Descrição de chapéu Rússia

Ato em defesa de feriado reúne milhares de pessoas na Dinamarca

Organizadores falam em 50 mil presentes; governo propôs abolir data festiva para turbinar gastos com defesa

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Copenhague | Reuters e AFP

Dezenas de milhares de pessoas se reuniram na tarde deste domingo (5) em Copenhague, capital da Dinamarca, para protestar contra um projeto de lei do governo que pretende aumentar a arrecadação e incrementar os gastos de defesa. Pelo texto, o meio para garantir isso seria abolir um dos feriados do país, garantindo as receitas com impostos e a atividade econômica de um dia útil.

O ato foi convocado pela maior central sindical dinamarquesa, que estimou o público presente em 50 mil pessoas —a cidade tem 600 mil habitantes. Segundo a agência de notícias Reuters, isso faria da manifestação a maior do país em mais de uma década. A polícia e o governo, por sua vez, não fizeram um cálculo do tipo.

A primeira-ministra Mette Frederiksen apresentou o projeto em dezembro para eliminar o feriado luterano chamado de "Store Bededag" ou Grande Dia de Oração. A data, que cai na quarta sexta-feira depois da Páscoa (neste ano, em 5 de maio), é celebrada desde 1686.

Ato em defesa de feriado em Copenhague, na Dinamarca - Emil Helms - 5.fev.23/Ritzau Scanpix/Reuters

Além dos sindicatos, a oposição, os bispos e até membros dos partidos que compõem a coalizão do governo criticaram a ideia, que foi debatida pela primeira vez no Congresso nesta semana —há mais duas rodadas de discussões, em datas a definir. A Dinamarca possui hoje 11 feriados nacionais, o mesmo número do Brasil.

Por trás da proposta de Frederiksen está um aumento da arrecadação federal que permita incrementar os gastos de defesa em meio à Guerra da Ucrânia. Na Conferência de Riga de 2006, a Otan, a aliança militar ocidental, estabeleceu que países-membros deveriam reservar 2% de seu PIB para gastos militares, mas esse patamar raramente é atingido e nunca foi seguido por todos os 30 membros do grupo.

Frederiksen quer antecipar em três anos, para 2030, a meta de atingir os 2% do PIB, e é nesse contexto que entra a proposta de acabar com o Grande Dia de Oração. No ano passado, o orçamento de defesa do país foi de cerca € 3,5 bilhões, 1% do PIB.

Pelos cálculos oficiais, o cancelamento do feriado, colocando indústria, comércio e serviços em atividade, geraria até € 400 milhões (R$ 2,2 bilhões) a mais para o governo —uma ajuda, mas nem de longe o suficiente, para que o gasto militar chegue aos € 7 bilhões que a Otan gostaria.

A primeira-ministra defende também, depois de ter passado por uma crise política, reformas abrangentes para lidar com o modelo de bem-estar social do país. Frederiksen promete levar em frente a ideia mesmo ante oposição geral, usando a frágil maioria de sua coalizão no Parlamento para fazer avançar o projeto.

"Normalmente essas medidas são discutidas com a classe trabalhadora, mas agora esse modelo está prestes a ser atropelado. Estamos protestando para que, com sorte, nos façamos ouvir", disse à Reuters o encanador Stig De Blanck, 63, no ato em frente ao Parlamento em Copenhague.

À AFP Lizette Risgaard, líder da FH, uma das entidades que organizaram a manifestação, que conta com 1,3 milhão de filiados no país, classificou a proposta de totalmente injusta. "Na próxima vez que o Parlamento disser que é necessário mais dinheiro eles vão eliminar outro feriado ou algum domingo?", disse.

"Não acredito que o dinheiro para a guerra sirva para fazer a paz", afirmou Kurt Frederiksen, chefe do ramo de hotéis e restaurantes, filiado à central sindical 3F.

Economistas questionam o impacto a médio e longo prazo do fim do feriado na arrecadação, afirmando que sindicatos e trabalhadores encontrariam maneiras de ajustar a carga horária de qualquer forma. Segundo dados da OCDE, os dinamarqueses trabalham uma média de horas menor na comparação com outros europeus.

Ato foi chamado pela maior central sindical do país, que é contra a proposta - Emil Helms - 5.fev.23/Ritzau Scanpix/Reuters
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