Em movimento inesperado, o papa Francisco se reuniu nesta quinta (9) com o cardeal Angelo Becciu, investigado em um caso de corrupção pelo qual foi afastado do cargo e destituído de seus privilégios canônicos em setembro de 2020.
Embora esse não seja o primeiro encontro entre o pontífice e o cardeal desde o afastamento, antes desta quinta nenhum dos compromissos havia sido divulgado na agenda oficial de reuniões privadas do papa com autoridades.
A chancela oficial do encontro levanta especulações na imprensa local de que uma reaproximação entre os dois e a eventual reabilitação do cardeal estejam em marcha.
Antes da punição dada por Francisco, Becciu era conselheiro do pontífice e um poderoso cardeal do Vaticano, onde foi vice-secretário de Estado de 2011 a 2018 e chefe do departamento que avalia potenciais candidatos à santificação, de 2018 até sua demissão.
Quando foi afastado, Becciu perdeu, entre outros privilégios, o direito de participar do conclave que escolherá o próximo papa quando Francisco morrer ou renunciar ao posto.
À época da descoberta do escândalo, em 2020, o pontífice emitiu decreto para aumentar a transparência de fundos de caridade, em movimento que apertou o controle sobre as finanças do Vaticano, de responsabilidade principalmente da Secretaria de Estado, onde Becciu trabalhou.
Na investigação, o cardeal e mais nove pessoas são acusadas de corrupção no caso da compra de um imóvel de luxo em Londres. Ele e todos os investigados, incluindo funcionários do Vaticano, negam as acusações.
Em uma das audiências do caso, em novembro do ano passado, o Tribunal do Vaticano revelou áudio de uma conversa telefônica na qual Becciu gravou Francisco sem o consentimento do pontífice e tentou induzi-lo a confirmar a aprovação de movimentações financeiras.
Embora a gravação não tenha sido tornada pública, advogados presentes disseram que o cardeal pediu a Francisco a confirmação de que havia autorizado um pagamento de € 500 mil (R$ 2,78 milhões) para libertação de uma freira sequestrada no Mali. O pontífice teria respondido que se lembrava vagamente e pedido que o questionamento fosse enviado por escrito.
Em maio do ano passado, em fase anterior do processo, Becciu disse ao tribunal que Francisco aprovou gastos de até € 1 milhão (R$ 5,56 milhões) para libertar a missionária Gloria Cecilia Narvaez —sequestrada pelo movimento jihadista malinês Frente de Libertação de Macina em 2017 e solta em 2021. O caso remete a 2018, quando Becciu contratou Cecilia Marogna, uma autodenominada analista de segurança, para operar o resgate.
Marogna recebeu € 575 mil (R$ 3,23 milhões) da Secretaria de Estado, departamento mais importante do Vaticano, em 2018 e 2019 —época em que Becciu estava no cargo. O dinheiro foi enviado para uma empresa fundada por ela na Eslovênia e, posteriormente, parte dos recursos foi usada por ela para compras de luxo, segundo a polícia. Marogna é corré no processo, acusada de desvio de dinheiro.
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