Descrição de chapéu BBC News Brasil

Quem era Tyre Nichols, jovem negro agredido e morto por policiais nos EUA

Pai de criança de quatro anos, ele tinha nome da mãe tatuado, amava andar de skate e trabalhava para correio local

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Oliver Slow
BBC NEWS

A família de Tyre Nichols, homem negro que morreu após ser agredido por policiais do Tennessee, nos Estados Unidos, o descreve como uma "alma linda", apaixonada por skate, pôr do sol e fotografia.

"Ninguém é perfeito, mas ele chegou perto", diz a mãe, RowVaughn Wells, em uma entrevista coletiva ao lado de familiares e apoiadores. Nichols foi brutalmente agredido por policiais em 7 de janeiro, quando o carro dele foi parado pos agentes. Imagens gravadas pelas câmeras nos uniformes dos policiais mostram o jovem chorando e chamando pela mãe enquanto era socado e chutado múltiplas vezes.

Nichols é um homem negro e está com um boné preto para trás, uma camisa amarela e faz uma foto em frente a um espelho.
Pai de uma criança de quatro anos, Nichols tinha o nome da mãe tatuado no braço. Uma de suas paixões era andar de skate - Reuters

Ele foi hospitalizado e morreu três dias depois, em 10 de janeiro. Agora que as imagens vieram à tona, a morte do jovem tem causado grande revolta nos EUA. Os policiais inicialmente disseram que pararam o carro de Nichols porque ele estaria dirigindo de maneira imprudente, mas a acusação não foi comprovada.

Wells, visivelmente triste, abriu um sorriso raro ao descrever seu filho. Nichols trabalhava para o serviço postal FedEx e tinha um filho de quatro anos. O amor que sentia pela mãe era visível na tatuagem que tinha no braço com nome dela. "Isso me deixava orgulhosa", diz ela.

Nichols, 29, adorava andar de skate, uma paixão que tinha desde os seis anos de idade. Sua atividade favorita era ir ao parque local para praticar.

O padrasto, Rodney Wells, diz que recentemente brincou com o enteado dizendo que ele estava velho demais para andar de skate. "Você tem que largar o skate. Você tem um emprego em tempo integral agora", ele se lembra de ter dito. "Ele olhou para mim como quem diz 'até parece', porque essa era a paixão dele."

Adorava tirar fotos

Nichols também tinha paixão por fotografia e pôr do sol. A mãe disse que todas as noites ele ia ao Shelby Farms Park, nos arredores de Memphis, para assistir ao pôr do sol e tirar fotos.

Nichols morreu dias depois de ser parado pelos agentes. Cinco policiais agora demitidos que, como a vítima, são negros, estão enfrentando acusações de assassinato.

A mãe de Nichols falou sobre a dor que a família está sentindo desde a morte dele. "Tudo o que sei é que meu filho não está mais aqui comigo. Ele não vai passar por aquela porta novamente."

"Ele nunca mais vai entrar e dizer 'olá mãe e pai', porque é isso que ele faria. Nunca mais vou ouvir isso", diz Wells, acrescentando que vai lutar incansavelmente por justiça, porque "nenhum filho merece isso".

O padrasto de Nichols descreveu seu enteado como "um bom garoto" que era o bebê da família —ele tinha dois irmãos mais velhos e uma irmã mais velha. "Eu era o padrasto de Tyre, mas era como se fosse meu filho", diz ele sobre o relacionamento dos dois. Nichols e o padrasto também trabalharam juntos na FedEx, onde o jovem era funcionários havia nove meses.

O padrasto disse que assistiu ao vídeo da abordagem policial, descrevendo-o como "horrível" e algo que "nenhum pai, nenhuma mãe deveria testemunhar".

Ele disse que a família faria tudo o que pudesse para buscar justiça, mas pediu que os protestos em nome de Nichols sejam pacíficos, sem danos ou saques. "Isso não é o que Tyre gostaria e isso não vai trazê-lo de volta."

A brutalidade das agressões

Vídeos revelados na noite de sexta-feira (27) mostram cinco policiais se revezando para chutar e socar brutalmente Tyre Nichols. Enquanto isso, o jovem aparece chorando e chamando repetidamente pela mãe.

As imagens mostram ainda policiais gritando palavrões e espancando o funcionário da FedEx por cerca de três minutos. Ao todo, os quatro vídeos divulgados pelo Departamento de Polícia de Memphis ultrapassam uma hora de filmagem.

Cinco policiais negros lado a lado em montagem fotográfica.
Da esquerda para a direita: Demetrius Haley, Desmond Mills, Jr, Emmitt Martin III, Justin Smith e Tadarrius Bean - Memphis Police

Protestos em Memphis e em outras cidades americanas estão ocorrendo desde sexta-feira.

A mãe de Nichols, RowVaughn Wells, disse que seu filho estava a apenas 70 metros de casa quando foi espancado. Os advogados da família estão comparando o caso ao de Rodney King, espancado por policiais depois de ter sido parado no trânsito em Los Angeles, em 1991. King sobreviveu, se tornou escritor e morreu em 2012.

A polícia disse inicialmente que Nichols havia sido parado por suspeita de direção imprudente, o que não foi comprovado. Os cinco policiais —Tadarrius Bean, Demetrius Haley, Desmond Mills Jr, Emmitt Martin III e Justin Smith— foram demitidos na semana passada.

Eles foram levados sob custódia na quinta-feira (26). Quatro dos cinco pagaram fiança e foram libertados na manhã de sexta. Cada um enfrenta acusações de assassinato em segundo grau, agressão agravada, má conduta oficial e opressão oficial.

Os advogados de Martin e Mills disseram que seus clientes se declararão inocentes. A diretora da polícia de Memphis, Cerelyn Davis, descreveu as ações dos policiais como "hediondas, imprudentes e desumanas".

O presidente dos EUA, Joe Biden, declarou em um comunicado: "Como muitos, fiquei indignado e profundamente triste ao ver o horrível vídeo do espancamento que resultou na morte de Tyre Nichols".

Essa reportagem originalmente publicada aqui.

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