Pentágono detecta 2º balão da China no céu da América Latina

Anúncio é feito após objeto no espaço aéreo americano aumentar tensões entre Washington e Pequim

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São Paulo

O Pentágono informou na noite desta sexta-feira (3) que um segundo balão de alta altitude da China foi detectado sobrevoando a América Latina. Não se sabe sobre qual país o objeto está localizado.

"Avaliamos que é outro balão de vigilância chinês", disse à CNN americana o porta-voz do Departamento de Defesa, Pat Ryder, acrescentando que o artefato não parecia se dirigir aos EUA.

Balão chinês sobrevoa a cidade de Billings, no estado de Montana, nos Estados Unidos
Balão chinês sobrevoa a cidade de Billings, no estado de Montana, nos Estados Unidos - Chase Doak via Reuters

Mais cedo, a descoberta do primeiro balão, este no espaço aéreo americano, aumentou as tensões entre os EUA e a China. Washington afirma que o objeto seria um instrumento de espionagem, enquanto Pequim diz ser um equipamento de pesquisas, sobretudo meteorológicas, que saiu da rota.

O anúncio levou o governo dos EUA a adiar a visita que o chefe da diplomacia americana, o secretário de Estado, Antony Blinken, faria a Pequim. Ele deveria se encontrar com o líder do regime chinês, Xi Jinping, numa tentativa de avançar no apaziguamento das tensões entre as duas maiores potências mundiais.

Na tarde deste sábado, a agência de aviação dos EUA anunciou o fechamento de ao menos três aeroportos na Carolina do Sul, interrompendo voos civis no espaço aéreo no entorno desses terminais, citando um "esforço de segurança nacional".

Em comunicado, a FAA alertou que os militares podem agir se aeronaves violarem as restrições ou não atenderem a ordem de se afastar. Segundo a agência Reuters, a medida indica a possibilidade de uma ação para abater o balão. O presidente Joe Biden afirmou que o país iria "se encarregar" do caso.

O primeiro balão foi avistado pela primeira vez no Alasca, antes de passar pelo Canadá e entrar outra vez no espaço aéreo americano. Na quarta, o objeto sobrevoou Billings, no estado de Montana, onde fica uma base militar com silos de mísseis balísticos intercontinentais. Washington decidiu não derrubar o balão sob o argumento de que o item tem capacidade limitada de coleta de informações e seus destroços poderiam cair sobre áreas civis. O artefato teria o tamanho de três ônibus.

Pequim tentou esfriar a situação ao dizer que o balão era um veículo para pesquisas que se desviou de seu trajeto inicial em razão de ventos. Segundo o serviço de previsão meteorológica AccuWeather, o objeto está a caminho do oceano Atlântico e deve sair do espaço aéreo americano na noite deste sábado (4).

O caso gerou críticas de políticos republicanos. McCarthy, o presidente da Câmara, definiu o balão como um exemplo da "afronta descarada da China sobre a soberania americana", argumento ecoado por outros congressistas da mesma legenda. Ele afirmou que pediria a realização de um briefing de segurança nacional sobre a situação para um grupo seleto de membros das duas Casas.

O presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, Michael McCaul, também do Partido Republicano, disse que o balão nunca deveria ter sido permitido no espaço aéreo americano e que o artefato poderia ter sido abatido sobre a água. "Peço ao governo Biden que tome medidas rápidas para remover o balão chinês do espaço aéreo dos EUA", disse em comunicado.

A descoberta ainda confundiu especialistas em segurança, que afirmam que, embora ambos os países tenham usado satélites para se vigiarem mutuamente, balões soam como uma tática de espionagem algo amadora. Afinal, as imagens que eles conseguem produzir não são muito mais valiosas em termos de informações do que aquelas produzidas do espaço.

Alguns analistas defendem, no entanto, que o artefato era na realidade uma provocação política —é o caso de Dean Cheng, consultor-sênior do Instituto da Paz, nos EUA. "Essa é uma forma de testar como o outro lado responde, não militar mas politicamente", disse ele em entrevista à Reuters.

Cheng acrescentou que a informação da Casa Branca de que este não foi o primeiro balão chinês a ser detectado no espaço aéreo americano só suscita mais perguntas. "O que houve com os balões anteriores? Nós os derrubamos?".

O clima entre EUA e China já era de tensão antes mesmo da revelação do artefato. Na quinta, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, anunciou em Manila um acordo para que os americanos possam usar mais quatro bases militares nas Filipinas, expandindo a presença no mar do Sul da China, região reivindicada por Pequim.

Outro ponto de conflitos é o plano do novo presidente da Câmara dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, de visitar Taiwan ainda neste ano, repetindo gesto de agosto do ano passado de sua antecessora democrata, Nancy Pelosi, o que intensificou a crise nas relações entre os dois países.

Na semana passada, um documento havia sido estrategicamente vazado com a previsão de uma guerra entre as duas potências, feita pelo general Mike Minihan, chefe do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA e secundado pelo deputado Michael McCaul, presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara.

Autoridades de defesa dos EUA afirmam que não é a primeira vez que balões deste tipo são avistados no país, mas que dessa vez o tempo de permanência do objeto é mais longo que em outras oportunidades. Esse tipo de instrumento foi bastante utilizado durante a Guerra Fria pela União Soviética e pelos próprios americanos, que tentavam monitorar testes nucleares dos soviéticos principalmente na década de 1950.

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