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BBC é alvo da Receita Federal na Índia após documentário sobre Modi ser censurado

Oposição e imprensa acusam governo de usar órgão como fachada para retaliação contra rede britânica

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São Paulo

A Receita Federal da Índia realizou uma operação nos escritórios da rede britânica BBC no país nesta terça (14) por suspeitas de evasão fiscal. Segundo funcionários, eles foram impedidos de entrar e sair dos edifícios da empresa em Nova Déli e Mumbai, e telefones e documentos de jornalistas foram confiscados.

O episódio ocorre semanas após o governo censurar um documentário sobre o premiê Narendra Modi.

Policiais diante de prédio que abriga escritórios da BBC em Nova Déli, na Índia, alvo de uma operação de busca e apreensão pela Receita Federal
Policiais diante de prédio que abriga escritórios da BBC em Nova Déli, na Índia, alvo de uma operação de busca e apreensão pela Receita Federal - Anushree Fadnavis/Reuters

Intitulada "Índia: A Questão Modi", a produção da BBC questiona o papel do líder nos distúrbios de Gujarat, em 2002, devido a um documento que comprovaria que ele pediu à polícia para não intervir em agressões a muçulmanos. A onda de violência deixou ao menos mil mortos, a maioria membros da minoria islâmica.

Modi é frequentemente acusado de promover uma agenda nacionalista hindu, religião majoritária na Índia, incitando hostilidades e aprovando medidas que afetam muçulmanos de maneira desproporcional.

O governo chamou o documentário de uma "peça de propaganda" criada para reforçar uma "mentalidade colonial" e ressaltou que a Suprema Corte julgou Modi inocente de todas as acusações em 2012.

Embora a produção não tenha sido exibida na BBC Índia, o governo indiano recorreu a leis de bloqueio de informação vigentes desde 2021 para censurar links para o documentário no YouTube e no Twitter —as plataformas cumpriram as ordens. Em comunicado, a BBC afirmou estar "cooperando totalmente" com as autoridades indianas e disse esperar que a situação se resolva rapidamente.

A Receita Federal do país não respondeu a pedidos de comentário das agências de notícias AFP e Reuters. Mas o partido de Modi, o Bharatiya Janata (BJP), afirmou em nota que as instituições indianas são independentes e que a Receita Federal trabalha "dentro dos limites da lei".

Após as buscas, Gaurav Bhatia, porta-voz da sigla, descreveu a emissora britânica centenária como a "organização mais corrupta do mundo", segundo o jornal The Guardian. Já representantes da imprensa e da oposição acusaram o governo de usar a Receita como fachada para exercer mais censura.

O Sindicato dos Editores Indianos disse estar preocupado com a visita do órgão à emissora, uma vez que ele teria realizado operações semelhantes em veículos como NewsClick, Newslaundry, Dainik Bhaskar e Bharat Samachar em 2021 depois que eles fizeram coberturas críticas ao governo.

"É doloroso assistir ao uso contínuo de agências do governo para intimidar e assediar organizações jornalísticas que criticam o establishment", afirmou o sindicato em nota.

O parlamentar K.C. Venugopal, do maior partido de oposição no Congresso, o Congresso Nacional Indiano, afirmou que a atitude é "ditatorial" e não pode persistir.

A BBC tem estado sob escrutínio do governo desde o lançamento do documentário e chegou a ser alvo de uma petição enviada ao Supremo Tribunal para que fosse banida do país —o pedido foi indeferido.

Assim, a rede se junta a uma lista de organizações vítimas de um Estado crescentemente autoritário. A sede local da ONG Anistia Internacional, por exemplo, que vinha publicando uma série de relatórios sobre a erosão dos direitos humanos e da liberdade de expressão no país asiático, teve suas contas congeladas por uma agência governamental e acabou encerrando suas atividades no país.

Com AFP e Reuters

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