Descrição de chapéu China

China discute microchips, economia e poder em principal evento do governo

Edição da newsletter analisa temas das Duas Sessões, que começam neste sábado (4) e definem agenda do governo chinês

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Igor Patrick
Washington

Esta é a edição da newsletter China, terra do meio. Quer recebê-la todas as sextas no seu email? Inscreva-se abaixo.

Começam neste sábado (4) as chamadas Duas Sessões, evento mais importante no calendário político chinês. Delegados enviados de todas as partes do país chegarão a Pequim para definir a agenda governamental deste ano e legislar sobre temas urgentes para a política e a economia.

Na coluna da semana passada na Folha, expliquei um pouco sobre o que é a reunião e quais devem ser os principais destaques. Com a data se aproximando, já é possível dizer a quais pontos o Partido Comunista deverá dar atenção em 2023. Destaco três:

Microchips: diante das investidas dos EUA e da dependência global de Taiwan para produção dos semicondutores, observadores prevêem que boa parte das reuniões legislativas neste ano se concentrará na questão da autossuficiência tecnológica.

  • Para acelerar o crescimento econômico pós-Covid zero, espera-se que o governo anuncie fundos para financiamento de pesquisas na área, além de linhas de crédito para investimento em pessoal e de medidas de desburocratização imigratória para atrair talentos estrangeiros;

Reunião final das Duas Sessões, no Grande Salão do Povo, em Pequim, na China - Ju Peng - 10.mar.22/Xinhua

Mercado imobiliário: considerado um dos setores mais estratégicos na economia chinesa, demandará políticas agressivas para se recuperar. Com a crise de liquidez desencadeada pela incorporadora Evergrande, o volume de vendas de espaços residenciais caiu quase 27% no ano passado, enquanto o valor das propriedades e terrenos diminuiu 28%, e o investimento minguou em 10%.

  • O problema é multifacetado e certamente não será resolvido apenas durante as Duas Sessões, mas a expectativa é de novas legislações para conter o sangramento imediato antes de pensar em estratégias para reaquecer o mercado;

Poder: boa parte do encontro em 2023 deve se dedicar à confirmação de indicados pelo Partido Comunista no ano passado a cargos de liderança no país, caso do próprio Xi Jinping, reeleito para um terceiro mandato, vale ficar de olho em quem vai ocupar cargos ministeriais e presidências de comitês e conselhos internos.

Por que importa: após a renovação dos quadros comunistas realizada no Congresso Nacional do Partido, as Duas Sessões do ano seguinte geralmente funcionam mais como uma transição legislativa do que como fórum para grandes anúncios. A quantidade de desafios neste ano —retomada econômica após quase três anos de crescimento baixo, Guerra da Ucrânia e rusgas com os EUA—, porém, torna o evento de 2023 incomum.

Pare para ver

Ilustração da artista sichuanesa Evelyn Taocheng Wang, 'Ornitorrinco sem nome, divisionismo, ploretariado'
Ilustração da artista sichuanesa Evelyn Taocheng Wang, 'Ornitorrinco sem nome, divisionismo, ploretariado' - Reprodução

o que também importa

★ A China perdeu espaço entre os principais destinos de investimentos de empresas americanas. Segundo levantamento da Câmara Americana de Comércio, o país é prioridade para 45% das empresas associadas, ante 60% no ano passado. A incerteza com o ambiente político, as dúvidas quanto à possível melhora na relação sino-americana e a expectativa de crescimento baixo são as principais causas apontadas pelos gestores.

★ O governo chinês deve anunciar uma meta de crescimento do PIB para algo em torno de 5% neste ano, avaliaram especialistas à rede NBC. A decisão deve ser anunciada no domingo (5). O PIB de 2022 cresceu 3% —abaixo dos 5,5% projetados pelo governo. A expectativa é que melhoras no mercado imobiliário e o fim das restrições da Covid zero tragam algum alívio para a economia. O mercado também espera um pacote de estímulos governamentais para ajudar setores combalidos pela pandemia.

★ País enfrenta um grande volume de casos de gripe. Dados do Centro Nacional de Influenza chinês mostram que os registros triplicaram nas últimas duas semanas de fevereiro, chegando ao recorde de 112 diários, 99% dos quais de influenza. Autoridades atribuem o aumento à queda na imunidade coletiva e ao crescimento na mobilidade após o fim das restrições previstas na Covid zero. Não há mortes registradas até o momento.

★ Canadá vai banir o uso do TikTok em dispositivos móveis usados pelo governo. O premiê canadense, Justin Trudeau, também não descartou medidas adicionais, como o bloqueio permanente do app para toda a população. O país seguiu o exemplo da Europa e dos EUA, que defendem que o TikTok, da chinesa ByteDance, pode conter brechas que permitam a Pequim acessar dados de usuários estrangeiros. A empresa nega.

fique de olho

O diretor do FBI, Chris Wray, disse na terça-feira que Pequim impediu os esforços dos EUA e de outros países para investigar as origens do coronavírus .

À Fox News Wray declarou que a China "tem feito o possível para tentar frustrar e ofuscar o trabalho" de investigação e que os agentes têm "confiança moderada" na hipótese de que os primeiros casos do vírus aconteceram após vazamentos em um laboratório de Wuhan.

A China não respondeu às acusações até o momento.

No início da semana, o Departamento de Energia declarou ter mudado sua avaliação: se antes não havia consenso na pasta, agora oficiais passaram a defender que o vírus provavelmente começou a circular depois de escapar de um laboratório de biossegurança. Ainda assim, tanto o FBI quanto o Departamento de Energia seguem defendendo que o patógeno é um produto da natureza e não foi criado ou alterado em laboratório.

Por que importa: embora a teoria de vazamento do Sars-CoV-2 esteja longe de ser unanimidade na comunidade de inteligência americana, esta foi a segunda declaração vinda de um órgão oficial dos EUA insistindo no tema. A China acusa Washington de querer politizar a questão e tem negado consistentemente as alegações.

para ir a fundo

  • O China Project reconta nesta incrível reportagem o breve momento na história em que Taiwan controlou a China continental no auge da Guerra Civil chinesa. (gratuito, em inglês)
  • O South China Morning Post publicou uma detalhada reportagem relatando como gigantes do setor automotivo asiático, como Nissan e Toyota, perderam espaço no mercado de carros elétricos para a chinesa BYD, que tem fábrica em Campinas. (paywall poroso, em inglês)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.