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Suspeito de liderar grupo que planejou golpe na Alemanha tem ligações com o Brasil

Polícia identificou, até agora, 54 pessoas que queriam dissolver o governo alemão

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DW

Enquanto os investigadores vasculham as evidências coletadas em batidas policiais contra suspeitos de planejar um golpe de extrema direita para derrubar o governo alemão, as autoridades indicam que o número de pessoas envolvidas deve crescer.

O chefe do Departamento Federal de Investigações, Holger Münch, disse nesta quinta-feira (8) que foram encontrados mais dois indivíduos ligados à conspiração, elevando o total de suspeitos para 54. A cifra pode continuar a crescer, disse ele à emissora pública alemã ARD.

Münch afirmou que outras pessoas foram identificadas e que a polícia está trabalhando para determinar a ligação delas com a rede. Pelo menos 25 pessoas foram presas nesta quarta (7) em conexão com o complô.

Policial alemão detém Heinrich 13º P.R.na casa do suspeito, em Frankfurt
Policial alemão detém Heinrich 13º P.R.na casa do suspeito, em Frankfurt - Boris Roessler - 7.dez.22/DPA/AFP

Boa parte dos suspeitos era de apoiadores do movimento de extrema direita Reichsbürger (cidadãos do império alemão, em tradução literal). Os membros do grupo, que não tem estruturas formais, rejeitam a Constituição do pós-guerra e pedem a dissolução do Estado e do governo alemão.

"Não dá para supor que um grupo composto por um número de pessoas de dois ou talvez três dígitos tinha condição de realmente desafiar o sistema estatal alemão ou mesmo abalá-lo", ponderou Münch. "Mas temos aqui uma mistura perigosa de pessoas que seguem convicções irracionais, algumas com muito dinheiro e outras em posse de armas, com um plano. Isso o torna perigoso e é por isso que agora intervimos e colocamos um claro sinal de pare."

Münch disse que isso envolve realizar prisões, buscas, ampliar ainda mais a rede dos investigadores e tentar obter uma imagem ainda mais clara do grupo e das capacidades da rede.

Os promotores disseram na quarta que o objetivo dos conspiradores era derrubar o governo e que eles estavam dispostos a usar violência e até assassinatos para alcançá-lo; mas falaram pouco sobre até que ponto o golpe era viável ou o quão avançado o plano estava.

A operação de busca de quarta teria abrangido 150 propriedades em 11 estados alemães. Armas foram encontradas em mais de 50 das propriedades revistadas, disse Münch.

Líder preso

O secretário do Interior da província alemã da Turíngia, Georg Maier, disse à rádio Deutschlandfunk nesta quinta que mais prisões são esperadas depois que a polícia teve tempo de processar e analisar as evidências apreendidas durante as batidas, incluindo telefones celulares.

O estado do leste da Alemanha tem uma forte presença de grupos de extrema direita. Nele fica um pavilhão de caça de propriedade do suposto líder do Reichsbürger —o "príncipe" Heinrich 13º Reuss—, que agora é palco de uma investigação. Reuss, de 71 anos, que vem de uma família aristocrata, foi preso em sua casa em Frankfurt na quarta.

Maier informou também que o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) forneceu um fórum para a retórica antigovernamental na Turíngia e em outros lugares. "A AfD tornou-se cada vez mais radical. O partido espalha essas fantasias de conspiração e fantasias de derrubar [o governo]", disse Maier. A AfD é monitorada pelas autoridades na Turíngia por suspeitas de atividades "anticonstitucionais".

Outro líder da conspiração foi identificado como Rüdiger von P., de 69 anos. Entre 1993 e 1996, ele foi comandante do batalhão de paraquedistas 251, que posteriormente ajudou a formar o Comando de Forças Especiais (KSK), e teria sido expulso do Exército devido à venda não autorizada de armas dos estoques das antigas Forças da Alemanha Oriental.

Rüdiger costuma passar parte do seu tempo no Brasil, mas estava em Freiburg, no sul da Alemanha, onde mora sua filha, quando foi preso. Há empresas registradas em seu nome em Santa Catarina e ele atuou como representante comercial de companhias de energia no Brasil.

Em 2019, numa página de um agitador de ultradireita alemão, alguém se identificando com o nome de Rüdiger von P. deixou uma mensagem pedindo a eliminação de maçons e afirmando que "a verdade só estará acessível à humanidade após a mudança do sistema". Finalizou desejando "saudações do Brasil".

Outra suspeita detida pela polícia foi identificada pelos promotores como Birgit M.-W., uma juíza em Berlim e ex-parlamentar da AfD. O partido está cada vez mais sob escrutínio dos serviços de segurança alemães devido a seus laços com extremistas de direita.

Preocupação com forças de segurança envolvidas

Entre os suspeitos na investigação do Ministério Público Federal estão um soldado do KSK das Forças Armadas, além de vários reservistas. O governador da Renânia do Norte-Vestfália, Hendrik Wüst, disse em entrevista à rádio Deutschlandfunk ser muito preocupante que pessoas com treinamento militar ou acesso a armas estejam envolvidas na suspeita rede terrorista.

No entanto, ele acrescentou que os ataques foram um sinal de que o Estado alemão é capaz de se defender e espera que mais ações sejam tomadas contra o movimento Reichsbürger.

Münch acrescentou que mais verificações de antecedentes devem ser realizadas nos membros das forças de segurança. "Em tempos como esses, quando as forças são muito solicitadas, devemos contar com o fato de que todos estão apoiando a ordem democrática", disse ele à emissora pública ARD.

O chefe dos serviços de inteligência doméstica da Alemanha, Thomas Haldenwang, também pediu o aumento das verificações de segurança de qualquer pessoa que trabalhe nas forças de segurança estaduais ou federais. Ele acrescentou, no entanto, que a grande maioria não nutre sentimentos antigovernamentais.

Nos últimos anos, o volume crescente de Reichsbürger tem alarmado as autoridades alemãs. Em seu relatório de junho de 2022, o serviço de inteligência doméstico estimou que cerca de 21 mil pessoas estão ligadas ao movimento.

Falando à ARD nesta quinta, Haldenwang disse que desses 21 mil, cerca de 10% são avaliados como com tendência a cometer atos de violência. "Aqui, pela primeira vez, você tem a situação em que havia uma rede nacional com planos muito concretos. Havia planos para realmente implementar uma derrubada do governo", disse.

Com Reuters e AFP

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