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Apoiadores de Castillo bloqueiam estradas em volta de protestos no Peru

Manifestantes continuam a pedir a renúncia de Dina Boluarte; atos foram majoritariamente pacíficos

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São Paulo

Depois de uma trégua durante as festas de 2022, apoiadores de Pedro Castillo, líder deposto após uma tentativa de golpe de Estado no Peru, voltaram a organizar manifestações nas ruas e bloqueios de estradas em várias regiões do país para exigir a renúncia da presidente Dina Boluarte.

Os primeiros atos dessa retomada aconteceram ainda na quarta-feira (4), mas nesta quinta (5) diversas rodovias ainda estavam fechadas pelos protestos. De acordo com a imprensa peruana, as manifestações se concentraram no sul do país e foram majoritariamente pacíficas, com episódios isolados de violência.

Não há registros de mortes ou feridos, de acordo com a Defensoria do Povo, órgão responsável por garantir direitos constitucionais da população peruana.

Manifestantes em confronto com a polícia em Lima, no Peru - Ernesto Benavides - 4.jan.23/AFP

Na região de Cusco, 8 das 13 províncias registraram bloqueios em estradas, em especial nas rodovias que se conectam às regiões vizinhas. O comércio fechou as portas, e o transporte público também ficou paralisado. Um aeroporto que havia sido invadido por manifestantes nos atos de dezembro continuou em operação, mas com segurança reforçada pela polícia e permitindo a entrada apenas de passageiros.

Por precaução, o trem entre Cusco e Machu Picchu, um dos principais pontos turísticos do Peru, está suspenso por tempo indeterminado. Em dezembro, milhares de turistas ficaram retidos na região devido ao fechamento da ferrovia e do aeroporto em consequência dos protestos —agora, 2.000 turistas foram retirados da região para evitar problemas, segundo a polícia.

O turismo responde por 4% do PIB e gera cerca de 8% dos empregos no país. Uma associação de hotéis e restaurantes estima o prejuízo gerado pela crise política e social em US$ 2,5 bilhões (R$ 13,5 bi).

Em entrevista ao jornal El Comercio, Rolando Luque, da Defensoria do Povo, disse que paralisações, bloqueios e manifestações se espalharam por 36 das 195 províncias —18,4% do território. "Não há articulação em nível nacional, o que há são convocações locais."

No centro de Lima, um grupo de dezenas de manifestantes que tentava chegar à sede do Congresso foi dispersado com gás lacrimogêneo pela polícia. Na confusão, profissionais de imprensa ficaram feridos.

Em Arequipa houve um confronto entre manifestantes e agentes próximo ao aeroporto. Apoiadores de Castillo também usaram pedras e pneus para fechar rodovias em Junín e Apurímac. Em Puno, uma cabine de pedágio foi incendiada e, na região amazônica de Madre de Dios, a rodovia Interoceânica, que liga o Peru ao Brasil, foi bloqueada.

Nesta quinta, os maiores protestos registrados reuniram cerca de cem pessoas. Algumas empresas de transporte público suspenderam atividades em reação a mais de 30 pontos de bloqueio contabilizados.

O ministro da Defesa, Jorge Chávez, insinuou que há "infiltrados com antecedentes terroristas" nos atos. Ele se refere a pessoas ligadas à guerrilha Sendero Luminoso, que espalhou terror no Peru entre os anos de 1980 e 2000. Chávez também afirmou que cinco bolivianos que estariam incentivando os protestos foram identificados. Entre grupos contrários a Castillo, há quem diga que o ex-presidente da Bolívia Evo Morales, aliado do peruano, tem participação no estímulo às manifestações.

Dina pediu que Evo pare de interferir em assuntos peruanos e disse que autoridades migratórias estão avaliando possíveis restrições à sua entrada no Peru. Horas depois, o boliviano pediu no Twitter que a direita peruana interrompa "massacres, detenções ilegais, perseguição" e acusações de terrorismo contra indígenas.

Na terça-feira, Dina foi denunciada ao Congresso pela parlamentar de esquerda Ruth Luque, devido a uma suposta violação da Constituição nos atos do mês passado. Ao menos 22 morreram nos protestos, segundo números oficiais. Na denúncia, que também inclui ministros do gabinete atual, Luque afirma que a presidente falhou em garantir a plena vigência dos direitos humanos —prerrogativa do chefe do Executivo, segundo a Carta peruana. A denúncia será avaliada por uma comissão parlamentar.

Com AFP e Reuters

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