Descrição de chapéu China

Entenda as causas e as consequências do declínio populacional na China

Edição da newsletter China, terra do meio explica o que levou a sociedade chinesa ao novo patamar demográfico

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Igor Patrick
Washington

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A população da China encolheu pela primeira vez em seis décadas. Dados do Escritório Nacional de Estatísticas divulgados na terça (17) mostram que o país fechou 2022 com 1,41 bilhão de pessoas, queda de cerca de 850 mil pessoas na comparação com 2021. A queda só era esperada para 2025, o que denota a velocidade da transição demográfica chinesa.

O resultado não chega a surpreender quem acompanhou os números oficiais nos últimos anos. A política do filho único (1980-2015) conteve a taxa de fecundidade por vários anos, saindo de 5,81 filhos por mulher em 1970 para 0,9 em 2015. Contudo, o crescimento econômico, o aumento na escolaridade, a disseminação de métodos contraceptivos e o custo progressivo para criar crianças acabou desestimulando jovens casais a serem pais.

As estatísticas oficiais divulgadas nesta semana consolidam o cenário: em 2022, o número de recém-nascidos caiu cerca de 10% em relação ao ano anterior, para 9,56 milhões, o equivalente ao mínimo histórico de 6,77 nascimentos a cada mil pessoas.

Profissionais da saúde cuidam de recém-nascidos em enfermaria em Chongqing, na China - China Out 15.dez.2016/AFP

Do outro lado da pirâmide etária, a situação também não é boa. A população em idade ativa —pessoas entre 16 e 50 anos em condições de trabalhar— em 2022 foi de 62%, queda de 0,5 ponto percentual na comparação com 2021. Idosos acima dos 60 anos já são 19,8%.

Por que importa: os dados indicam uma China cada vez mais velha e que enfrentará dificuldades para repor seus trabalhadores em um futuro próximo, com consequências diretas na produtividade, previdência e no crescimento econômico como um todo.

Não à toa, o governo vem trabalhando para incentivar jovens casais a terem filhos, oferecendo benefícios sociais como descontos em impostos, pagamento em dinheiro aos pais para cada novo bebê nascido vivo e até educação subsidiada. Em agosto, a Comissão Nacional de Saúde também introduziu políticas para frear o número de abortos.

As medidas, porém, têm se provado aquém do necessário, e a solução para o encolhimento da população pode estar em dois fatores: avanço tecnológico (que permita a máquinas multiplicar a produtividade nacional) e importação de mão de obra estrangeira, medida que até o momento enfrenta resistência da sociedade e de parte do governo chinês.

o que também importa

Quase metade dos chineses tem uma visão "muito desfavorável" dos EUA. É o que indica uma pesquisa conduzida pelas Universidade Nacional de Cingapura, Universidade da Colúmbia Britânica do Canadá e Universidade Rice, no estado americano do Texas.

Os pesquisadores entrevistaram 2.083 chineses e pediram que classificassem vários países em uma escala com cinco opções, que iam de "muito desfavorável" a "muito favorável". No total, 43% dos ouvidos disseram ter visão "muito desfavorável" do país, enquanto apenas 23% disseram enxergar os EUA de forma "muito" ou "um pouco favorável".

Já a Alemanha levou a melhor em popularidade, conquistando 69% de opiniões "um pouco" ou "muito favorável". Bélgica, Dinamarca, França, Itália, Holanda, Espanha e Suécia também são vistas majoritariamente de forma positiva, enquanto o Reino Unido atraiu a simpatia de 46% dos respondentes. Os resultados —divulgados no Journal of Current Chinese Affairs e revisado por pares— revelaram ainda que os Estados Unidos têm maior rejeição entre jovens com maior nível de instrução vivendo em grandes centros urbanos. 

O serviço de streaming Tencent Video enfim lançou nesta semana a série de TV baseada no best seller de ficção científica chinês "O Problema dos Três Corpos".

A produção, que tem 30 episódios, estava pronta havia bastante tempo, mas vinha encontrando problemas para contornar a censura da China, porque o livro no qual se baseia —assinado pelo famoso autor Cixin Liu e publicado no Brasil pela editora Suma— começa com uma cena bastante gráfica no auge da Revolução Cultural.

Roteiristas contornaram o problema: enquanto na história original o pai da antagonista é morto por soldados vermelhos de Mao Tse-tung por se recusar a negar a ciência, na série o personagem faz um mea culpa e admite ter se deixado levar pela ganância ocidental.

Muito esperada por fãs em todo o mundo, a série tem sido divulgada pela mídia estatal como um exemplo do "heroísmo único do povo chinês". O tabloide nacionalista Global Times publicou um longo artigo em que elogia a trama por destacar o apreço da cultura chinesa "pela coletividade" em detrimento da ficção ocidental, "centrada no individualismo."

A Netflix também prepara uma adaptação da obra, programada para estrear ainda neste ano. A produção já foi alvo de polêmicas, com cinco senadores americanos demandando sua interrupção após o autor dos livros dar declarações de apoio à política de encarceramento da minoria étnica muçulmana uígur em Xinjiang.

Fique de olho

Um relatório da Universidade de Pequim divulgado na quarta (18) estimou que ao menos 900 milhões de chineses já contraíram Covid desde o início da pandemia. O número representa 64% da população e foi apresentado com base em dados do setor privado e volumes de pesquisas em sites de buscas.

  • Os pesquisadores também fizeram estimativas por províncias: em Gansu, no nordeste, cerca de 91% dos habitantes já teriam se infectado, e em Yunnan, no sudoeste, 84%.

Por que importa: Especialistas sanitários esperavam em dezembro que a China só chegaria a 60% dos habitantes infectados em março, quando a primeira onda da Covid pós-reabertura começaria a arrefecer. Se a pesquisa estiver correta, a avalanche de pessoas que contraíram o vírus pode ter chegado muito mais cedo.

Após ser instada pela OMS, a China alegou que 60 mil pessoas morreram no país devido à Covid desde o início de dezembro, mas dados da consultoria britânica Airfinity estimam em 345 mil o número de mortos (com previsão de chegar a 1,7 milhão até abril).

Para ir a fundo

  • A Usina Cultural Energisa promove em João Pessoa entre os dias 3 e 5 de fevereiro o Festival Cultural da China. O evento, que conta com o apoio do governo estadual da Paraíba, terá aulas de dança, pintura facial, oficina de caligrafia e contação de história. Informações aqui. (gratuito, em português)
  • Brasília receberá um grande concerto em celebração ao Ano-Novo Chinês no sábado (21). O evento acontece no Teatro Plínio Marcos, às 20h, e será restrito a convidados, mas a embaixada da China promove um concurso que premiará 20 casais com convites. (gratuito)
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