Entenda por que o Nepal tem tantos acidentes aéreos

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São Paulo

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A queda de um avião no Nepal que matou 72 pessoas no domingo (15) trouxe novamente à tona questionamentos sobre a segurança da aviação no país.

O Nepal tem uma geografia única, com nada menos que 8 dos 10 picos mais altos do mundo. Essa topografia, aliada a ventos fortes das altas altitudes e condições meteorológicas que podem mudar em instantes, torna os voos desafiadores até para pilotos experientes.

Veja um pouco mais sobre isso abaixo e entenda o que já se sabe sobre o acidente mais recente.

Destroços de avião que caiu no Nepal com 72 pessoas a bordo
Destroços de avião que caiu no Nepal com 72 pessoas a bordo - Naresh Giri - 16.jan.23/Reuters

Com céu claro, o bimotor ATR 72 vinha em baixa altitude, próximo de pousar, quando, segundo imagens publicadas nas redes sociais, fez uma curva brusca antes de cair.

Do lado de dentro, um passageiro estaria fazendo uma live; a transmissão dá a entender que os passageiros estavam tranquilos, sem indícios de alarme. A imagem de repente fica distorcida, gritos são ouvidos, então um baque e a tela parada mostra o que parecem ser labaredas.

Os corpos de 71 das 72 pessoas a bordo, incluindo 6 crianças, já foram encontrados —não há esperança de que esse desaparecido esteja com vida.

A organização holandesa Aviation Safety Network aponta que 879 pessoas morreram em acidentes aéreos no Nepal desde 1950, considerando quedas com aeronaves com 12 ou mais pessoas. Ante a malha aérea e o tráfego de aviões do país, analistas dizem que o número é alto.

E por que tantos acidentes acontecem por lá?

1) Capacitação de pilotos e prevenção de acidentes são ruins

À Lá Fora o piloto e investigador de acidentes aéreos Mauricio Pontes aponta questões estruturais no topo da lista. Segundo ele, seja por negligência ou devido à falta de uma cultura de segurança, o país não treina pilotos como deveria e enfrenta problemas mecânicos recorrentes.

Mesmo com o incremento na indústria do turismo, não há uma agência de prevenção e investigação de acidentes ou órgãos para normatizar procedimentos de segurança. É por não atender a requisitos mínimos que companhias nepalesas não podem voar no espaço aéreo da União Europeia, por exemplo.

2) Clima torna voos desafiadores até para pilotos experientes

Em meio ao Himalaia e algumas das montanhas mais altas do mundo, incluindo o Everest, pousos e decolagens são considerados complexos no Nepal —país que tem altitude média de 3.265 metros, atrás apenas do Butão.

  • Com o relevo montanhoso, as pistas são mais curtas, o que reduz a margem de manobra;

  • As condições meteorológicas se tornam instáveis, com mudanças abruptas, como tempestades de neve e perda total de visibilidade, surpreendendo pilotos. Não raro voos precisam retornar ao aeroporto de origem;

  • Em regiões altas, o ar rarefeito e os ventos fortes atrapalham a estabilidade nos pousos e decolagens, momentos em que a velocidade do avião é menor.

A própria Autoridade de Aviação Civil do Nepal chamou a topografia local de "hostil" em relatório de 2019.

  • "Muitas vezes pilotos ficam totalmente dependentes dos equipamentos da aeronave e de orientações do aeroporto. Mas, em alguns locais do Nepal, o suporte e a infraestrutura são precários", diz Pontes.

3) Turismo em alta leva aeronaves ao extremo

A aviação no Nepal se expandiu em parte devido ao aumento de turistas. Nos últimos anos houve até filas para escalar o Everest (!).

Roberto Thiele, engenheiro aeronáutico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) afirma que, com a demanda alta, as aeronaves voam em condições mais próximas dos limites.

  • "Ao mesmo tempo, pilotos voam em condições extremas", diz.

Alguns dos aeroportos do país estão regiões remotas, que servem basicamente para receber suprimentos e alpinistas.

E o que provocou o acidente do domingo? As causas ainda são um mistério. Pokhara, cidade no centro do país onde ocorreu a queda, fica a 850 metros de altitude, não muito diferente, por exemplo, de São Paulo (760 metros).

O céu estava claro, ventava pouco e a aeronave estava longe de montanhas ou vales. O piloto aparentemente não comunicou anormalidades aos passageiros. Mas, segundo a avaliação de Thiele, a aeronave parecia voar mais baixo e lentamente que o normal.

Como estão as investigações? As caixas-pretas foram recuperadas em boas condições. A investigação tem participação de especialistas franceses, porque a aeronave foi fabricada no país —um procedimento padrão nesses casos.

O modelo do avião é seguro? Sim. Comuns também no Brasil, as aeronaves ATR 72 são consideradas modernas e conhecidas pela capacidade de operar em "condições e terrenos difíceis".

Segundo o site FlightRadar24, a aeronave que caiu no Nepal tinha 15 anos e estava equipada com um transponder antigo, mas eventuais problemas ligados à manutenção só poderão ser respondidos pela investigação.

Imagem da semana

Policiais carregam a ativista ambiental na Alemanha
Policiais carregam a ativista ambiental na Alemanha - Federico Gambarini - 17.jan.23/AFP

Onde: Lützerath, na Alemanha

O que aconteceu: A ativista ambiental Greta Thunberg, 20, foi detida durante um protesto contra a expansão de uma mina de carvão; segundo a polícia, ela foi liberada pouco depois de ter a identidade confirmada.

E a guerra?

Uma tragédia aérea também deixou vítimas na Ucrânia. Ao menos 14 pessoas morreram, incluindo o ministro do Interior, Denis Monastirski, na queda de um helicóptero, nos arredores de Kiev nesta quarta (18).

As causas ainda são desconhecidas, mas o governo do país invadido pela Rússia não descarta sabotagem —hipótese que foi reforçada por Volodimir Zelenski em videoconferência no Fórum Econômico Mundial, em Davos.

Funcionários de resgate trabalham em área onde helicóptero com o ministro do Interior da Ucrânia caiu em Brovari, próximo a um jardim de infância - Valentin Oguirenko - 18.jan.23/Reuters

O veículo atingiu um jardim de infância, e ao menos uma das vítimas é uma criança que estava em solo. Outras 29 pessoas ficaram feridas, 15 alunos da escola.

O incidente aconteceu após outra ação atingir civis. No sábado (14), um míssil atribuído à Rússia destruiu um prédio residencial em Dnipro, matando 45 pessoas. No front, combates continuam violentos em Bakhmut, na província de Donetsk, uma das que foram anexadas ilegalmente por Vladimir Putin em setembro.

O QUE ACONTECEU?

Uma seleção de notícias para entender o mundo

Oceania

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, anunciou que deixará o posto até o próximo dia 7 de fevereiro. O país terá eleições gerais em 14 de outubro. "Eu sei o que esse trabalho exige. E sei que não tenho mais a energia necessária para fazê-lo da melhor forma", afirmou.

Ásia

A jornalista filipina Maria Ressa, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2021, foi absolvida de acusações de evasão fiscal feitas pelo governo do ex-presidente Rodrigo Duterte. Crítica do político populista, ela enfrenta nos tribunais uma série de ações movidas por autoridades relacionadas à sua atuação profissional.

África

O regime militar que comanda Burkina Fasso afirmou que cerca de 50 mulheres foram sequestradas por grupos islâmicos radicais na província de Soum. O sequestro em massa é o primeiro registrado no país africano desde que a violência de grupos jihadistas se espalhou pelo território a partir de 2015.

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