Descrição de chapéu União Europeia greve

Greve ampla na Alemanha afeta aeroportos e ferrovias

Associação de aeroportos estima que 380 mil passageiros foram prejudicados por suspensões de voos

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Berlim | AFP e Reuters

A Alemanha se juntou nesta segunda-feira (27) aos países europeus que têm enfrentado grandes greves.

Os trabalhadores dos aeroportos e das empresas que administram as rodovias e os transportes locais iniciaram à meia-noite (19h de domingo, no horário de Brasília) uma paralisação de 24 horas, em um movimento de alcance incomum para o país.

Em Hamburgo, manifestante segura cartaz em que se lê 'Nancy (Feser, ministra do Interior da Alemanha), nos dê o dinheiro' - Fabian Bimmer - 27.mar.23/Reuters

As mobilizações acontecem em meio às crescentes tensões sociais na Alemanha, onde as greves que exigem aumentos salariais se multiplicaram desde o início do ano —das escolas aos hospitais, passando pelos serviços postais.

Quase 30 mil trabalhadores do setor ferroviário aderiram à paralisação, segundo o sindicato EVG, e o tráfego de longa distância foi suspenso, assim como as linhas regionais, de acordo com a empresa de transporte Deutsche Bahn. Funcionários com jaquetas amarelas, vermelhas e laranjas tocaram buzinas e ergueram faixas durante os protestos.

A Associação de Aeroportos Alemã (ADV) estimou que 380 mil passageiros foram afetados por suspensões de voos. Somente em Frankfurt, onde está o mais movimentado aeroporto do país, foram cancelados quase 1.200 voos para 160 mil passageiros.

Em cidades como Colônia, a falta de trens urbanos provocou uma corrida aos táxis. "Milhões de passageiros que dependem de ônibus e trens estão sofrendo com essa greve exagerada", disse um porta-voz da Deutsche Bahn nesta segunda.

Países próximos da Alemanha passam (ou passaram recentemente) por situações semelhantes. A França tem enfrentado paralisações neste ano contra a reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron. O Reino Unido, por sua vez, tem vivido a pior onda de paralisações trabalhistas desde a década de 1980 —em fevereiro, dezenas de milhares de enfermeiros e paramédicos realizaram a maior greve nos 75 anos de história do NHS, o sistema de saúde público britânico.

Ao contrário de outros países europeus, porém, um movimento conjunto entre os sindicatos alemães EVG e Ver.di, que representam respectivamente 230 mil trabalhadores ferroviários e 2,5 milhões de trabalhadores do setor de serviços, é raro.

Os empregadores ofereceram um aumento de 5% nos salários em um período de 27 meses em um pagamento único de € 2.500 (R$ 14,2 mil). Mas os sindicatos, que pedem aumento de dois dígitos, consideram a proposta inaceitável em razão da inflação, que atingiu 9,3% em fevereiro.

"Os funcionários estão cansados de serem enganados com palavras amigáveis enquanto as condições de trabalho pioram e há cargos vagos", disse o presidente do Ver.di, Frank Werneke.

O terreno é cada vez mais propício para greves na Alemanha, que parece se afastar da cultura de consenso entre sindicatos e empregadores.

A maior economia da Europa foi fortemente atingida pela Guerra da Ucrânia, que completou um ano no final de fevereiro. O país dependia da Rússia para obter gás antes do conflito e foi impactado pelos preços do serviço, levando a taxas de inflação superiores à média da zona do euro nos últimos meses.

Além disso, a crescente escassez de mão de obra dá aos sindicatos força na negociação, de acordo com os economistas. "Houve mais greves na Alemanha nos últimos dez anos do que nas décadas anteriores", afirma Karl Brenke, especialista do instituto econômico DIW, à agência de notícias AFP.

Os salários reais do país aumentaram sistematicamente de 2014 a 2021, após uma década marcada pela política de moderação salarial da época do ex-chanceler Gerhard Schröder (1998-2005), em nome da competitividade. A tendência foi interrompida em 2020, por causa da pandemia de Covid-19, e inverteu com a inflação de 2022, com queda de 3,1%.

"O preço do combustível e da comida aumentou, meu bolso sentiu", disse à AFP Timo Stau, 21, em uma manifestação na Friedrichstrasse, avenida emblemática de Berlim.

O economista-chefe do Commerzbank, Joerg Kraemer, calculou o impacto econômico da greve desta segunda em € 181 milhões (R$ 1 bilhão). "As perdas provavelmente serão limitadas para o setor de transporte porque as fábricas continuarão operando e muitos funcionários trabalharão em casa", afirmou à agência de notícias Reuters. O cenário pode mudar, porém, se as paralisações se estenderem.

Na semana passada, o chefe do Banco Central da Alemanha, Joachim Nagel, disse que o país precisa evitar uma espiral desestabilizadora de preços e salários. "Impedir que a inflação se torne persistente exige que os funcionários aceitem ganhos salariais sensatos e que as empresas aceitem margens de lucro sensatas", disse ele.

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