedicou-se a denunciar crimes cometidos durante o período stalinista na União Soviética. A justiça russa designou a organização como agente estrangeiro e a dissolveu no final do ano passado. Na teoria, o rótulo, criado em 2012, tem que ser adotado por todas as organizações que recebem financiamento estrangeiro e se engajam em atividades consideradas políticas. Na prática, porém, ele é utilizado como instrumento de perseguição política pelo Kremlin.

Esposa representa premiado que está preso

Preso desde julho de 2021, Bialiatski, 60, foi representado na cerimônia em Oslo por sua esposa, Natallia Pintchuk, que disse que o ativista dedicou o prêmio a "milhões de cidadãos belarussos que se levantaram e agiram nas ruas e online para defender seus direitos civis".

Pintchuk visitou o marido uma vez desde que ele foi nomeado ganhador do Nobel, tendo que vê-lo atrás de uma parede de vidro na prisão, conforme ela contou em entrevista coletiva na sexta (9). "Eu sei que tipo de Ucrânia serviria para a Rússia e para Putin: uma ditadura dependente. O mesmo que a Belarus de hoje, onde a voz do povo oprimido é ignorada e desconsiderada", disse ao receber a láurea, citando o marido.

A polícia da Belarus deteve Bialiatski durante a repressão da ditadura de Aleksandr Lukachenko a atos contra o regime.

Oleksandra Matviichuk, representante da ONG ucraniana Centro para as Liberdades Civis, discursa ao receber o prêmio Nobel da Paz, em Oslo - Rodrigo Freitas/NTB via Reuters

Autoridades de Minsk fecharam meios de comunicação não estatais e grupos de direitos humanos após protestos em massa tomarem as ruas em agosto de 2020, contra uma eleição presidencial de fachada, que oposição e a comunidade internacional apontam ter sido amplamente fraudada.

A presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Berit Reiss-Andersen, disse na cerimônia que os "pensamentos do comitê estão com todos os prisioneiros políticos na Belarus". A ONU afirmou em março que quase 1.100 ativistas, membros da oposição e jornalistas estão detidos sob "acusações de motivação política" no país.

Bialiatski é a quarta pessoa a ganhar o Nobel da Paz enquanto está na prisão, depois do alemão Carl von Ossietzky, em 1935, do chinês Liu Xiaobo, em 2010, e de Aung San Suu Kyi, de Mianmar, que estava em prisão domiciliar em 1991 —ela voltou à prisão após o golpe militar no país no ano passado.

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