Biden e AMLO realçam diferenças sobre crise migratória em encontro no México

Americano e mexicano participam de Cúpula dos Líderes da América do Norte ao lado do canadense Justin Trudeau

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

No México desde domingo (8), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, encontrou-se nesta segunda-feira (9) com seu homólogo mexicano, Andrés Manuel López Obrador, para um fórum regional que foca principalmente os temas da migração e do tráfico de drogas. No primeiro dia de reuniões, foram ressaltadas divergências relacionadas aos temas que impactam ambos os países.

Diante de Biden no palácio presidencial da Cidade do México, AMLO, como o líder mexicano é conhecido, alfinetou a política adotada pelo vizinho ao dizer que o momento é oportuno para "acabar com o esquecimento, o abandono e o desdém" de Washington em relação aos países da América Latina.

Joe Biden e Andrés Manuel López Obrador se olham em cerimônia no palácio presidencial, na Cidade do México
Joe Biden e Andrés Manuel López Obrador se olham em cerimônia no palácio presidencial da Cidade do México - Nicolas Asfouri/AFP

Mais cedo, o mexicano havia dito que pediria a Biden mais investimento nos países que são a origem dos principais fluxos migratórios para os EUA. "Presidente Biden, você tem a chave para abrir e melhorar substancialmente as relações entre todos os países do continente americano."

Em resposta, o chefe da Casa Branca afirmou, olhando fixo para AMLO, que os EUA "gastaram bilhões de dólares" nos últimos 15 anos em investimentos feitos em países do Hemisfério Ocidental e que o governo americano deve responder a diferentes demandas pelo mundo.

"Infelizmente, nossa responsabilidade simplesmente não termina no Hemisfério Ocidental", enfatizou o líder americano, acrescentando que os EUA fornecem "mais ajuda à região do que qualquer outro país".

Os presidentes se encontraram na Cúpula dos Líderes da América do Norte —ou Cúpula dos Três Amigos, como o fórum também é conhecido. O evento conta ainda com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e teve sua última edição realizada em novembro de 2021.

Após a reunião, a Casa Branca informou, sem dar detalhes, que Biden e AMLO discutiram o uso de "abordagens inovadoras" para lidar com a crise migratória. "O presidente Biden e o presidente López Obrador reafirmaram seus compromissos de abordar as causas profundas da migração."

Juntos na Cidade do México até quarta (11), os três líderes também devem falar sobre crise climática e integração econômica. A expectativa é a de que o fórum seja norteado por acontecimentos recentes na região, que dialogam com a agenda previamente estabelecida.

No domingo, antes de aterrissar no México, Biden fez sua primeira visita à fronteira dos EUA com o país vizinho desde o início do seu mandato, em 2021. Dias antes, o governo do democrata havia anunciado uma nova política de migração, que se tornou alvo de críticas de ativistas e especialistas.

O programa detalhado pela Casa Branca permitirá a entrada mensal de até 30 mil migrantes venezuelanos, cubanos, nicaraguenses e haitianos por dois anos, mas, ao mesmo tempo, reforçará as expulsões para o México daqueles que entrarem de forma irregular em território americano.

O assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, que acompanha Biden na viagem, disse que nenhum novo acordo deve sair da cúpula —o arranjo divulgado na última semana, afinal, foi coordenado pelo governo de AMLO. No entanto, "não há razão para acreditar que não haverá um terceiro passo em algum momento", acrescentou.

Segundo o grupo humanitário Comitê Internacional de Resgate, sem um plano robusto para lidar com os refugiados as novas medidas só colocarão os requerentes de asilo em situações perigosas. A medida, porém, foi vista "com muita simpatia" pelo governo mexicano, segundo o chanceler Marcelo Ebrard.

"Tem de haver um caminho regular, por onde a pessoa possa ir trabalhar nos EUA", afirmou, durante entrevista coletiva na manhã desta segunda. "Pela primeira vez, os EUA começam a falar e a estabelecer documentos oficiais sobre mobilidade de trabalho."

Antes do encontro, AMLO disse que havia convergência em relação ao assunto. "Concordamos que precisamos entender as causas da migração. As pessoas não abandonam suas cidades porque querem, mas por necessidade. É preciso garantir oportunidades aos cidadãos e aos trabalhadores de todos os países em seus lugares de origem." O presidente mexicano, que acompanhou Biden em sua chegada, citou programas de investimento em países como Honduras e El Salvador para diminuir a migração.

O tráfico de fentanil deve ser outro tema central durante a cúpula. Na última quinta-feira (5), o líder do narcotráfico Ovidio Guzmán, filho de Joaquín "El Chapo" Guzmán, preso nos EUA, foi detido por autoridades mexicanas no estado de Sinaloa, no norte do país. Washington pede sua extradição, e o caso está sob análise da Justiça mexicana.

Um surto de mortes por overdose nos EUA, alimentado pelo opióide sintético, tem gerado pressão maior sobre o México para combater as organizações responsáveis por produzir e transportar a droga —como o Cartel de Sinaloa. Os EUA enfrentam uma crise que já provocou mais de meio milhão de mortes nos últimos 20 anos. "Vamos enfrentar abertamente o fentanil", afirmou AMLO.

O mexicano disse que ainda não tratou diretamente com Biden da invasão das sedes dos Três Poderes por bolsonaristas em Brasília no domingo porque os três líderes da cúpula já se pronunciaram, em comunicado conjunto. "Vamos continuar apoiando o presidente Lula, que foi eleito democraticamente", afirmou. "É um consenso dos países americanos."

Com Reuters e AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.