Erdogan reafirma data de eleição na Turquia em meio a temor de escalada autoritária

Presidente havia adiantado pleito de junho para maio, mas terremoto lançou dúvidas sobre decisão

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Ancara | Reuters

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, indicou nesta quarta-feira (1º) que as eleições gerais no país ocorrerão no dia 14 de maio, como ele havia anunciado antes dos terremotos ocorridos em fevereiro.

A fala acontece em meio a temores de que a devastação causada pelos sismos fosse usada como justificativa para medidas autoritárias do governo e uma possível mudança na data do pleito.

"Esta nação fará o que é preciso no dia 14 de maio, se Deus quiser", afirmou Erdogan a parlamentares do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), a legenda do presidente, sem mencionar as eleições.

No final de janeiro, pouco antes dos terremotos, o presidente havia anunciado que o pleito ocorreria em 14 de maio, em vez de 18 de junho. Os tremores, porém, jogaram uma sombra sobre a decisão, o que resultou em declarações ambíguas de autoridades e aliados de Erdogan sobre qual seria a data.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante discurso ao Parlamento, em Ancara
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante discurso ao Parlamento, em Ancara - Murat Cetinmuhurdar - 1º.mar.23/Presidência da Turquia via Reuters

Há dúvidas, por exemplo, se as autoridades eleitorais serão capazes de organizar o pleito nas áreas mais atingidas pelos sismos, pouco mais de três meses depois da catástrofe que deixou mais de 45 mil mortos apenas na Turquia, segundo atualização divulgada nesta quarta-feira.

Após os tremores, Erdogan decretou estado de emergência por três meses nas dez províncias atingidas e criticou rivais ao anunciar a medida. O recado foi visto como indicativo de que gestos autoritários poderiam ser tomados, a começar pela data do pleito, mas também em eventual derrota nas urnas.

Erdogan foi bastante criticado pela resposta aos terremotos, algo que aprofundou a insatisfação da população com o governo, que já vinha de um cenário recente de inflação e perda de valor da lira com fortes impactos no custo de vida. Em outubro, a inflação anual atingiu 85,5%, o maior índice em 25 anos.

Além da demora no resgate e em providenciar assistência aos sobreviventes e desabrigados, foram ressaltadas falhas de planejamento urbano no país como um todo e construções irregulares e de má qualidade, anistiadas pelo governo em 2018, pouco antes das eleições daquele ano.

Nesta semana, o presidente pediu desculpas à população de Adiyaman, no sudeste do país, pelo atraso das equipes de resgate para chegar aos locais que precisavam de assistência. "Vamos erguer construções melhores no lugar das que desabaram. Vamos ganhar corações e abrir um novo futuro para nosso povo", disse ele nesta quarta, que acompanhou um vídeo mostrando ações de sua gestão após o desastre.

Há 20 anos no poder, Erdogan se tornou primeiro-ministro em 2003, na esteira de crise econômica e grande insatisfação popular com partidos no poder —algo que beneficiou sua legenda—, depois de um terremoto de magnitude 7,6 matar mais de 17 mil pessoas no país. Hoje, o líder turco tenta se desvencilhar de comparações entre os cenários políticos em torno dos dois sismos.

"Todos aqui votam no AKP instintivamente, mas a assistência chegou muito tarde aqui. As pessoas estão pensando duas vezes [em quem votar]", afirmou à agência de notícias Reuters o dono de um mercado na cidade de Narli, a 20 quilômetros do epicentro de um dos tremores do mês passado.

Pesquisas de intenção de voto indicam que a disputa atual será apertada, no maior teste para o presidente turco desde que chegou ao poder. Em 2017, Erdogan alterou a Constituição para mudar o sistema parlamentarista para presidencialista, e analistas afirmam que a medida abriu a possibilidade para que o líder emitisse decretos e regulasse ministérios, entre outras ações.

Erdogan também é acusado por críticos e opositores de enfraquecer a independência do Judiciário, corroer a liberdade de imprensa e enfraquecer o respeito aos direitos humanos na Turquia.

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